Capítulo 38

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 O céu apesar de estar sem nuvens e o vento trazendo apenas um refresco, não conseguia sentir o agradável clima do dia, eu mal conseguia prestar atenção aos detalhes, gostaria que algum imprevisto acontecesse para que eu não pudesse sair do carro. Lembrei apenas das palavras de Mark que me impactaram de alguma maneira. Eu precisava respirar.

Notei que havia uma pequena multidão em volta do fórum, então precisava seguir com o protocolo que mandava eu entrar pela porta dos fundos. Lá avistei os dois seguranças que me haviam mencionado. Entrei como um trem bala e esperei no corredor da sala de audiência, até que avistei a mãe do garoto sendo conduzida para uma sala escoltada por alguns seguranças, seus olhos pareciam querer me encontrar e eles me acharam, eu apenas fiquei em transe, mas aquele olhar conseguia me rasgar por dentro.

— Hel – A voz e o toque de Nathan conseguiram me acordar daquele breve devaneio. Seu sorriso era o que eu buscava por anos e finalmente ele realmente estava ali – Eu não posso ser visto falando com você, mas precisava te ver – Ele parecia desconfiado – Como você está?

— Preparada, eu acho – Nathan olhou em meus olhos, ainda aflito.

— Vai ficar tudo bem – Seu corpo levemente se aproximou – Corri na Unidade e Forrighan pediu para que estivesse aqui no lugar dele, e me pediu para eu lhe dar isto – Nathan me entregou uma pequena medalha de honra, talvez Nathan não soubesse o significado daquilo, mas eu sim.

— A primeira medalha de honra dele – Tentei conter as lágrimas – Ele havia me contado a história, disse que essa medalha nunca fora merecida, apesar de eu duvidar disto – Levemente um riso saiu de meus lábios – Um amigo dele salvou um garoto de um incêndio em uma missão, mas acabou sendo culpado por ter deixado o suspeito lá dentro, mas Forrighan havia visto tudo, houve luta corporal porque o homem realmente queria matar todos daquela casa, ele tentou convencer à todos que seu amigo que merecia aquela medalha, mas segundo ele, o próprio não quis. "Mas vale uma consciência limpa do que qualquer reconhecimento". Foram as palavras do amigo de Forrighan – Eu sabia que ele havia dado à mim para me dar forças – Mas quando ele me contou isso, disse que havia se arrependido pela injustiça, se voltasse no tempo daria a medalha ao amigo, mesmo que colocasse clandestinamente em sua casa – Meu riso saiu acanhado assim como o de Nathan – Não acho que eu mereça isso – Minha voz saiu falha, eu apenas pensava na mãe do garoto no qual eu havia tirado a vida.

— Isso não é uma recompensa, é um lembrete. Não foi sua intenção, não foi sua culpa. Sei que isso não é o pior para você, sei que o que pesa mais é o sentimento de arrependimento, mas eu farei o possível para ajudar a diminuir esta dor, te lembrando a todo momento que você consegue qualquer coisa, mesmo que não seja mais meu papel fazer isso – Meus olhos se fixaram nos seus, Nathan entendia como ninguém meu sentimento de culpa e eu podia ver em seus olhos – Nunca, nunca mesmo, nem por um segundo se culpe por qualquer coisa, não é fácil, mas eu quero que todos os dias você se lembre destas palavras; você é capaz de tudo, você merece o melhor – Era a frase que ele sempre me dizia quando estávamos juntos. Nathan me ensinou a usar as minhas forças emocionais e talvez as dele estivessem enfraquecidas. Notei que minhas mãos seguravam as de Nathan e que meu corpo se aproximava do dele, só que naquele momento eu não ousei me mover, mesmo que estivesse percebendo sua aproximação. Nathan beijou minhas mãos, assim como Mark havia feito mais cedo, mas o sentimento em mim era diferente. Com Nathan eu me sentia mais segura, querendo buscar minhas forças. Ele me encorajava a ser forte com minha própria força, mesmo eu sabendo que ele faria de tudo para me proteger.

— Obrigada – Apesar de nunca ter entendido o sumiço de Nathan, o sentimento de gratidão por ele estar ali era maior que qualquer mágoa que eu ainda sentia por ele. E ele sabia que havia mágoas em mim.

Não posso simplesmente perder vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora