Um quarto da quaretena

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Eu te conheci na padaria daquele outono. 

Estava bem azul. À tarde. Eu chorei muito antes de ir. Não queria . Pelo tom da sua voz, eu sabia que você estava carente. Eu sei como homens como você me veem. Como se eu fosse um pedaço de coisa. 

Só que, ao mesmo tempo, eu também queria. Precisava de um toque. 

Fui. 

Te encontrei.

Me arrependi.

Você tinha bafo e me abraçou, apesar de nunca ter me visto. E eu não gosto de ser tocada sem aviso.

Estávamos na quarentena. E eu morava sozinha. Sozinha com minhas músicas, poesias e estranhices.

Você me contou sobre seu trabalho. Falou que uma pantera/onça entrou na refinaria. Era uma refinaria de petróleo pública, na qual você exercia a função de engenheiro químico.

Eu achei você parecido com a filha de um juiz do trabalho. Muito branco. Grande feito um urso polar. 

Você se esforçou e pegou minha mão. Caminhamos juntos de mãos dadas e eu detestei porque não gosto de nada forçado. 

Sou muito chata.

Você insistiu para entrar no meu apartamento junto do pão com queijo que você tinha comprado na padaria fechada. 

Achei íntimo demais.

Depois, te chamei uma outra vez.

Minha solidão combinava com a sua.

Gostávamos de bandas parecidas. Você tinha acabado de chegar de Londres e eu achei isso muito cool. Você gostava dos Beatles, Wombat e Last Shadow Puppets.

Eu escutava pelo youtube : My mistakes were made for you e The meeting Place várias vezes.

'' And she tried sooo hard to stir away from the meeting place.''

Significava para mim.

Claro que me enganei.

Você foi mais umas vezes e depois me deixou lá. Sozinha.  Depois, várias vezes.

 Era uma solidão sexual. 

Eu te saquei do início. Insisti para que me substituísse por uma prostituta, porque era isso que você queria. Sexo e conversas sobre você. Ela acenaria. Concordaria com tudo o que você dissesse. Mas você também queria uma atenção. Alguém que entendesse. Submetesse.

Nunca vou esquecer que você me chamou de mulherbeta. E poderia ser verdade. 

E dizem: Não liga. Mas a verdade é que eu não sou tão cortejada assim e bem que queria. Pro meu gosto e ego. É errado, eu sei. Mas tenho um orgulhômetro dentro de mim. 

Me disse que não tinha me pedido em casamento. Falou que meu corpo poderia melhorar se eu fosse para academia, mas você tinha uma baita banha.

Você me chamou de transadinha.

Eu surtei. Fiz bico. Fiz manha.

Fui para longe.

Só ficaram as mensagem que apaguei no celular de adeus.

O ambulante e o sabiáWhere stories live. Discover now