Capítulo 66 - Kiara Ward - parte I

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Encaro a mesa me sentindo satisfeita. A decoração está impecável, com um ar romântico, mesmo que essa não seja a intenção. Queria que fosse um jantar diferente do que estamos acostumados então não medi esforços para decorar conforme aprendi em um tutorial. Me sinto radiante com o meu trabalho. No começo foi um pouco complicado, mas com a supervisão de Mari consegui preparar o jantar. Pela primeira vez me senti entusiasmada fazendo algo diferente. Sempre gostei de um bom desafio, mas nenhum deles incluía afazeres domésticos e me surpreendi com a minha dedicação.

Quando Santiago sugeriu um almoço eu automaticamente me desesperei pensando que ele estava propondo que eu cozinhasse, mas mesmo não se tratando disso, abracei a ideia e sugeri esse jantar. Por um momento, enquanto preparava a refeição, me senti insegura pensando que algo poderia sair errado. Eu realmente desejava que tudo desse certo, por isso tratei de espantar esse pensamento e mantive o foco no que estava fazendo.

Depois de deixar tudo pronto e arrumado, subo para o meu quarto para tomar um banho. Quando termino, ando de um lado para o outro enrolada na toalha, indecisa sobre o que vestir. Estou completamente confusa de como eu devo me arrumar. Depois de tanto pensar, decido me vestir de forma casual, um vestido solto de seda branco com alcinhas. Em seguida cuido da minha aparência, faço uma maquiagem bem leve, o mais natural possível. Finalizo ajeitando meus cabelos, deixando-os soltos.

Encaro meu reflexo no espelho, conferindo meu visual e sorrio satisfeita. Saio do quarto e desço as escadas. A casa está silenciosa, havia apenas eu e os seguranças do lado de fora. Olho o grande relógio na parede e percebo que já passa das sete horas da noite. Sinto um certo nervosismo percorrer pelo meu corpo, nunca estive desse jeito por causa de um jantar.

— Calma, é só um jantar, um acordo estúpido. — falo para mim mesma na tentativa de me acalmar.

Ando até a área externa, no deck onde havia arrumado tudo. Olho mais uma vez para mesa e começo a achar tudo exagerado, as flores, as velas, tudo grita romantismo, talvez eu tenha me excedido um pouco. Quando estava prestes a tirar todas aquelas coisas, sinto uma presença no ambiente e me assusto quando vejo o tio de Santiago me encarando severamente. Só o havia visto uma vez quando cheguei na casa e ele deixou bem claro que não aceitava minha presença.

— O que você faz aqui? Até onde sei, Santiago o proibiu de aparecer sem avisar. — questiono. Posso estar enganada, mas depois do que ouvi a seu respeito, duvido que Santiago queira seu tio aqui.

— Eu não sei se ficou claro na primeira vez que nos vimos. — ele começa e faz uma pausa enquanto tira um cigarro do bolso acendendo em seguida. Observo cada movimento seu sem me abalar.

— Não quero que se envolva com Santiago. Ele pode não enxergar que você está se aproximando por puro interesse, mas a mim... — ele faz outra pausa enquanto leva o cigarro até sua boca, sorrindo de forma cínica — Você e seu irmão não me enganam.

Não consigo segurar o riso. Esse homem só pode estar ficando louco por cogitar algo assim.

— Interesse? Em que exatamente? — me recomponho do meu ataque de riso — Você só pode estar de brincadeira comigo, francamente. Sobre me envolver com seu sobrinho, isso não é você quem decide.

— Depois da morte do seu pai é óbvio que os integrantes da máfia de vocês estão instáveis. — vejo ele se aproximar um pouco, mantendo uma pequena distância entre nós — Ouvi boatos de que existia um possível usurpador e assim, do nada, você e seu irmão se aproximam do Santiago.

Ele lança um piscadela e se afasta em seguida. Se sua intenção é me desestabilizar, está falhando miseravelmente.

