- Quando a gente sair daqui, a gente vai se falar de uma coisa que só eu e você tá sentindo, e tá sentindo igual. - A baiana disse pra Ivy, me surpreendendo. Elas já estavam alcoolizadas. Ivy fez uma cara surpresa e começou a rir.

- Ai, será? - A modelo questiona.

- Tá. Você sabe o que é também, só eu e você sabe... você sabe o que é. - Mari afirma. Fico só observando a interação. A modelo ri e bebe um grande gole de chopp.

- Tchau! - Ivy rindo fez menção de levantar.

- Você sabe o que é, né? Eu acho bom que a gente sabe, a gente se entende. - Mari fala rindo também. Ivy finge que vai embora, mas volta. Eu estava rindo muito com a cena.

- E aí... você não ta sabendo lidar com isso e nem eu. Eu saco você, menina. A gente é parecida. A gente ó, se fodeu. - gargalharam. - Eu quero só ver quando a gente sair daqui, que que a gente vai aprontar. Não tem jeito... pra mim não tem, não sei pra você, mas pra mim não tem jeito. - a baiana falava.

- Ó, nem ó. - deu de ombros. - Vou sofrer.

- Arrasta o cu no asfalto e chora...

- Merda.

- E guarda pra você, e eu guardo pra mim, e foi. Fodeu! Eu sabia Ivy, eu sabia! Quando eu comecei a sentir, eu falei "Ah a Ivy ta sentindo". - a morena dos olhos claros fez sinal de "shiu" com o dedo indicador em na boca.

- Não... ninguém vai saber... só eu e você.

- Ceis vão ter que ser um pouquinho mais discretas, porque tô só catando aqui as coisas na minha cabeça. -me pronunciei semicerrando os olhos, enquanto elas me olhavam surpresas. - Ai gente, vou nem falar nada, cadê minha carioca?

Me levantei e fui atrás de Bia. Mas antes de alcancá-la, observei Gizelly sentada ao lado de Marcela, fazendo carinho no seu cabelo, enquanto a loira chorava, provavelmente pela saída do Daniel.

Se tinha uma coisa que a Gi era com as amigas, essa coisa era leal. Eu sabia que Marcela tinha magoado minha amiga, e ainda assim ela estava ali, limpando as lágrimas dela. Era a festa dos sonhos dela, e ela estava ali, cuidando de Marcela.

Encontrei Bia sentada em uma mesa perto da porta, com uma carinha pensativa, comendo um prato cheio. Manu fazia companhia à ela, conversando algum assunto, mas quando cheguei aparentemente a conversa morreu.

- Nossa, o assunto chegou por acaso? - Sentei ao seu lado.

- Pior que sim. - ela sorriu de canto e me olhou.

- Ok, é a minha deixa, tchau, amo vocês. - Manu se levantou e saiu.

- O que ta rolando, amor? - AMOR, RAFAELLA? AMOR? Soltei a palavra naturalmente, sem nem perceber. Burra.

- Nada demais. Só tava desabafando sobre nós. - Sua cara travada e sua demora de resposta me fez querer me bater por ter dito a palavra. - Enfim...

- Hum... tipo, é algo que eu não posso saber? - não sabia como conduzir aquela conversa.

- Não, é que, sei lá... Rafa, eu não sei o que que a gente tem, não sei como vai ser lá fora, você sabe que la é tudo diferente... - Ela olhava no fundo dos meus olhos tentando ler minha reação.

- Bia, confesso pra você que tenho pensado muito nisso ultimamente também, tenho medo. - ela suspirou.

- Eu não sou muito acostumada com relacionamentos, eu sou um espírito livre, viver isso aqui desse jeito com você é uma experiência muito louca pra mim, e não sei como vou lidar com isso lá fora. - Ela desabafou.

- Eu entendo... cada dia que passo com você aqui fico me questionando quando foi que deixei você virar de cabeça pra baixo todos os meus planos aqui dentro, e todos os meus pensamentos.

- Mas... isso é ruim?

- Não! De um jeito bom. Com você eu posso ser quem eu realmente sou, me sinto em casa, sabe? A intensidade é que me assusta.

- Entendo. Também sinto isso. Mas outra coisa, tenho medo de estar atrapalhando seu jogo, desde o começo você me disse que veio focada.

- Não fala isso! Você só tem acrescentado coisas boas na minha vida. Acho que a gente só precisa se permitir viver aqui dentro do jeito que a gente se sentir feliz. Lá fora é lá fora.

- Eu concordo totalmente! Ei, eu que disse isso pra tu, inclusive. - Ela fala rindo.

- Sim, mas é o que eu acho também. -sorrio.- Enfim... não tem problema pensar, eu também penso, mas, não fica noiada com isso.

- Não ficarei. - dei um beijo na sua bochecha. - Você está muito linda hoje. Sempre, mas hoje... -ela me diz e eu coro. Nunca ia me acostumar com seus elogios.

- Ah,  me inspiro em você ne, esse mulherão. - dou uma piscadinha.

- Ah, é pra ser cantada? - Segurou o rosto. - Beleza, gata teu pai é mecânico?

- Não, porque? -perguntei ja rindo.

- Porque tu é uma graxinha. - caímos na gargalhada juntas.

- Ai, meu Deus, você é muito besta.

- AAAA minha música, vem, vamo dançar! - Ela tenta me puxar quando funk começa a tocar.

- Vou pegar mais bebida e já vou.

Chego no balcão e infelizmente encontro Chumbo la.

- Rafa, a gente pode conversar? - Ele pede.

- Sobre?

- Nós.

- Nós? Que "nós"?

- Nossa convivência...

- Chumbo, eu to tão felizinha hoje, não quero perder a minha paz. - Não queria conversar logo na festa da Gi.

- Não, Rafaella, eu quero falar agora, olha, você... -ele foi interrompido pela chegada da Bia.

- Tá tudo bem aqui, Rafa? Sua cara me diz que não. - Ela parecia um cachorrinho pinscher, baixinha e bravinha.

- Não se mete, Bianca. -ele disse.

- Ok, vamos parar. Tchau. Vem, Bia. - peguei minha bebida, entrelaçei nossos dedos e a levei de volta pra pista.

Gi estava louca dançando com Thelminha e Gabi, Marcela provavelmente tinha ido dormir, o que me deixou mais tranquila pois minha amiga poderia aproveitar sua festa.

- Gente, olhem que fofa a Manuzinha dormindo no meio da festa. - Mari disse vendo Manu estava deitada em um puff na lateral da pista, em sono profundo.
Como que de propósito, o Dj escolheu a música da Manu pra tocar. Era a música "Don't start now" da Dua Lipa, Manu tinha inventado uma coreografia e todo santo dia tocava e a gente dançava, tinha ficado marcado.

- Maria Manoela! Sua música! - Gritei, a chamando. Ela acordou e foi pra pista rapidinho.

Quando acabou, fui pegar mais comida, e Gi foi comigo.

- Dorme comigo e com a Ivy hoje no líder? Pode chamar a Bia. - Ela convida.

- Uai, tudo bem, mas não quer dormir só com a Ivy não?

- Não daria certo... -Ela sussurra e sai, me deixando rindo. Essas duas achavam que ainda conseguiam esconder algo.

A festa acabou e foi simplesmente incrível, comida boa, bebida boa, música boa, decoração boa, Gi feliz, Bia feliz, eu feliz. Milagrosamente nos encaixamos as quatro na cama e dormimos.

Linha Tênue Where stories live. Discover now