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Fazem-se quase 2 anos desde o acidente, o pior dia da vida de Kyungsoo, o dia em que ele podia jurar que seria o seu ultimo aqui na Terra. Por obra de algum tipo de milagre ele ainda cá está e agora deseja todos os dias da sua vida ter morrido naquela maldita tragédia, juntamente com os seus amigos. 

A vida não é justa, nunca o foi e também nunca o será, mas Kyungsoo não merecia uma maldade tão grande. Ele recorda-se tão bem daquele dia, todos os dias o recorda e todos os dias se arrepende profundamente. Kyungsoo lembra-se do dia em que era para ser um dia feliz, um longe de problemas e preocupações, apenas ele e os seus amigos, mas por ele se lembrar tão bem de tudo isso é que ele se tornou na pessoa mais fechada que podemos imaginar. Se ele já era amargo, hoje ele é pior, hoje ele é tudo a dobrar... talvez a triplicar.

- Senhor Do... - Kyungsoo escutou a voz de uma das empregadas do outro lado da sua porta do quarto. Ele reconhecia muito bem as vozes de todos que lá trabalhavam, esta era a ahjumma que lhe preparava sempre a melhor comida e que ele sempre mal lhe tocava. Falava que era por não ter apetite, o que era mentira, mas o que podia ela fazer quanto a isso? É ele quem manda, ele é o chefe e ela a empregada.

- Pode entrar. - A sua voz soou por todo o quarto escuro e silencioso, uma voz seca e sem qualquer tipo de emoção. Este era o Kyungsoo de agora.

- Senhor, temos mais três demissões. - Ele escutou os seus passos até perto da cama após ter aberto a porta do quarto. Kyungsoo nem mesmo se mexeu da cama, não era surpresa nenhuma, já era algo comum naquela casa. - Precisamos contratar mais alguém...

- Estou bem assim, saia. - Ele não gosta de agir assim, nunca gostou mas os tempos mudaram.

A ahjumma não falou mais nada, apenas saiu do quarto assim como o seu senhor ordenou. Não havia muito a fazer, se ele fala que não então é não mesmo.

No quarto deu para se escutar o pesado suspiro de Kyungsoo, ele remexeu-se na cama e por fim, com alguma dificuldade, sentou-se. Ele pensava em como chegar á casa de banho. Não é difícil, ele só precisa sair da cama e seguir em frente até sentir a porta, depois é só entrar e lá está ele.

Pouco a pouco, um passo de cada vez, Kyungsoo foi andando pelo seu quarto com os seus braços esticados para tentar sentir as coisas e não acabar por cair. 

Um estrondo ecoou por todo o cómodo, som de um vidro a se estilhaçar pelo chão. Foi uma das suas molduras que estava arrumada sobre um dos móveis. O coração de Kyungsoo acelerou no mesmo momento, ele estava corroendo-se de dor e nem era pelo facto de ter um caco de vidro bem no seu pé, ele também sentia essa dor mas a que estava no seu coração era ainda maior. Ele já havia ouvido este som antes, o som que o deixou cego.

- A-Anyo... - Levou a mão até ao seu peito e respirou fundo tentando se acalmar, até que ouve a porta do seu quarto ser aberta sem qualquer tipo de autorização.

- Senhor! Está bem!? - Kim Dongwon, é o nome deste ahjussi, Kyungsoo também o reconhece só pela sua voz. É quase como um guarda-costas para quando Kyungsoo sai de casa, o que não costuma acontecer muito, quase nunca sai.

- Idiota... ACHA QUE SIM? - O chefe gritou, a sua dor transformou-se em raiva, mais do costume. Era sempre assim, sempre que ele se lembrava de tudo.

Havia sangue pelo chão, o corte não era grande mas ainda assim saiu uma boa quantidade.

- Está a sangrar... - Logo o ahjussi percebeu o que aconteceu quando viu a moldura partida no chão. Pegou na mão do seu senhor e o guiou para se sentar na cadeira do quarto, assim ele fez um pequeno curativo e limpou todos os vidros para que Kyungsoo não voltasse a magoar-se.

- O senhor realmente deveria pensar em contratar alguém.

- Por que o haveria de fazer? Não preciso de mais ajudas. - Estava decidido em não contratar mais ninguém, afinal para que precisava ele de tanta gente?

- Senhor, eu na verdade só vim até aqui me despedir de si, entretanto ouvi algo se partir... Também vou pedir a demissão.

Kyungsoo soltou um riso sarcástico, agora ele tinha-se apercebido que todos que o tinham ajudado estavam realmente abandonando-o.

- A minha neta está quase a nascer... - O mais velho falou com um grande sorriso olhando os olhos vazios de Kyungsoo que se mantinham fixos em algum lugar. Ainda que ele ouvisse muito bem, nunca sabia em que direção colocar os olhos, é compreensível. - Vou me mudar para Gangnam para poder ficar perto da minha família, já consegui um trabalho por lá.

Ele nem mesmo sabia o que responder, sentia-se traído mas no fundo estava satisfeito com Kim Dongwon.

- Falsos... - Falou num tom baixo. - Certo, vai embora, SAI DAQUI! Não preciso de vocês... SAI!! 

O ahjussi assentiu e olhou uma ultima vez para o seu chefe. - Obrigado por tudo, senhor - Falou e então saiu do quarto fechando a porta, do jeito que Kyungsoo gosta. Ainda que ele não pudesse ver nada, ele gostava da sensação que o escuro lhe dava.

Kyungsoo refletiu bastante sobre tudo o que estava a acontecer. Ele questionava-se se iria acabar sozinho, se para ele já não havia mesmo esperança. Lógico que os meros empregados nunca iriam ficar para sempre, mas se fosse assim ele estava mesmo decidido a por um fim à sua vida, que ele acreditava ser miserável. A solidão assusta-o.

Sem o velho guarda-costas só lhe restavam mais três empregados em toda a casa, sem contar com os jardineiros e a sua secretária. Kyungsoo odeia ir contra as suas próprias decisões mas era o que era preciso ser feito no momento, colocar o orgulho de lado é muito difícil mas o que podia ele fazer agora?

- Organize entrevistas de trabalho para amanhã, vamos contratar mais alguém - Falou ele pelo telefone, no qual só de clicar em uma tecla conseguia ligar à secretária, aquela que tratava de todos os assuntos burocráticos da casa e ainda cuidava da sua parte da empresa. Como ele disse antes, "um cego não consegue tratar de negócios".

- Ne, chef-nim - Deu para ouvir a voz da mulher do outro lado da linha e então Kyungsoo encerra a chamada.

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⏰ Last updated: Jun 04, 2020 ⏰

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Blind of Love - dksWhere stories live. Discover now