A BRISA DA ESPERANÇA

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OS DIAS PASSAM E fica cada vez mais difícil respirar. A dura rotina já foi instaurada: acordar, tomar um longo e demorado banho – a única coisa que faz eles se lembrarem da realidade –, tomar café da manhã – cada um no seu canto, em silêncio, com olhares de desconfiança e as vezes de fúria –, procurar incessantemente por uma saída – repetindo os mesmo lugares, os mesmo andares e as mesma confusões de portas e –, se isolar em seus quartos, aumentar a intimidade com alguns – se querem sair vivos todos são necessários, menos o traidor, e isso já ficou claro para todos –, e dormi agoniantes e pequenos sonos que são atrapalhados por cada mísero barulho – é difícil dormi embaixo do mesmo teto que um assassino.

–Podemos conversar? – José pergunta adentrando o quarto de Nícolas.

Ele está deitado na cama comendo uma barrinha de cereal, ele pensa por um tempo enquanto mastiga a comida e por fim concorda.

–Faz alguns dias que você está dormindo nesse quarto... sozinho. Estava pensando se eu poderia ficar aqui com você, não quero mais dormir no quarto que eu estou!

–Existe vários outros quartos vazios, você pode escolher qualquer um. – Nícolas ouve José bufar.

–Se eu quero sair desse lugar vivo eu preciso de aliados, de amigos, alguém que eu possa confiar. Tem que concordar que Thaís e Davi não são as melhores pessoa para isso!

–E por que eu deveria confiar em você? Você pode me matar a qualquer momento enquanto eu durmo. Eu sou o único que dorme sozinho. – Nícolas se arruma mais confortavelmente na cama.

–Eu poderia passar o dia falando aqui e você nunca acreditaria em mim. Mas ao contrário de todos eu confio em você, você parece ser o mais apto a sobreviver a tudo isso, você pode não confiar em mim, mas eu confio e acredito em você.

–Você não confia neles, tem algum motivo específico? Se vamos ser parceiros agora precisamos avaliar todas as possibilidades e o que está sendo feito.

–Thaís quando não está chorando ou surtando está reclamando de alguma coisa. Davi é um poço de bondade e quer o bem de todos, acho que esse é um ótimo perfil de alguém que quer ferrar com a vida do próximo, precisam de máscaras aqui dentro. Além de que, eu preciso de pessoas com coragem, pessoas fortes e que não pensem com a emoção o tempo todo.

–E esse alguém sou eu?! – Nícolas sorri.

–Esse alguém é você e juntos vamos conseguir escapar dessa merda, mesmo que para isso tenhamos que matar todos os outros! – José retribui o sorriso e o olhar duro de Nícolas conforta ele.

¨¨


–Esse não é um dos melhores cômodos daqui. – Davi fala chegando perto de Thaís que está sentada no banco de ferro olhando para a piscina.

–É o único onde eu consigo me sentir segura e sozinha! – ela responde.

Davi percebe os olhos vermelhos dela, de quem deveria estar chorando a bastante tempo. Ele não entende o que se passa na cabeça dela para fazê-la agir assim, quer saber, mas não sabe como perguntar. As marcas no seu corpo continuam a amostra, nos mesmos lugares, algumas já estavam cicatrizadas deixando-a com um aspecto bizarro. Ele se senta ao seu lado.

–Você está bem? – Ele pergunta apontando para os arranhões.

–Sim, eu vou sobreviver...

–Como sabia o que era para ser feito para que elas ficassem melhor tão rápido? – Davi questiona.

–Eu não faço ideia, é como saber atirar, eu só sei. É como uma intuição sabe?! Como se eu já soubesse e só tivesse esquecido, é tão estranho! – ela fecha os olhos por um instante. –Encontraram alguma coisa? – Thaís continua, tentando mudar de assunto.

–Voltei agora, estou cansado! As meninas continuam procurando, elas não querem parar... talvez o medo esteja impulsionando-as.

–E Nícolas? – pergunta.

–Continua sem querer ajudar!

–Ainda? Se ele prosseguir assim vai estar na lista de todo mundo.

–Ele já está, a história da filha provavelmente não foi tão comovente assim. Mas outra pessoa também está na lista de suspeito... – Davi toma cuidado com essa última palavra. –...você!

–O que? – ela se choca.

–Você só fala comigo praticamente, fica isolada... as pessoas não entendem a forma que você lida com as coisas, mesmo ajudando a procurar a saída. Elas acham que você está esperando o momento certo para atacar.

–Concorda com eles? – ela se vira para encará-lo.

–Eu não quero, mas eu preciso de mais... – ela não responde, nem respira. –Por que você não quis falar da sua família como todo mundo?

–É complicado falar da minha família, principalmente com desconhecidos. Você não pode me culpar! – Davi sabe que é verdade, histórias são diferentes umas das outras assim como a confiança.

–Eu posso imaginar que seja difícil para você contar isso, mas está todo mundo se aliando e eu preciso de você. Dormimos no mesmo quarto faz alguns dias, conversamos sempre, eu sou a pessoa mais próxima de você aqui dentro. Eu quero contar com você, mas primeiro você tem que me falar... – Davi nunca olhou tão fundo nós olhos de alguém como está fazendo agora e isso deixa ela envergonhada.

–Desculpa! Eu quero muito, mas eu não consigo. Eu sei que é pedir demais para você confiar em mim, mas eu não tenho muito o que dizer e isso fica a seu critério. Eu não pedi para estar aqui, eu nunca quis nada disso... principalmente matar pessoas, eu nunca faria isso! Precisamos achar a saída para eu poder sumir desse lugar e fingir que eu nunca vivi nada disso. – ela confessa.

–Tudo bem, só tenha cuidado! Ficar chorando por aí e se fechar para as pessoas pode causar a sua morte. Eu quero ser seu amigo e quero que todo mundo saía bem daqui, de verdade. – ele dá um pequeno e forçado sorriso, segura na mão dela e se retira da área da piscina. Ele desejou ter feito tudo ao contrário, ter insistido mais, tentado mais, se esforçado mais para tentar ajudá-la..., mas ele está longe dela agora, como ela está de todos desde que chegou ali. Se ela for mesmo a traidora, está usando métodos errados.

Katarina brota na frente de Davi impedindo sua passagem. Ela está ofegante, suando bastante e um pouco descabelada. Seu olho está arregalado e ela fala pausadamente enquanto recupera o fôlego. Só o final é compreensível.

–...achamos uma porta, ela é a única que está trancada da mansão inteira, acho que a saída está atrás dela... – Thaís se levanta em sobressalto e Davi demora para processar as palavras ditas.

Quando ele termina de processar o que foi dito Katarina já está correndo de volta com seus cachos dourados flutuando, ele corre atrás dela junto com Thaís rezando para que esses sejam seus últimos minutos dentro dessa terrível mansão.

Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]Место, где живут истории. Откройте их для себя