Olhou para o conde mais uma vez e, de repente, a dúvida parecia não importar mais.


Ela o queria. E pela primeira vez em toda a semana, o anel pareceu despertar.


Logo. Logo estaremos juntos.


Mas não até que eu encontre um modo de escapar de mamãe, ela pensou, dando primeiro uma olhada para a janela, e então outra para a condessa.


Se ao menos pudesse desaparecer sem despertar atenção... Poderia abordá-lo e lhe murmurar um convite sedutor.


Venha comigo, Rockhurst. Faça amor comigo esta noite. Eu te amo como a nenhum outro, não quero nenhum outro homem.


E ele a seguiria, isso era tão certo quanto o fato de que o sol estava se pondo no horizonte, Ele a seguiria até o jardim, onde a abraçaria e a beijaria apaixonadamente. Entregue ao convite dela. Passando a noite inteira fazendo amor com ela.


Com ela. A Sombra dele. A mulher que ele amava.


Mas em seus pensamentos, ouviu uma voz não muito dife¬rente da voz de Lavinia Burke: Ele pode amar a Sombra dele, mas você? Lady Hermione Marlowe? Isso é piada...


As convicções de Hermione balançaram. O que aconteceria se ela caminhasse até lorde Rockhurst e fizesse o mesmo con¬vite, mas sendo ela mesma, a sem-graça e esquisita Hermione Marlowe?


Mordeu os lábios. Oh, céus, ela tinha apenas mais um minu¬to ou dois!


- Minny! - a mãe sussurrou. - O que está acontecendo com você? Está pálida!


- Não me sinto bem - Hermione disse, e era a pura ver¬dade. Nunca se sentia bem no momento de sua transformação. - Está muito abafado aqui dentro.


Seus joelhos tremiam. Nem ousava olhar para os sapatos, com medo que já tivessem sumido de vista.


- Oh, céus, menina! Não desmaie aqui dentro. Vai dar um espetáculo desagradável. Se não se sente bem, então saia para o jardim e respire bem fundo.


A mãe apontou para a porta, e Hermione não precisou de outra ordem. Saiu apressada, passando pelas matronas, pelas jovens bonitas e pelos cavalheiros galantes até se ver diante das portas francesas que levavam ao jardim.


Elas já estavam abertas para deixar entrar ar no salão. Hermione se viu no jardim e em meio à neblina.


Rockhurst percebeu uma jovem apressada junto às portas que davam para o jardim, e seu coração disparou. Olhou acima do ombro da jovem. Lá fora, a noite já estava chegando.


Sombra.


Tinha de ser. E apesar de que àquela distância ele não podia notar nada de particular na jovem, ele sabia bem.


Porque, em minutos, ela se tornara de visível a invisível. E ainda assim continuava uma desconhecida.


Mas não se ele pudesse alcançá-la.


Na semana anterior, nada mais fizera do que procurá-la, em todos os musicais entediantes, festas, bailes, e até passara uma noite inteira no Almack's, sempre esperando por aquele momen¬to em que os dedos dela tocariam no braço dele e a escutaria lhe murmurar um convite que lhes tomaria uma noite inteira de exploração.


Ele tinha ignorado seus deveres, suas obrigações, e temido acabar enlouquecendo de desejo.


Ignorando as exclamações escandalizadas e os olhares cheios de censura por ele estar abrindo caminho sem a menor ceri¬mônia, Rockhurst acabou chegando perto da porta quando lhe bloquearam o caminho.

Por trás das sombras - Elizabeth BoyleWhere stories live. Discover now