— Vocês precisam de um aliado forte. — ele continua tragando seu cigarro — Santiago às vezes pode ser estúpido e não conseguir ver as coisas, mas eu estou sempre por perto para intervir quando tudo fugir de seu controle.

— Eu não tenho nada a ver com a máfia da minha família e quando conheci Santiago era ele quem estava na nossa suíte do hotel fazendo acordos com meu irmão. — falo impaciente lembrando desse dia, principalmente o motivo do acordo entre eles — Você ainda não disse o que quer aqui. — cruzo os braços sobre o peito, encarando o homem.

— Quero que não se envolva com meu sobrinho, isso acabaria com meus planos. Então faça um favor para si mesma e se mantenha longe ou coisas ruins podem acontecer.

Hoje com certeza não é meu dia de sorte! Já basta ter tido que lidar com uma mulher louca mais cedo achando que tinha alguma moral para me expulsar dessa casa, agora tenho que lidar com a fúria do tio de Santiago, os dois com o mesmo objetivo, querendo me afastar desesperadamente dele como se tivéssemos algum envolvimento. Estou começando a desconfiar que exista algum motivo maior por trás disso, não tem outra explicação.

— Você está me ameaçando? — arqueio uma sobrancelha — Pois saiba que eu não tenho medo de você e, sinto informar, mas não vou me afastar de Santiago, a não ser que ele queira e até agora não acho que seja o caso. — ele gargalha caminhando até a saída, mas para abruptamente.

Eu sei que Afonso está confundindo tudo, mas também não faço questão de explicar nada. Não lhe devo nenhuma satisfação, ele que pense o que quiser.

— Não foi uma ameaça, foi um conselho. — ele vira seu rosto com um olhar desafiador — Você não precisa ter medo, a única coisa que precisa ter é inteligência para se afastar do meu caminho. — dito isso, ele sai sem olhar para trás.

— Idiota! — falo em voz baixa para mim mesma e volto minha atenção para mesa. Tiro as flores e as velas, aquilo não fazia mais sentido para mim, deixo tudo o mais simples possível.

[...]

Estou na cozinha quando ouço um barulho da porta batendo. Soube no mesmo instante que é Santiago e pela forma como bateu a porta, sei que está de mau humor. Logo depois ouço sua voz me chamando.

— Hey... — falo quando chego na sala e, como havia imaginado, ele está um pouco alterado — Aconteceu algo? — questiono.

— O que o Afonso veio fazer aqui? — dispara enquanto tira sua gravata — Eu já cansei de falar para esses idiotas que não quero você sozinha com o meu tio.

Mordo o lábio inferior confusa. Penso se devo falar a verdade sobre o real motivo da visita de seu tio. Não tenho porque mentir e eu realmente não quero. Esconder de Santiago algo sobre seu tio pode me trazer consequências depois.

— Humm... Seu tio acredita que eu esteja me aproximando de você por interesse, ele acha que eu e meu irmão estamos tramando algo contra a máfia de vocês. — faço uma careta instantânea com essa suposição estúpida — E veio até aqui para exigir que eu me afaste de você.

— Ele o quê? — questiona indignado — Afonso passou de todos os limites.

Apenas aceno com a cabeça, dando de ombros. Meus olhos acompanham seus movimentos enquanto desabotoa a camisa. Quase não o vejo sem camisa e quando tenho a chance, é quase impossível não apreciar a visão. Suas tatuagens o deixam ainda mais sexy. Desvio meu olhar rapidamente sentindo meu rosto corar.

— Vou tomar um banho e já desço para conversarmos, okay?

— Ok!

Observo Santiago subir as escadas e quando ele desaparece da minha vista, aproveito para ir até a cozinha. Coloco a comida para esquentar no micro-ondas, pois já estava ficando morna devido o tempo de espera. Termino antes mesmo de San descer. Arrumo a mesa exatamente como estava e volto para sala.

A Máfia Entre NósWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu