Capítulo 3 - Parte 2

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Em questão de segundos meus joelhos vão ao chão, minhas pernas já não tinham forças para sustentar meu corpo. Naquele exato momento me sentia desamparado, sentia que não existia mais um mundo, o caos pairava no ar.

Cada vez mais e mais as lágrimas banhavam o meu rosto, faziam uma trajetória até o meu queixo e caindo por fim no piso daquele hospital. Por longos minutos não me importei com mais nada, minha dor era maior que tudo, nunca tinha sentido aquilo e esperava não sentir nunca mais.

Respiro fundo, passo a mão e limpo minhas lágrimas, aos poucos minhas forças voltam e consigo ficar em pé novamente. Olho para o médico que me olha com uma expressão de dó, quando percebe que estou o observando ele começa a mexer nas folhas que estavam em sua mão.

- Fizemos de tudo - faz uma pausa - mas a Emilly entrou em coma e infelizmente não se tem previsão de quando ela irá acordar, casos como esse são bem especiais, tudo depende dela agora. Pode ser que ela acorde ou tem a possibilidade que ela nunca venha viver de novo, tudo é possível, nenhuma possibilidade pode ser descartada. Porém, se serve de consolo pelo terrível acidente que a Emilly sofreu, é um... - ele para um pouco e tenta procurar uma palavra para terminar a frase

- Milagre? - Sophia pergunta com um sorriso no rosto.

- Não acredito em milagres.

Céticos.

Balanço a cabeça concordando comigo mesmo.

- Milagres existem meu caro doutor, e o senhor ainda irá presenciar um. - Sophia diz com uma certa convicção.

- Já disse que não acredito nessa baboseira. - fala ríspido.

- Nós podemos vê-la, doutor? - pergunto quebrando aquele clima, se desse oportunidade minha irmã começaria uma longa discussão com o médico e posso afirmar que aquilo não iria acabar nada bem.

Conheço muito bem Sophia, ela luta com tudo que pode para defender tudo em que acredita.

- Podem, mas um de cada vez.

- Eu vou primeiro. - falo tão rápido que quase atropelo as palavras.

O médico balança a cabeça concordando, faz um sinal para que eu o siga, faço isso em um completo silêncio, já não existia palavras para serem ditas.

Respiro fundo, coloco a mão na maçaneta e encaro a porta bem a minha frente. Minhas mãos tremem, meu coração acelera, minha respiração começa a falhar e consequentemente por um breve momento começo a sentir dificuldade para respirar. Acabo sentando, apoio minhas costas na porta ficando de costas para a mesma. Uma parte de mim não queria entrar naquele quarto, há alguns minutos o que mais queria fazer era vê-la, mas agora tenho medo, medo de como ela deve está. Não estou pronto para ver minha irmã deitada naquela cama, vivendo com ajuda de aparelhos, quero ver a Emi feliz, aquela que sempre tenta colocar um sorriso no rosto quando eu peço, quero ver a Emilly que faz loucuras e não se importa com que os outros vão pensar, quero apenas vê-la viva.

Respiro fundo novamente, pois é apenas o que consigo fazer, levanto e tomo coragem e abro a porta. Caminho a passos curto até a cama e encontro uma Emilly pálida e com alguns aparelhos como presumia que estaria. A analiso, era a mesma pessoa que tinha visto naquela manhã, porém ela parecia que estava morta, aquela não era a Emilly que conhecia. Estico minha mão e tiro alguns fios de cabelo que estava em seu rosto.

A analisando melhor percebo que existia apenas alguns poucos hematomas em seus braços e pernas, e um pequeno corte em cima da sua sobrancelha direita. Caio de joelhos pela segunda vez naquele hospital, não acredito que estou presenciando o tamanho do poder e misericórdia de Deus, ela poderia está morta nesse exato momento, poderia ter quebrado algum osso de seu corpo, porém nada disso aconteceu.

Levanto e limpo as lágrimas que tornavam a banhar o meu rosto. Passo a mão em seu cabelo na esperança que acorde, mas nada acontece, ela não dá nenhum sinal que indique que está viva. Dói vê-la assim dependendo de uma máquina para sobreviver.

- Por favor, Emilly, lute, por favor! Eu preciso de você minha palhacinha, acorde, preciso ver o verde de seus olhos novamente, não vou dizer que preciso vê-los uma última vez, eu preciso vê-los todos os dias, por favor, acorde!

Escuto o barulho da porta sendo aberta, vejo uma enfermeira e ao seu lado Sophia, sabia que tinha chegado a hora de ir embora. Como a vida é injusta, há poucos minutos não tinha coragem pra entrar no quarto e encarar minha irmã, agora não quero sair do seu lado. Por fim acabo sedendo e saio do quarto, não poderia ser egoísta.

Ando sem rumo pelos corredores daquele imenso hospital, não suporto ficar naquela sala de espera sem fazer nada, gosto de andar, ocupa minha cabeça e aos poucos consigo ver mais claro o que está acontecendo, a Emilly está em coma e não posso acreditar nisso.

De tanto andar sem prestar atenção acabo esbarrando em alguém, era o doutor Juan, o médico que estava cuidando de Emi.

- Desculpa... - digo um pouco sem jeito.

- Não tem problema, mas preste atenção por onde você anda, pode acabar machucando alguém, todo cuidado é pouco em um hospital.

- O senhor tem razão, me desculpa. - ele balança a cabeça e faz menção de sair dali. - Espera! A Emilly precisa de acompanhante, quero dizer alguém pra passar a noite com ela?

- Infelizmente ninguém pode ficar no quarto, ela está na UTI e está sendo monitorada, enquanto ela não se estabilizar não irá para um quarto normal, sinto muito. - ele encosta no meu ombro e depois vai embora.

- Tudo bem. - sussurro. - Do mesmo jeito não vou abandoná-la novamente, vou passar a noite na sala e quando ela acordar estarei do seu lado não importa quanto tempo leve estarei aqui.

Reaprendendo a viverحيث تعيش القصص. اكتشف الآن