Minha cabeça parece pesar cem quilos, mas me levanto rápido.
Rápido demais.
O mundo fica branco e conforme o sangue desce da cabeça me lembro do celular de Miguel. Da mensagem.
Não está nas poltronas, na cama, no criado mudo e nem no culote da minha cintura onde tinha colocado antes de dormir ao lado de Sarah.
Onde estava Sarah? E onde estava eu?
O celular. Foco.
Vasculho pelo quarto, na mesa, banheiro, guarda roupa e quando me ajoelho no chão para olhar debaixo da cama a maçaneta da porta estala. Levanto a cabeça o mais rápido que posso. Liz entra com seus cabelos e biquíni dourados.
– Ah, finalmente você acordou, preciso de fotos!
– Que dia é hoje? – Pergunto, me ajoelhando e cheirando o champanhe na taça em que ela me oferece. Minha prima parece ter saído de uma revista e eu uma refugiada.
– Domingo. – Ela enche a própria taça e faço as contas. Internamos Sarah na sexta, então devo ter dormido e viajado por um dia inteiro com Miguel até...
- Onde estamos? Eu não... Onde está Sarah? Porque...
- Xi... toma tudo, vai te acalmar. Porque está tão aflita? – Liz caminha para a frente do espelho e testa ângulos. Depois deixa a taça na mesa e pega o celular - É Fernando de Noronha, bebê. Nossas férias, lembra? E sua vó não veio porque ficou cuidando da empresa, como sempre faz e acho que meu lado direito é meu melhor ângulo, não acha?
Tomo o celular das mãos de Liz, que continuou posando para o espelho, e meus dedos são rápidos. Ligo para o celular de Miguel, assim conseguiria encontra-lo no quarto, e ouço chamar uma, duas vezes, até que ele atende.
ELE ATENDE. Desligo no mesmo instante e jogo o celular na cama.
- Ei, cuidado!
- Desculpa, eu...
- Ahr... coloca um short e vamos para a praia.
- Mas eu não... Não, preciso ligar para Sarah.
- Ai, depois você liga e...
- Não! – Agarro o celular e disco o número de Sarah no celular já que Liz não tinha o de Anelise. Para minha surpresa minha vó atende.
- Olá querida, tudo bem?
- Vó? A meu deus, Vó, a senhora está bem, está?
- Um minuto, .. Isso leve esses papéis para mim... Sim querida, tudo ótimo e com você?
- Você está...
- Trabalhando é claro. Já chegou a praia?
Tiro o telefone do ouvido. Aquilo não fazia sentido. Ela tinha se recuperado em um dia? Sarah nunca se recuperava em um dia, o que tinha acontecido? Liz tira o celular da minha mão.
- Oi Sarah, já estamos aqui curtindo sim! Beijos, depois ligamos, Tchau! Vamos agora?
Eu fico imóvel. Depois sigo Liz como um cachorrinho segue o dono pelas ruas, sem questionar, sem entender.
Liz explica que nossa pousada ficava na Baia dos Porcos, perto do que chamam de mar de dentro da ilha, e a praia mais próxima é em formato de lua minguante. Pedras escuras e azul cristal; aquilo parecia algo editado, projetado.
– Isso é per–fei–to. – Grita Liz, que começa a cantare eu continuo seguindo.
Nunca tinha sido muito próxima de Liz, na verdade éramos mais colegas do que qualquer coisa, mas não foi por isso que eu quis parar e sair correndo dali. Não foi porque seus olhos azuis combinavam com o mar e os meus não, ou porque seu corpo tinha dez mil seguidores no Instagram e nem porque ela se parecia com nossa família alva, clara e branca, e eu não. Isso tudo passou pela minha mente enquanto andávamos (acredite em mim, Liz é do tipo de menina que é impossível ignorar, ainda mais com um biquíni dourado) mas a verdade é que a cada passo eu me sentia sufocada. A luz do sol refletida água fez minha cabeça girar e gotículas de suor brotaram em minhas costas.
YOU ARE READING
Deuses Perdidos
FantasyO ar reage ao seu coração acelerado, o fogo queima com sua raiva. Roberta achava que esses e outros episódios eram coincidências, azar, até o dia em que é sequestrada pelo avô e quase morta pela própria prima, Liz: Um Signo da água. Com água nos pu...