1595 - Soneto 008

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Pede o desejo, Dama, que vos veja,
não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa a qual natural seja
que não queira perpétuo seu estado;
não quer logo o desejo o desejado,
porque não falte nunca onde sobeja.

Mas este puro afeito em mim se dana;
que, como a grave pedra tem por arte
o centro desejar da natureza,

assi o pensamento (pola parte
que vai tomar de mim, terreste [e] humana)
foi, Senhora, pedir esta baixeza.

ANÁLISE

O soneto 08 indica uma temática menos universal porque dialogo, no mundo tangível, com sua dama. Mesmo assim, o esforço em negar o prazer físico projeta o texto para o neoplatonismo, novamente. Um outro elemento é acrescido e interpõem-se em relação aos enamorados: o amor delgado, fino, perfeito.

O EU-lírico afirma que o Amor está enganado pois ele existe em mair quantidade no desejo. E assim o poeta traça uma tensão: não conseguiria resistir ao desejo de pedir uma retribuição amorosa em relação à ideia de amar só em pensamento.

Assim, deixa claro no final, que a parte responsável pelo ultraje de galantear a moça é sua parte humana, vulgar, vil. Daí o adjetivo “baixeza” qualificando o homem em relação a “senhora”, marcando a superioridade da mulher. Camões de vale do pacto de vassalagem, tão caro à poesia trovadoresca e ainda mundo agraciado por poetas e leitoras do mundo todo.

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