Memórias ao vento

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Acordei com a luz do sol em meus olhos, minha cabeça estava latejando como se tivesse tambores batendo lá dentro. Não lembrava de ter ido pro quarto na noite passada e as cortinas da janela estavam abertas. Levantei, meus olhos ardiam e então subitamente lembrei do que havia acontecido.

"Rudy"

Foi a última coisa que vi depois da cena horrível na floresta. Aquilo tinha sido um pesadelo? Não poderia ser real. Levantei rapidamente, queria saber se Toby estava seguro, se aquilo que vi for real, ninguém estaria a salvo.

Cheguei a cozinha quase correndo e todos olharam pra mim surpresos, Rowena, Tia Mikaella e Toby. Todos pareciam bem.

— Oi querida, está com fome? – Tia Mikaella acenou pra que eu pudesse sentar. Rowena voltou a olhar para o celular e Toby me encarava com curiosidade. Fiquei parada por um minuto tentando recordar a noite passada, não poderia dar uma de louca novamente, pelo bem do meu irmão e pelo bem dos meus pais, onde quer que eles estivessem, mas o que vi não poderia ser ignorado e só tinha uma pessoa que poderia me explicar.

Sai da cozinha sem falar nada, mas antes de sair da sala pude escutar Rowena falando algo como "cada dia mais estranha", eu sabia que não estava agindo normalmente e naquele momento não me importava, só queria respostas e uma pessoa me daria. Atravessei a frente de casa e depois a rua diretamente para casa da Dra. Elza, à medida que ia me aproximando da porta da casa, diminui o passo. Noite passada foi a Dra. Elza que vi pelada no meio da floresta devorando uma criança, se aquilo que vi fosse verdade, ela me mataria ali mesmo.

Estava frente a frente com a porta, meu punho fechado prestes a bater e como sempre aquela casa parecia não ter ninguém, estava mais sombria do que nunca e por mais que quisesse parecer forte, minhas pernas subitamente começaram a tremer.

— Ei garota dos olhos de botões! – olhei rapidamente para a voz que vinha atrás de mim.

— Jack? - O cara de esqueleto estava parado no meio da rua me observando com um sorriso sínico nos lábios, dei as costas para a porta e o encarei. Ele estava com as mãos no bolso e uma bicicleta estava ao seu lado. – Você me chamou de que?

Ele se aproximou de mim, tirou a mão do bolso e ergueu como se fosse pegar em meu rosto, mas recuei instintivamente. Ele deu um sorriso leve.

— Garota dos olhos de botões. – ele repetiu, fiquei mais confusa ainda, mas de alguma forma aquilo me parecia familiar. – Botões de rosas. É só um apelido carinhoso.

— E você é o cara de esqueleto. – falei tentando ofende-lo mas ele pareceu gostar.

— Então. – ele apontou pra bicicleta. – Quer dar uma volta e tomar sorvete?

Pensei em recusar imediatamente, mas tinha perguntas a fazer pra ele. Jack havia me falado para não ir pra floresta naquele dia, ele tinha feito algum tipo de acordo com Rudy e meus vizinhos falaram pra não confiar nele.

— Só não me derrube, ok? – falei enquanto ele subia na bicicleta com um sorriso vitorioso.

— Nunca minha querida. – subi atrás e segurei nos ombros dele, percebi que ele levava uma carteira de cigarro no bolso, agradeci por ele não ter acendido nenhum naquele momento. Ele começou a pedalar e o vento frio da manhã bateu em meu rosto, fechei os olhos e senti aquela brisa na minha pele junto com os raios solares. Naquele momento me senti leve, era como se nada mais existisse, o silencio reinava ao redor, por um segundo senti como se pudesse voar.

Ainda não tinha visto o centro da cidade e naquele momento estava bastante movimentado, vi a escola onde começaria a estudar em breve e pessoas andando por toda parte. Passamos na frente de um cemitério e nesse momento Jack parou e acendeu um cigarro.
— Porque você está fazendo isso? – perguntei com tom irritado.

Coral RosesWhere stories live. Discover now