1595 - Soneto 092

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Mudam se os tempos, mudam se as vontades,
muda se o ser, muda se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía

ANÁLISE

A tônica investida neste soneto não é a lírica, mas a filosófica – outro tema caro aos renascentistas. Camões aborda a transitoriedade das coisas à moda de Heráclito: tudo muda, o universo é múltiplo, dinâmico e constante em sua amada.

Este poema pode se classificado como maneirista em função da quebra de harmonia e felicidade e uma aproximação do pessimismo contrarreformista: “do mal ficam as lembranças e do bem (se algum houve), as saudades. Parece que o deslumbramento com o ser humano se perdera.

Os tercetos fixam o tempo na estação primavera, oposta ao frio inverno – uma cena de felicidade contrária os quartetos, demasiadamente tristes. O mundo parece acompanhar sua própria movimentação: o doce canto, da primavera, virou choro e o mundo estacionou neste momento. Subjetivamente, o poeta percebe que não há mais chance, para ele, de que a dinâmica da transitoriedade continue. Está fadado ao sofrimento.

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