Um barulho me fez saltar de onde estava, me preparei para correr, fosse aquilo um sonho ou não, não ficaria esperando o pior acontecer, mas antes que eu pudesse correr, do meio das sombras dois olhos me encaravam, e então caminhando lentamente em minha direção, o gato preto apareceu.

- O que você tá fazendo no meu sonho? - perguntei, inocentemente como qualquer pessoa conversando com seus bichos de estimação.

- Sou livre para estar onde bem quiser. - o gato preto falou e começou a lamber a patinha da frente como se fosse a coisa mais comum do mundo. Fiquei para observando e absorvendo aquelas palavras que acabaram de sair da boca do felino. Definitivamente aquilo era um sonho, e mesmo assim me deixou assustada, meus sonhos estavam cada dia mais estranhos.

- Como faço pra acordar? Não quero estar nesse sonho. - tinha algo estranho naquele lugar, não queria estar ali.

- Isso não é um sonho. - o gato falou novamente, mas ele não parecia tão interessado em mim, ficar se lambendo parecia bem mais interessante.

- Você está falando, então é um sonho.

- Você também está falando.

- Mas você é um gato!

- E você é um humano. - ele parou de se lamber e sentou sob as duas patas traseiras, me encarando com aquele argumento que parecia ser a resposta mais óbvia do mundo.

Não podia ser real, definitivamente não era real. E o gato preto parecendo ler minha mente nesse sonho que era um dos mais esquisitos de todos, soltou mais algumas palavras.

- Mas você não precisa me dar ouvidos, afinal, eu não passo de um gatinho preguiçoso. - ele me deu as costas e sumiu atrás de uma árvore bem na minha frente.

- Volta por favor! - falei, era melhor estar num sonho com um gato falante do que ficar sozinha naquele lugar que estava além de sinistro.

- Você não deveria estar aqui. - a voz do gato novamente, mas dessa vez ele estava trás de mim.

- Como você consegue fazer isso?

- Posso fazer o que bem quiser. - ele falou, novamente com aquele ar de superioridade.

- Me leve de volta pra casa, meu irmão está sozinho.

- Toby está em boas mãos, nada ai acontecer, ou se acontecer, sera de dentro pra fora, mas ele vai ficar bem.

Eu não estava entendendo nada do que aquele gato estava falando, parecia um jogo, onde eu teria que adivinhar o significado por trás daquelas palavras, e naquele momento onde estava sentindo medo comecei a sentir raiva e irritação.

- Preciso ir embora. - falei e comecei a dar passos logos até ultrapassar aquele gato arrogante, mas algo logo em frente me fez parar.

Tinha uma pessoa parada de costas logo em frente no meio da escuridão.

- Não precisa ter medo, você queria tanto encontrar ele, estava sentindo tanta falta. Resolvi lhe mostrar. - o gato falou e parou ao meu lado.

- O que você está...

Antes que pudesse terminar a frase a pessoa que estava de costas caiu e então pude perceber quem era a pessoa.

Sem pensar, corri em sua direção e o segurei, Jack parecia machucado. E então me lembrei da ultima vez que o vi.

Estávamos em uma praça, e ele me mostrava a historia de um casal que estava destinado a sempre machucar um ao outro, apesar de que o problema parecia ser o garoto, era ele quem machucava, era ele o egoísta, o hipócrita, era ele quem fazia as coisas ruins, porque era a garota que o amava, ele não a amava para ser machucado por ela, as palavras dela não tinham poder sobre ele, as atitudes dela por mais boas que poderiam ser, não tinham qualquer influência sobre ele. Eu lembrava de tudo. E sabia que Jack havia me mostrando tudo aquilo por algum motivo. O beijo e logo em seguida, ele foi levado de mim.

Ao lembrar novamente do momento que Jack foi levado, todos os pelinhos do meu corpo se arrepiaram, era algo sombrio, antigo e lento. Me voltei novamente para Jack que estava desacordado, sujo e ferido.

- O que aconteceu com ele? - perguntei, notando a escuridão da floresta ao nosso redor começar a se mover como uma dança de sombras na escuridão.

- Ele está perdido. - o gato falou e se aproximou parecendo também notar que a floresta nos cercava lentamente.

- Preciso leva-lo pra casa. - olhei para o rosto daquele garoto que até então só me incomodava, mas agora eu sabia, eu o conhecia. - Ele é meu amigo! Não vou deixa-lo.

Pensei novamente na coisa que havia o levado quando estávamos na praça, e um cheiro de coisa velha começou a tomar de conta do lugar, o vento ficava cada vez mais forte, e a escuridão da florestava começava a se agitar.

- Pare de pensar nela! - o gato parecia furioso e ao mesmo tempo preocupado. - Você não pode lembrar, não é seguro ainda.

- Do que você está falando, seu gato magricela? Eu preciso levar o Jack! - comecei a chorar, algo estava se aproximando, e eu podia sentir, estava faminto, estava furioso, as sombras na floresta se agitaram ainda mais. Sequei as lágrimas do meu rosto e segurei o rosto do Jack.

- Por favor, acorda. Acorda, esqueleto! Não vou deixar ela te machucar!

- Para de pensar nela!

- Acorda! ACORDA!

O gato preto pulo em cima de mim fazendo-me cair pra trás, ele estava louco tentando me afastar do Jack, então percebi algo saindo da floresta e congelei. Uma sombra, que parecia tentáculos, saiu da escuridão e enroscou nas pernas de Jackque ainda estava desacordado e o puxou lentamente até sumir na escuridão.

- NÃOOOO! - tentei levantar para ajudar, mas fui impedida novamente por aquele gato falante.

- Você não pode lembrar agora. - falou e pulou na minha cara, seus olhos, por um segundo, pareciam grandes botões. - Volte pra casa, você não pode lembrar agora, não disso, e não daquilo. Mas você tem que lembrar de algumas coisas...

Eu estava ficando com sono, tudo parecia rodar. Cai e olhei para o céu, só agora percebi a lua enorme centralizada naquela clareira, não tinha estrelas, não tinha nuvens, apenas a lua maior do que nunca. A lua. Fechei os olhos e os abri novamente quase como alguém que está morrendo de sono.

"A lua... está tão linda" pensei.

O gato estava em cima da minha barriga.

- Durma... Você só precisa lembrar de algumas coisas... - não tinha mais gato, tinha um homem, ou era a sombra de um homem, não consegui distinguir, tudo ficou escuro, mas algumas palavras ecoaram na minha mente.

Encontre o Jack.

Cuidado com a Rowena.

E não confie no Rudy.

Coral RosesOnde histórias criam vida. Descubra agora