— Está tudo bem? — perguntou ele, se aproximando.

— Sim. Só estou um pouco preocupada com o que médico irá nos falar hoje sobre o estado do meu pai.

Um pouco preocupada não chegava nem perto de como eu estava. Uma angústia apertava o meu peito e o medo ficava mais forte a cada segundo. Ramon assentiu, deixando claro que me entendia e girou a chave no dedo indicador.

— Por que não vai ficar com a Cissa? Tenho certeza que ela vai amar te fazer companhia.

— Ela precisou sair com a Rosana, foram à cidade para resolver alguma coisa — falei, vendo-o franzir o cenho. — Não precisa se preocupar, eu vou ficar bem. Gosto de observar a fazenda, vou ficar sentada por aqui mesmo.

Ele ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse ponderando alguma coisa, até me olhar, decidido.

— Venha comigo, preciso visitar as outras baias. Aproveito e mostro um pouco mais da fazenda pra você.

Seu pedido me pegou completamente de surpresa, principalmente porque era óbvio que ele não pretendia passar mais tempo comigo do que o necessário. Eu não o julgava, até porque, assim como eu, ele havia sido pego desprevenido com toda essa história do acidente do meu pai e com o fato de ter que me receber com hóspede. Mesmo assim, decidi aceitar o seu convite e me levantei.

— Tudo bem, mas se achar que posso atrapalhar em alguma coisa, eu fico aqui sem problema algum.

— Não vai atrapalhar nada, não se preocupe com isso.

Descemos juntos os degraus de madeira e caminhamos lado a lado até um outro carro, que também era um 4x4 robusto, mas que tinha o símbolo da Fazenda Baldez em cada porta. Assim que ele girou a chave na ignição, o som ligou junto e uma música preencheu todo o carro. Antes que eu pudesse identificar qual era, ele desligou o som.

— Desculpa, tenho o costume de andar pela fazenda ouvindo música — falou, já colocando o carro em movimento.

— Não se desculpe, pode ligar o rádio. Quero saber o que estava escutando — falei, virando-me um pouco no banco para olhar para ele.

— Não acho que seja o tipo de música que você gosta.

— Eu escuto de tudo um pouco, não tenho preconceito musical — falei, olhando a tela digital onde ligava o som. Apertei e a música voltou a tocar. — Vamos ver se você tem bom gosto, Ramon Baldez.

Vi ele sorrindo de leve antes de trocar a marcha e me olhar com a sobrancelha arqueada.

— Vai achar que eu sou um velho.

— Por ouvir Guns N' Roses? — perguntei ao reconhecer a música. Vi como ficou surpreso por eu saber qual era a banda. — Por mais que seja uma banda dos anos 80, eu costumo acreditar que a música não tem idade.

— Pensei que só ouvisse músicas atuais.

— Eu escuto músicas atuais, também, mas gosto de tudo um pouco. E você?

— Não costumo ouvir as músicas de hoje em dia, não por ter algum tipo de preconceito, mas não por me identificar muito. Tem bandas atuais que eu gosto bastante, como U2, Coldplay, Nickelback... Mas se for olhar minha playlist, vai encontrar mais Bon Jovi, A-Ha, The Police e por aí vai.

— Entendi. Desculpa a pergunta, mas quantos anos você tem, exatamente? Eu chuto uns trinta e cinco.

Ele me olhou de lado e riu.

— Não pela minha personalidade jovial como a do Caio, suponho.

— Ah, não, perto dele você é como um senhor ranzinza de oitenta e nove anos... — brinquei e vi o sorriso desaparecer do seu rosto. Ai, merda! Meu coração chegou a falhar uma batida. — Desculpa, estava só brincando, eu não...

À Sua Espera - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now