- Mamãe. - me soltei dos braços do meu pai e corri para o seu abraço. Ela suspirou e me apertou com força, esfregando o nariz no meu cabelo.

Apesar de toda a pompa que ela ostentava minha mãe era incrivelmente doce e generosa. Ela já ajudou tantas pessoas ao longo da vida que é difícil numerar. Além disse ela também era a melhor mãe do mundo. Superprotetora, mas a minha melhor amiga e fiel confidente.

Ninguém me conhecia como Carla Steele.

- Querida. - ela me aperta mais e funga, acariciando meu cabelo. - Eu disse que essa viagem não era uma boa ideia. O roteiro era Nova York, mas de uma hora para outra você vai parar na Itália, não me dá notícias detalhadas e agora aparece aqui assim. Por Deus, Ana. Por que está chorando tanto?

Mordi meu lábio inferior, segurando o soluço sufocado.

As lágrimas já não eram parte do plano. Se eu começar a chorar tudo o que eu tenho para chorar vou acabar falando coisas que vou me arrepender depois.

- Não é nada, mamãe. Só senti saudades. Nunca ficamos tanto tempo separados e eu consegui alguns dias de folga então não pensei duas vezes antes de pegar o primeiro avião e vir para cá.

- Fique calma, querida. Estamos juntos de novo e se você chorar demais seus olhos vão ficar inchados e vermelhos. - ela sorri e bate no meu nariz. - Pegou seus remédios para o coração? Você tem um bom cardiologista por lá? Está fazendo seu acompanhamento?

- Sim, mamãe. Os remédios estão aqui. - levanto minha bolsa e ela olha dela para mim com olhos brilhantes.

- Louis Vuitton, em?

Dou de ombros e limpo meus olhos, puxando um espelinho e checando minha maquiagem. Milagrosamente não está devastada.

- Venha, querida, vamos entrar. - papai passa um braço ao redor do meus ombros e o outro ao redor dos ombros da minha mãe. - Vamos nos aquecer perto da lareira e tomar chocolate quente com bolinhos de morango com chantilly.

Mamãe fez algumas mudanças nas últimas semanas.

O sofá antes de couro foi substituído por um de camurça preto, enorme. O tapete também foi trocado e a televisão que papai adorava foi trocada por uma maior. As fotos de infância ainda decoram as paredes, algumas com molduras diferentes.

- Então? - mamãe agarra minhas mãos e me puxa para o sofá. Papai desapareceu para a cozinha para fazer a sua mágica culinária. - Me diga o que está acontecendo e porque você demorou tanto para vir.

Suspirei, esfregando minhas mãos no tecido da minha calça e evitando seus olhos curiosos.

- Mãe, eu disse tudo que tinha para dizer. Durante a estadia em Nova York eu recebi uma proposta de emprego na Sicília e decidi aceitar. Eu já planejava mudar de ares, Seattle estava me deixando estressada e foi muito bom ir para lá. Eu pretendia voltar antes mas aconteceram alguns imprevistos e precisei adiar. Por enquanto estarei aqui em Seattle, imagino que até o final do mês. Fiquei responsável por cuidar da filial daqui nesse período. - dei um sorriso grande, tentando minimizar a mentira. - Também estou tendo aulas de italiano com um professor cedido pela administração do hotel. Não se preocupe, eu estou bem. De verdade. E além do mais a empresa se importa comigo e com a minha segurança. Me deram o carro, um apartamento e cartão de crédito.

Ela olhou para mim desconfiada, mas dei meu melhor sorriso e vi seus músculos relaxarem.

- Bom, você me deixou mais tranquila. - ela sorri e jogo os cabelos brilhantes para trás. - Agora me diga como foi. Conheceu alguém? A Itália tem homem maravilhosos.

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