Capítulo 02 🌺

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FERNANDA 🌷

Depois de uma hora ele chegou e minha mãe saiu para comprar alguma coisa pronta para almoçarmos.

Quando o Diego entrou no nosso quarto, eu comecei a chorar ainda mais e ele se assustou, correu até a cama e abraçou a minha barriga.

Fernanda: Meu amor... O nosso filho morreu, ele está morto dentro de mim, amor.

Diego: É O QUE?! COMO É QUE É FERNANDA?! VOCÊ NÃO FOI CAPAZ DE CUIDAR DO MEU FILHO?

A reação dele me assustou, ele levantou da cama e me deu um tapa no rosto que me deixou um bom tempo com o rosto virado ainda, com os olhos fechados.

Eu só escutei a porta bater e me encolhi inteira, fazendo carinho na minha barriga, a minha mãe demorou um pouco mais e voltou com lanche pra mim mas eu não conseguia comer.

Mirian: Filha, você precisa se internar. Não vamos esperar as coisas complicarem mais. Cadê o Diego?

Fernanda: Ele saiu, mãe. Também se desesperou... Melhor assim, quero fazer isso sozinha.

Após falar, peguei o telefone e entrei em contato com a minha obstetra que por sorte estava na maternidade onde eu teria o meu filho. Ela pediu para que eu fosse o mais rápido que teria a tarde para me atender. Falei com a minha mãe e decidimos ir logo.

Já na maternidade, vivi os piores momentos da minha vida, ela começou a me dar medicamentos para dilatar e depois de uma hora eu já estava trazendo o meu filho ao mundo.

Então, ela concluiu o parto e eu virei o rosto, não quis olhar de forma alguma e eu voltei a chorar dessa vez em silêncio enquanto finalizavam tudo para me levar para o quarto.

Eu só queria o Diego comigo, só isso.

Fui para o quarto e minha mãe estava me esperando, chorando, ela disse que o Diego estava vindo e eu respirei aliviada.

Sabia que aquele tapa tinha sido só um susto e mais do que nunca ele vai ficar comigo, a minha médica veio me ver e fisicamente nas primeiras horas eu estava bem.

O Diego chegou e minha mãe nos deixou sozinhos, ele estava sério e não falava nada, apenas sentou na poltrona, segurou a minha mão e ficou me acariciando.

Assim foi os dois dias que eu fiquei internada para garantir que não teria infecção alguma no meu corpo, ele só saiu para enterrar o nosso filho e voltou. Então, veio a pior parte, voltar para casa e mal sabia eu, mas ali começava o meu pior pesadelo.

Eu fui até o quartinho e já não tinha mais nada, comecei a procurar as coisinhas do meu filho e não tinha absolutamente nada, foi como se ele nunca tivesse existido.

O Diego ainda sério, mal esboçava reações, evitando ao máximo falar comigo enquanto eu só queria o meu filho comigo.

Eu passei o dia inteiro na cama, não comi e nem fiz nada, era só eu e o silêncio do meu quarto enquanto o Diego estava na sala assistindo televisão, agindo como se estivesse num dia de folga e eu comecei a me questionar se aquele tapa realmente tinha sido no calor do momento ou ele estava me culpando pela perda do nosso filho.

Os dias passavam e a comunicação em casa estava quase inexistente, o Diego não dormia mais na cama e mal olhava na minha cara e eu já estava ficando de saco cheio, querendo o meu marido comigo.

Já tinha mais de 15 dias assim, eu precisava do Diego do meu lado.

Foi quando eu decidi dar um basta, numa sexta à noite, depois que ele chegou da academia, sentou no sofá e foi beber cerveja enquanto assistia o jornal.

Foi realmente a gota d’água, eu sai da cozinha e fui até ele, ainda calma, eu precisava ouvi-lo para tentar chegar numa melhor solução para nós dois. Então, eu sentei do lado dele e fui fazer carinho nele, ele tirou a minha mão de cima dele com nojo e eu engoli a seco.

Fernanda: Amor, a gente pode conversar?

Diego: Não!

Fernanda: Então, só me escuta! Eu sinto sua falta, sinto falta do meu marido. Desde o Cadu, você não consegue me olhar, eu espero o seu abraço até hoje, mas você não deixa nem eu te tocar. Diego... — Eu suspirei — Ninguém está sofrendo mais do que eu, ninguém está sentindo o que eu senti, eu fecho os olhos e consigo lembrar de cada movimento e sensação do meu corpo para trazer o meu filho e por num caixão. Então, eu estou aqui te implorando, fica do meu lado. Eu preciso de você, só assim vamos superar isso juntos.

Diego: Superar?! Você mata o meu filho e quer me falar em superar? — Ele levantou e ficou de frente pra mim —.

Fernanda: Sim, superar! A dor sempre vai existir, mas eu quero evoluir por ele, porque sei que é o que ele quer de mim, o que ele quer de nós. O amor por ele nunca vai morrer, a falta dele muito menos. Porque sou eu quem vivo com um buraco no peito que não vai se fechar nunca. Você pelo menos conseguiu se despedir.

Então, ele me deu mais um tapa, como aquele que me deu no dia em que o nosso filho morreu. Porém, desta vez eu pude sentir a dor, senti o meu rosto queimando enquanto olhei para ele totalmente surpresa e incrédula.

De uma hora para outra, eu desconheci completamente o homem que estava do meu lado.

Um tapa não foi o suficiente, ele me deu mais um e apertou o meu pescoço.

Diego: Eu não tinha nem que estar aqui olhando para a sua cara, eu tenho nojo de você, você é fraca e foi incapaz de me dar um filho. Era só sossegar em casa, mas preferia se exibir, ter macho batendo aqui na porta querendo essas porras que você faz. Você é mesmo uma vagabunda! Não dirija mais a palavra a mim quando for falar do meu filho, sua piranha. Está me entendendo, assassina?

Eu quis responder, mas não tinha ar. Pude sentir o meu rosto esquentando, ficando corado enquanto aos poucos eu começava a perder os sentidos.

O Diego estava me machucando, como se estivesse numa luta no tatame.

Eu apenas fechei os olhos e foi quando ele me soltou, eu decidi abrir os olhos para olhar pra ele, foi aí que recebi um cuspe na cara e mais um tapa até que assisti ele ir para o quarto.

Eu continuava sem reação, sem conseguir saber o que fazer. Fiquei por quase uma hora assim, até que eu fui tomar um banho no banheiro social mesmo, pois ele estava no nosso quarto.

Eu fiquei por mais de uma hora sentindo a água cair pelo meu corpo só para não ter que sentir as lágrimas rolando num misto de dor, culpa e tristeza.

Flor que se cheiraWhere stories live. Discover now