Você e Eu (Concluído).

[extra] Ressaca (parte 02)

7h45min antes do casamento.

— Será que nós fizemos alguma coisa muito louca? — Jessie perguntou, sentada no banco de trás do carro. — Tipo roubar um tigre na casa do Mike Tyson? Meu Zeus, isso seria demais!

Hillary bufou pela terceira vez dentro daquele minuto. Aparentemente, ela me culpava por estarmos todos ferrados e por termos perdido Ian. Como se eu tivesse a segurado e feito beber a bebida azul de Meredith contra a vontade. Claro que tudo só piora porque Jessica disse que ela só quis encher a cara porque eu estava beijando Meredith, fato tão notório e importante do qual eu sequer me lembrava.

E ela estava com ciúmes. Claramente. Ela estava usando óculos escuros e seus cabelos estavam presos em um elástico sem muita perfeição, com vários fios soltos, no banco do carona, enquanto eu dirigia até o endereço que estava, literalmente, na sua pele. E, mesmo daquela forma, ela ainda era a garota mais linda que eu já havia visto.

Nós paramos em nossas casas por apenas 15 minutos para pegar o essencial (e porque Hillary não aceitava sair sem sutiã, ainda que eu tenha dito que seus mamilos eram super bonitos).

— Acho que se nós tivéssemos roubado um tigre, a gente já o teria achado. — Jimmy disse, também com óculos escuros e sentado de mal jeito no banco dos passageiros.

Todos estavam sofrendo de ressaca, exceto, aparentemente, Jessie, que estava espremida entre as duas cadeiras da frente do carro e parecia ter comido cinco quilos de açúcar. Nem parecia que tínhamos perdido seu melhor amigo de infância que, até onde sabíamos, poderia até estar morto.

— Mas, pensa, Mike Tyson! Aquela tatuagem no rosto, nossa! Você deveria fazer uma, Jimmy, é muito sexy! — Jessie bateu palmas, fazendo Jimmy gemer por causa da dor de cabeça.

— Eu queria encontrá-lo para pedir para ele te dar um soco na cara, Jessica Mellark. — Murmurei, estacionando o carro na frente do endereço retirado diretamente da barriga de Hil.

— Agressivo. — Ela me mostrou a língua e todos descemos do carro.

Estávamos em frente a um prédio residencial de aparência antiga, a fachada amarela levemente descascada demonstrando que precisavam de uma reforma com certa urgência. Talvez tivessem sequestrado Ian e ele estivesse ali.

— Qual é mesmo o número do apartamento? — Perguntei para Hillary que, a contragosto, levantou a blusa para que eu pudesse ver que tínhamos que chegar ao apartamento 207.

Em uma votação totalmente democrática, em que o resultado foi 3x1, eu fui o eleito para ir na frente até o apartamento gravado na barriga de Hillary. Tentei argumentar que o meu voto deveria valer mais porque sim (fica bem claro aqui porque eu não sou advogado, percebam a imensa capacidade de argumentar), mas Hillary começou a falar umas coisas jurídicas sobre sufrágio, voto igualitário, retrocesso e sei-lá-mais-o-que então, antes que ela se empolgasse muito, subi as escadas correndo porque quando ela entra no modo jurídico fica realmente assustadora.

Para vocês saberem o quanto, Jessica e Jimmy me seguiram de perto, deixando-a no pé da escada. Ela ficou embasbacada alguns minutos, esperando que a cara feia que fazia nos fizesse voltar e pedir desculpas por interromper seu discurso. Confesso que eu pensei em ir, mas Jessie me manteve firme. Após alguns segundos, Hillary subiu as escadas e parou atrás de Jimmy.

Como não havia porteiro ou qualquer pessoa para nos recepcionar, continuamos subindo as escadas até o segundo andar.

— Gente, eu ainda estou sob o efeito da "bebida especial" ou tá todo mundo vendo aquelas duas ratazanas brigando em cima da mureta? — Jessie disse, se escondendo propositalmente atrás de mim. Quando suas mãozinhas apalparam minhas costas, percebi que estava pronta para me usar como escudo humano, se fosse necessário. Ingratidão na sua mais clara forma.