𝑷𝑹Ó𝑳𝑶𝑮𝑶

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A

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A

dor paralisa o corpo como um neutralizador a cada golpe que é investido. Se espalha tão rápido que tudo se torna um eco profundo com um retorno cruel sobre os meus órgãos de sentidos. Elevo os olhos ignorando a voz grave e embriagada perguntando no fundo onde está o homem valente que é tido como o terror das estradas. Ainda estou vivo ou pelo menos penso que sim, não sinto nada, estou perdido no chão da oficina cercado pelos meus problemas compilados com o dissabor do momento, imerso na frieza com que os meus ossos estalam em atrito aos nós pesados dos seus dedos. Estou perdido na dor que meu corpo projecta em cada centímetro da minha pele. 

Entretanto, no meio da dor existe ela. Agnes. Como uma estrela transbordando luz no extenso e vasto céu. Como uma água-viva criando um cenário resplandescente em todo oceano. Ela é a minha força. Me orienta quando estou perdido na dor, na minha mente. Ela é a razão por estar engolindo cada chute em silêncio e na tortura do meu padecimento. Porque é meu dever protegê-la antes de qualquer coisa, mesmo que seja eu quem tenha de sofrer. Tudo o que preciso é olhar para os seus olhos marcados pela penumbra do tom dourado, nos trazendo de perto a ardência de uma bebida forte, pois ela possui essa energia e encontro quando avalio o pânico vivo brilhando neles. 

Saber que ela está segura me transmite força me traz alívio, embora os seus olhos baixos e taciturnos tremendo ao passo que cada golpe é depositado contra a minha barriga transmitam toda agonia que a consome. Estou em desvantagem e se paralisar, enquanto a situação se prolonga, eles vão deduzir que estou acabado e vão decidir ir. Mas antes, eles vão garantir que leve uma boa sova porque é exatamente isso que eles vieram fazer. 

As gotas finas escorrem por entre os longos dedos quando toco o nariz por onde escorre duas finas carreiras de sangue. O olhar sobre o tom escarlate me deixa nauseado, a quantidade de golpes que eles depositam se torna demais para conseguir respirar, tento soprar algumas palavras para ela, dizer que nada vai acontecer desde que ela se mantenha escondida, Agnes não precisa temer, não é nada que uma crioterapia não resolva, dói, mas nada doerá mais do que ela machucada, então só preciso que ela se mantenha ao meu alcance. 

Nem que seja a última imagem que meus olhos consigam enxergar, preciso encarar suas feições suaves e tal como sempre faço, adorar seus traços tão imperfeitos que a tornam esplêndida. Neste momento dói, tudo em mim dói. Estou jogado no chão levando um e outro pontapé com tanta força que estou tonto e enjoado, não consigo mais tentar reagir, três contra um é quase impossível. Eles vieram prontos para dar vida aos seus planos e estão conseguindo, cada chute atinge todos os meus órgãos e deixa tudo em sofrimento, cada soco parece uma projeção dolorosa de crueldade. A visão se torna fraca, tenho suor, sangue e lágrimas se misturando no rosto, o corte no supercílio dificulta tudo, mas ainda vejo Agnes. 

Eu sempre vejo a Agnes. 

Até nos piores momentos, ela é a minha primeira recordação quando acordo e a última lembrança quando deito. Por mais que toda dor esteja consumindo meu ser, consigo ver-lhe sufocar o choro com as duas mãos tal como ordenei quando esses caras irromperam pelas portas. Agnes está engolindo a maior agonia e está com os olhos repletos de lágrimas. Ela só precisa continuar por baixo do carro, mas é como se não a conhecesse, é como se não tivesse noção de que ela nunca cumpre com as ordens que lhe são impostas. 

Ela tem lágrimas nos olhos e acho que mesmo sem ninguém perceber, também deixei escorrer algumas ao som do grito para que não se mova, no instante em que vi-a rastejar para fora, por medo, porque nunca tive tanto medo da cabeça aos pés, nunca me senti tão impotente e agoniado com as ideias às voltas como uma montanha russa e a dor que começo a sentir se dissipa por todo corpo até a alma quando num segundo Agnes está servindo de escudo para que não seja mais machucado e noutro, está sendo levada.

Hasteio os olhos em todas as direções com atenção, tentando arranjar forças para me levantar e atender aos gritos dela quando é jogada sobre o ombro e carregada com tanta facilidade. 

— Luke. 

Ouço o grito dela da saída da oficina e meus olhos se fecham involuntariamente. Eu sou um homem morto. Eles acabaram de levar Agnes Wade, a filha do futuro prefeito. 

Eles acabaram de levar a filha do meu pior inimigo e não sei como vou responder a isso. 

 

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⏰ Last updated: Aug 05, 2022 ⏰

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𝐆𝐀𝐑𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐈𝐃𝐄𝐍𝐂𝐈𝐀𝐈𝐒 [VOL.1]Where stories live. Discover now