Epílogo - Nem tudo foi o que pareceu ser

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Estávamos atravessando o corredor em direção ao quarto em que Yoongi, o último humano com problemas em sua Redenção, havia ficado. O local era escuro, tremendo, e tinha um cheiro de carvão puído e tangente. As escadas se desenrolavam como o rabo de um rato, às vezes como como a concha de um caracol, e podiam seguir de ponta-cabeça ou normalmente. A sensação era de que estava caminhando por um labirinto infinito, acompanhado por uma gárgula falante comicamente encarregada de fazer os humanos condenados não saírem das Filas.

— Quando o humano cai aqui, mas não é para estar aqui, isso quer dizer que o universo está o pondo em teste.

— Que tipo de teste? — Perguntei, genuinamente curioso.

— Algo relacionado ao que reside na essência desse ser. Os testes são realizados aqui, pois somos bem conhecedores do único método capaz de revelar as verdadeiras intenções de um humano.

Engoli em seco, seguindo-o por mais um corredor, dessa vez mais estreito e confinador que os demais.

— Que... — Gaguejei. — Que método?

Rubel sorriu, e seu sorriso me causou calafrios.

O método do medo — respondeu.

... — Você foi submetido a uma série de desafios, Jimin — disse Rubel, ainda encostado contra a porta, enquanto ambos encarávamos meu reflexo no espelho sujo do quarto vermelho.

A água da banheira respingava no chão, relembrando-me que estive afogando nela por quase trinta dias.

— Mas o seu não foi um teste qualquer, como o de Yoongi ou do outro que o antecedeu.

— Por que? — Perguntei baixinho, encarando-o através do reflexo do espelho.

Ele tinha o mesmo sorriso tenebroso de antes.

— Porque você foi curioso e não me escutou quando disse para não sair pelo castelo sozinho. Não me escutou quando disse...

... — Tenha paciência — disse Rubel, então virou-se e começou a se afastar para cada vez mais longe. — Ah! — E parou de repente, retornando para avisar: — Não saia por aí bisbilhotando! Coisas estranhas acontecem com quem se perde por aqui.

Estremeci.

— Que tipo de coisas estranhas?

Ele gargalhou.

Coisas estranhas.

Então, virou-se e começou a voar até desaparecer por completo.

Encostei-me contra a parede vermelho-escura com tochas e quadros fixados em sua superfície e, pela primeira vez depois daquele desastre, permiti-me digerir todas aquelas informações em um choro retumbante, regando minha pele com lágrimas de sofrimento e inquietação. Esse não é meu lugar, eu chorava, tudo é tão escuro e estranho! Senti-me esgotado no final, atormentado por uma dor de cabeça sufocante. A sensação de que eu não pertencia àquele lugar estava corroendo meus ossos cada vez mais.

— Mais uma coisa! — Rubel reapareceu com um sorriso maléfico nos lábios. — Caso queira saber, você morreu mesmo de fome. Irônico, não?

Então desapareceu de vez, deixando-me ainda mais vulnerável e depressivo para trás.

... — Talvez você não seja capaz de lembrar agora o que aconteceu quando o deixei sozinho na frente de seu quarto, mas estou aqui para lembrá-lo — prosseguiu, fechando a porta do quarto vermelho atrás de si. — Você quer lembrar, Jimin?

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora