28. Aflição

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Fiquei mais alguns dias no hospital em observação, e a cada dia que se passava eu me sentia mais viva. Os últimos dias tinham sido intensos. Eu já havia publicado sobre a minha gravidez e sobre o casamento e virei notícia em todos os cantos. As rádios, revistas e programas não paravam de ligar para produção. Estava tudo uma verdadeira loucura. Sem contar os fãs que vira e mexe tentavam invadir o hospital. São uns maluquinhos mesmo.

Estava perdida em meus pensamentos quando Rogers chegou no quarto de muletas e ainda com o pé engessado, porém sorria e trazia um buquê de flores. Obviamente sorri com a cena, mas fiquei com medo dele cair.

-Bom dia minha linda!
-Bom dia meu amor!

Ele veio até mim, me deu um selinho, sentou-se na cama e me deu um lindo buquê de lírios brancos e roxos. Sorri ao ver o cartão e que era de um fã. Prontamente o abri para ler.

-"Para a nossa Rainha. Que esse príncipe ou princesa venha trazer alegria ao nosso reino. Amamos você e torcemos pela tua melhora logo. "

Sorri para o bilhete e não via a hora de estar de volta aos palcos. Rogers sorriu comigo e deitou ao meu lado se aconchegando em meu peito. Levei minha mão à sua nuca e comecei a acariciá-lo ali.

-Tô ansiosa pra voltar aos palcos, sabia?
-Eu sei, mas vai ter que ir devagar. Você está grávida...
-Eu sei, mas eu aguento. Na gravidez da Yasmin fiz show até 1 semana antes dela nascer.
-Eu sei, lembro bem, mas aquilo foi loucura. Você correu um milhão de riscos... Sem contar que você não tem mais 30 anos né?!
-Por acaso está me chamando de velha senhor Rogers?!
-Claro que não sua besta, só estou chamando sua atenção para os riscos e é obvio que não vou te deixar subir ao palco assim...
-Mas não sei se vou aguentar ficar tanto tempo longe dos palcos.

Era duro pensar nessa possibilidade. Cantar e dançar era o que eu mais gostava de fazer nessa vida. Aliás era o que eu sabia fazer de melhor, era o que me trazia alegria e me dava prazer. Nãos conseguia me imaginar longe dos palcos, mas era algo temporário e por um bom motivo. Dei conta uma vez e agora não seria diferente. Meus pensamentos voaram e logo me lembrei de quando estava gravida da Yasmin, que época boa! Pude notar um sorrindo surgindo em meu rosto, enquanto eu continuava acariciando a nuca de Rogers. Mas logo esse pensamento se desfez, quando me lembrei o motivo que me levara a estar ali. Chimbinha! Droga, porque eu teria que me lembrar desse traste justo agora. Meu semblante mudou. Senti um aperto no peito e fiquei curiosa para saber o paradeiro daquele homem. Decidi perguntar a Rogers da forma mais delicada possível, sabia que ele ainda estava abalado por tudo o que tinha acontecido.

-Rogers... Sei que não quer tocar no assunto, mas preciso falar saber sobre ele... Ele está bem?!

Senti Rogers hesitar para me dar uma resposta e teu corpo ficar tenso.

-Bom... Com o acidente e tudo que aconteceu, a Natália não teve condições de administrar nada. O Yago foi mais "cabeça" e tomou a frente de tudo. Ninguém sabia nada do Chimbinha, a não ser nós que estávamos lá. Yago não sabia o que fazer e conversou comigo sobre qual atitude tomar. Por conta de Yasmin, sugeri que Yago internasse ele por aqui mesmo. Por conta da logística de ir e vir, ele acabou ficando nesse mesmo hospital. Ele teve sérias lesões no crânio e não vai acordar mais. Não há reações por parte dele...

Ouvia tudo o que Rogers falava com atenção e as lágrimas não paravam de rolar por todo meu rosto. Apesar de tudo, foi com ele que dividi a maior parte da minha vida. Eu amei aquele homem, e ouvir tudo aquilo doía. Eu chorava igual criança. Não queria o mal dele apesar de todo mal que havia nos feito, mas ele ficou cego e pelas suas próprias atitudes se colocou naquela situação. Rogers prontamente se sentou na cama com o pé engessado estirado, e me abraçou acariciando meus ombros. Aos poucos fui me acalmando, enquanto ele me deu um pouco de água.

-Não fica assim princesa... Se quiser transferimos ele de hospital, sem problemas.
-O problema não é esse. Eu não me importo com isso, não iria negar ajuda a ele, muito menos nessa situação, mesmo sabendo que ele mesmo tinha sido o culpado. Eu só não queria que acabasse assim. Eu não queria que ele morresse, eu não queria esse fim para ele.

Voltei a chorar copiosamente. Não havia sentimento de amor, mas triste por as coisas terem acabado desse jeito. Tinhas esperanças que um dia ainda pudéssemos resolver tudo isso e viver em harmonia.

Depois de um tempo processando tudo aquilo, me acalmei. Rogers pacientemente permaneceu ao meu lado, me tranquilizando, enxugando todas as minhas lágrimas e me falando a todo tempo que tudo ficaria bem. Me desvencilhei do seu abraço, com o rosto um pouco inchado, olhei para ele nervosa como se não tivesse mais saída e fiz um pedido.

-Eu quero vê-lo!
-Calma Jô, não é bem assim... Você passou por muito estresse ultimamente, não sei se é bom passar por mais essa agora... Por favor, lembra do nosso bebê. Lembra que agora você vive por dois.

Rogers voltou a me abraçar, e eu me lembrei novamente que agora carregava um pacotinho dentro de mim. Não sei ao certo em que momento, mas me aninhei ao peito de Rogers e dormi com meus pensamentos embaralhados, ora pensando em minha nova vida com Rogers, ora lembrando do ocorrido.

*Rogers*

Assim que ela adormeceu, com cuidado me levantei da cama e me sentei na poltrona ao lado da sua cama. Assim que me sentei, bufei de raiva e cobri meu rosto com uma das mãos. Como pode?! Mesmo ele vegetando numa cama ainda sim conseguia tirar a paz de todos! Sinceramente, preferia que ele estivesse morto, pelo menos desse jeito não daria tanto trabalho. Olhei para Jô, ela dormia, mas não parecia tranquila. Seu rosto parecia tenso, mas não quis acordá-la. Levei uma de minhas mãos até o seu cabelo e comecei a fazer carinho ali mesmo.

-Aaah loirinha, mesmo com esse cara fazendo o que fez você não deixa de fazer o bem.... Te admiro tanto e tu nem sabe...

Passei mais um tempo fazendo carinho nela, que dormia profundamente, agora parecia mais relaxada. Peguei minhas muletas e saí do quarto fechando a porta. Me dirigi até uma área mais calma que eu poderia fazer uma ligação de forma mais tranquila. Me apoiei em uma parede sem colocar meu pé quebrado no chão, peguei meu celular e de imediato liguei para Yago que prontamente me atendeu. Passei toda situação referente a sua mãe e Chimbinha para ele. Ele ouviu tudo com atenção, me garantiu que pensaria em algo e que assim que tivesse um plano viria para cá me encontrar. Agradeci, pois estava perdida diante toda aquela situação. Ele era filho, conhecia os dois melhor, saberia o que fazer. Aproveitei e liguei para babá para saber como Augusto estava. Graças a Deus ele estava bem, se divertindo e brincando.

Guardei o celular no bolso e decidi voltar para o quarto. Quando cheguei no corredor me deparei com a Dra Samantha.

-Opa! Olá doutora!
-Olá Rogers, tudo bem? Como vai a nossa paciente?!
-Estou bem preocupado sabe?! Ela me perguntou do ex marido e eu contei tudo para ela, ela ficou muito nervosa e chorou bastante. Mas agora ela está dormindo.
-Poxa, isso não é legal. Sei que ela é uma mulher forte e saudável, mas na idade dela essa gravidez é de risco. Ela sofreu um acidente há poucos dias, e passar por mais um trauma psicológico agora não seria bom para o bebê...
-Eu entendo, mas fiquei de mãos atadas sem saber o que fazer. Ela merecia saber o que estava acontecendo.
-Tudo bem, compreendo seu lado. Vamos ficar de olho nela, monitorando de hora em hora. Qualquer alteração eu aviso a você, ok?!
-Ok! Obrigada doutora!

Ela sorriu e acenou com a cabeça seguindo seu caminho. Eu segui o meu de volta ao quarto da Joelma. Deixei as muletas de lado e fui mancando até a poltrona. Observei Joelma por alguns instantes que ainda dormia na mesma posição, peguei meu celular e fiquei vagando na internet esperando alguma notícia de Yago e pensando em algo que eu pudesse fazer para amenizar a situação de Joelma.

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