QUATRO

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Quinta-feira. 46 dias para o fim do prazo

*Aurora

Meu celular vibrou com uma mensagem de Daniel. Interrompi a leitura do meu livro e destravei a tela pra ver o que ele tinha mandado.

O seu vídeo do dia.

Em anexo havia o link de um vídeo, dessa vez de uma aranha bebe.

Já fazia uma semana que Daniel e eu trocávamos mensagens. Além disso, também fazia quatro dias que Daniel havia se comprometido fielmente a me mandar um vídeo de bichinho por dia. Disse que assumiria aquele compromisso para me ajudar a ter inspiração. Eu estava esperando a inspiração aparecer, mas enquanto não acontecia estava gostando das suas tentativas diárias.

Devolvi um vídeo de uma musica que eu havia encontrado esses dias, do "cachorro salsicha". Fiquei feliz que ele tenha achado graça.

Voltei a atenção para o meu livro quando imaginei que o assunto havia acabado, mas logo meu celular acendeu novamente.

Acho que Alice tem um novo namorado.

Quem é Alice?

Minha namorada.

Li a mensagem algumas vezes só para ter certeza que realmente estava lendo aquilo mesmo. Daniel havia mandado de um jeito muito simples, como se não fosse nada demais, mas eu sabia que na realidade aquilo deveria estar doendo. Sempre doía.

Quer conversar sobre isso?

Ele demorou alguns minutos para me responder. Li duas paginas e quando peguei o celular de novo ele estava começando a digitar.

Acho que sim. Não sei.

Me concentrei pensando em alguma forma de ajuda-lo.

A gente pode ir tomar um café. Sem Starbucks dessa vez.

Sua resposta veia rápido.

Você tá me chamando pra um encontro?

Não, sem encontro. Tô te chamando pra conversar. Dessa vez é por você, não por mim.

Daniel recebeu de imediato, mas sua resposta demorou um pouco pra vir. Até que chegou.

De qualquer forma pode te ajudar.

Senti uma pontada no peito. Eu não queria que ele se sentisse na obrigação de colaborar comigo o tempo todo. Eu não teria coragem de descer àquele nível e me oferecer a ajuda-lo só pela intenção de tentar arrancar algo pro meu livro.

Não. Te encontro no meu café favorito em meia hora.

Enviei a localização pra ele e deixei meu livro de lado por um bem maior. Especialmente naquele dia estava caindo uma chuvinha chata e estava fazendo frio. Achei que pudesse ser uma sina de sempre nos encontramos em cafés nos dias de chuva.

Tive preguiça por alguns segundos. Minha professora do dia havia cancelado a aula e o clima estava preguiçoso, mas espantei rápido a sensação, eu sabia que términos e corações partidos não eram para serem discutidos pelo telefone. Vesti meu sobretudo amarelo para ser um pontinho de luz nas ruas completamente cinzas. Guardei tudo numa bolsa para não molhar no caminho e segui até o café de esquina da minha faculdade.

Daniel e eu havíamos nos tornados amigos. Acho que essa era a palavra. Depois do nosso primeiro encontro, o primeiro encontro oficial quando trocamos telefones, passamos a conversar diariamente. Não só por meio dos vídeos de bichinhos, mas falávamos sobre coisas do nosso dia a dia, sobre nossos planos, sobre livros, o que eu adorava, e sobre comida, o que eu definitivamente adorava e ele também.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora