— Bella. — ele disse, puxando minha mão das de Christian e segurando na frente do meu corpo.

Foi uma das poucas palavras em italiano que eu entendi. Eu sorri brilhantemente para ele e balancei a cabeça em agradecimento pelo elogio espontâneo.

— Meu nome é Antonio e eu vou ajudá-lá a escolher o guarda-roupas dos sonhos. — ele murmurou em inglês perfeito. Seus olhos me avaliaram por um instante enquanto seu sorriso crescia. — Um corpo maravilhoso. Tamanho 36, certo?

— Sim, mas as vezes 34. Depende da confecção do sutiã. Como pode ver a natureza não me ajudou nesse quesito, mesmo o sangue latino correndo nas veias. — ele riu, acariciando meus pulsos.

— Oh minha querida. Roberto Cavalli adora formas perfeitas como a sua. Venha, vamos deixar Christian descansar enquanto escolhemos as peças ideais.

Christian sorriu e foi até o sofá preto de veludo próximo a nós. Antes dele se ajeitar melhor já havia uma garrafa de Moët a sua espera e a vendedora que nos recepcionou estava ao seu lado sorridente com uma taça em sua direção. Ele a ignorou novamente e olhou para mim com um sorriso presunçoso antes de alcançar um jornal sobre a mesinha de centro.

Antonio sorriu para mim e agarrou o meu pulso, me puxando para um provador impressionante. Ele trouxe dezenas de peças as quais eu vesti com indisfarçável satisfação. Tudo o que pude ver foram algumas etiquetas com preços absurdos. Eu poderia facilmente comprar uma cobertura na Fifth Avenue com a pilha que ele separou. Depois de mais de uma hora eu escolhi algumas peças que foram embaladas em sacolas de cetim e entregues nas mãos dos seguranças de Christian.

Nas lojas seguintes não houve diferença; uma recepção calorosa, as atenções femininas voltadas para Christian e peças caríssimas. Prada, Chanel, Louis Vuitton, Christian Louboutin, Manolo Blahnik, Gucci e, finalmente, Victoria Secret's.

Christian não falou quase nada. Toda vez ele somente se sentava e folheava o jornal ou digitava no celular enquanto brincavam de boneca comigo. Cheguei a mostrar alguns modelos, mas ele não parecia interessado. Por um lado eu gostei, mas uma parte de mim se irritou com a indiferença dele.

A instabilidade dele e dos seus sentimentos me confundiam mais e mais. Hoje de manhã ele jurou ter voltado mais cedo porque não conseguia ficar longe e agora que ele tem a oportunidade de me ver desfilando em roupas  maravilhosas me ignora como se eu nem mesmo existisse.

A Victoria Secret's nos recebeu com uma explosão assustadora de rosa. Nas paredes, sofás, cortinas e eu estremeci.

Rosa é a pior cor do mundo. Por que caralho alguém pintaria uma parede de rosa?

Christian olhou para mim sem nem ao menos tirar a porra do telefone da orelha.

— Essa é a última loja. Você deve estar cansada e não temos mais tempo. Leve isso em consideração para fazer as suas escolhas. — ele disse indiferentemente e se jogou no sofá voltando a falar no celular.

Ele era a porra de um ogro do caralho, o filho da puta.

Eu olhei para ele com desaprovação, não por ser a última loja, mas pela forma como ele me tratou e na frente de todos ainda. Eu não pedi para ele me trazer para fazer compras porque eu não preciso de absolutamente nada que venha dele. Tenho minhas coisas, meu dinheiro e se estou aqui agora - seja na Itália ou nessa loja - foi porque ele se sentiu no direito de invadir a minha vida e se tornar senhor do meu destino.

— Signora. —  a vendedora tocou no meu ombro levemente e sorriu para mim, me indicando o provador que também parecia como uma parte da casa da Barbie.

Uma pilha enorme de lingeries, espartilhos, ligas e biquínis estavam sobre uma poltrona, - graças a Deus nada rosa - esperando por mim.

— A senhora não precisa experimentar tudo, só algumas peças para que eu tenha certeza de que a numeração está correta. — ela sorriu e desapareceu, deslizando uma cortina medonha cor-de-rosa e cheia de babados atrás dela.

Ninety Days Where stories live. Discover now