― Agora sim, Pastel! ― Gabriel grita, brindando comigo.

Elay está bebendo também e conversando com Samuel bastante empolgada. Para ela não parece ser a primeira vez, já saiu com eles mais vezes que pude acompanhar e com certeza devo ter perdido muita coisa.

A primeira latinha me deixa um pouco zonzo e começo a rir de coisas que naturalmente não teria rido. Fico menos tenso e isso é motivo suficiente para que eu aceite outra.

― Vai com calma, ok? ― Maia sussurra no meu ouvido antes de me entregar a segunda latinha. Sei que ela está certa, já que não tenho costume de ter álcool no meu organismo, o que poderia acarretar num problemão. Mas prometo que essa será a última, até porque não seria nem um pouco inteligente chegar bêbado em casa.

Elay, por sua vez, não parece preocupada com isso. Na sua terceira latinha decide dançar, mas não sei se é porque está afetada pela bebida. A música que estoura das caixas de som é eletrônica, com uma batida contagiante e, por Elay ter tomado a iniciativa, outros se juntam a ela.

Não demora para que Maia me puxe para dançar também e eu nem ao menos reluto em aceitar. Não sou bom, mas é fácil me mexer no ritmo da música, que não exige nada muito além do que sou capaz de exercer. Sei que estar sentindo um leve entorpecimento torna o ato mais possível ainda e ainda mais empolgante.

Olho para Elay, que está pulando e girando sem se importar com nada além da música. Ela é tão encantadora que sinto meu estômago revirar, é repulsivo pensar que o que aconteceu na praia nunca mais poderá se repetir; a sensação ainda está viva demais na minha memória para agir como ela, que não deu a menor importância.

― Alô, Planeta Terra chamando! ― Maia estala os dedos na frente do meu rosto e percebo que já faz um tempo que parei de me movimentar. ― Tá tudo bem?

Faço que sim com a cabeça e desvio o olhar para os pés. Retorno a me sentar no pufe e acabo pegando outra cerveja do cooler que Gabriel está cuidando, ele grita me incentivando e faz com que eu brinde minha latinha com a garrafa de vodka que ele está bebendo no gargalo. Maia não me acompanha, mas fica um tempo me observando enquanto dança.

― Você é um cara muito esquisito ― Gabriel diz, ocupando o pufe que era de Maia. ― Mas eu gosto de você.

― Valeu? Acho ― digo.

― Maia também gosta...

Dou um suspiro.

Ele começa então a me contar sobre sua ex-namorada e como ainda é apaixonado por ela, o que me obriga a simpatizar mais por ele. Não demora muito para que ele enxugue algumas lágrimas e vomite num arbusto, sumindo para dentro da casa logo depois.

Elay só para de dançar quando Bianca e Glorinha chegam também à festa, o que me deixa bastante surpreso. As duas estão bastante arrumadas e aparentam ser alguns anos mais velhas graças a maquiagem. Minha amiga lhes entrega cerveja e eu fico um pouco irritado (mesmo que o chão já esteja se movimentando), porque percebo que elas também estão mudando.

As três saem, mas eu não vejo quando e nem para onde. Estou ocupado demais com as percepções esquisitas que a cerveja me traz, como estar perdendo a sensibilidade no rosto e nas mãos. Apenas quatro cervejas são capazes de me deixar dormente e por isso decido ir até o banheiro jogar água no meu rosto.

A sala da casa dos meus tios está abarrotada de gente, o tapete central foi feito de pista de dança e os sofás de locais de namoro. Demoro a conseguir chegar ao banheiro, tendo que me espremer pelas pessoas. Há uma pequena fila encostada na parede e eu me junto a ela, aproveitando para observar a cena.

Você Acredita em Humanos?Where stories live. Discover now