Passo a mão pelo rosto, preocupada de parecer muito desarrumada. Não pensei em me arrumar para ir até uma oficina mas Aidan parece pronto para um ensaio fotográfico.

Perto dele me sinto uma mendiga.

— E você? Como pode parecer tão disposto em um domingo? Deve ter demorado horas pra se arrumar assim.

— Sinto muito te desapontar mas isso tudo aqui é natural, eu só tomei um banho. Reclame com Deus por me fazer assim.

Estreito os olhos.

— Seu amor próprio me comove mas não convence. Que horas acordou hoje para se emperiquitar todo?

Ele ri.

— Não é para me "emperiquitar" todo mas eu acordo todo dia às seis da manhã, se você quer saber.

Seis? O que você faz às seis da manhã em um domingo?! Você se odeia?

— Eu malho. Todo santo dia.

— Pensei que isso tudo que você tem fosse presente de Deus.

Aidan revira os olhos.

— Deus me deu... Mas eu mantenho, entendeu? Ele é generoso mas não é burro.

— Não sabia que você era religioso, Pastor Aidan.

Ele cai na gargalhada.

— Ah, anjo... Há muito que você não sabe sobre mim.

Para o meu desgosto, isso é verdade. Não conheço muito sobre ele e isso me deixa pensativa enquanto atravessamos a cidade de carro.

Depois da chuva de ontem, Ilha Bela ainda parece um pouquinho cinzenta e vazia. Para um povo que sempre foi mais chegado no sol, quando a temporada de chuva e frio chega, ninguém quer sair da cama, por isso as ruas estão mais vazias do que o normal.

— Eu gostaria de mudar isso — Anuncio.

— O quê?

— Não saber tanto sobre você.

— Pergunte o que quiser. Você sabe que se tem uma coisa que eu não tenho é filtro.

Dou um sorrisinho. Isso é a mais pura e inegável verdade.

Rael não se importa se o que vai sair da sua boca possa ser um absurdo, ele sempre diz as palavras com um sorriso no rosto como se tivesse recitando poesia.

Sobre o questionário, decido começar pelo básico.

É cedo demais para a ouvir as barbaridades nas quais ele pensa. Quero me poupar disso nas primeiras horas do dia.

— O que faz depois que malha, por exemplo?

— Está interessada no meu dia a dia? Ok. Geralmente tudo que eu faço é trabalho. Muito, muito trabalho. — Aidan pontua com um suspiro cansativo — Gerenciar um hotel inteiro exige comprometimento.

— Sério? Você me parece sempre tão tranquilo.

— Rá, não mesmo. Eu só aprendi a fingir que não sou tão ocupado assim. Se o meu celular não estivesse no silencioso, você veria o quanto de mensagens recebo por minuto.

— Que tipo de mensagens são essas?

— Bom, tem de tudo. Desde que saí de casa para te buscar já recebi umas cinquenta. O chef da cozinha queria resolver um impasse do menu do jantar que estamos organizando, muitos assuntos corporativos e chatos dos quais você não quer ouvir os detalhes, acredite em mim. Há compromissos, contratos, reuniões... É muita coisa mas eu não estou reclamando. Gosto de saber de tudo que está acontecendo no meu hotel.

MORDE E ASSOPRATahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon