Capítulo 3

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— Escudos!

Os javalis se juntaram e se abaixaram. Os anões ergueram os escudos formando uma defesa única. Sindri não ousava respirar tamanha a tensão. Logo vieram os baques. Alguns anões foram ao chão, mas a maioria se manteve firme. O grito dos feridos quase fez a princesa gritar junto de desespero.

Mesmo o ataque tendo cessado eles esperaram um tempo antes de baixarem os escudos. Os olhos de Sindri foram atraídos para uma das pedras que o inimigo usou como munição, que tinha rolado para perto dela. Seu estômago embrulhou quando viu cabelos e barba. A cabeça, não uma pedra, lhe era desconfortavelmente familiar. Ela berrou a altos pulmões quando reconheceu a cabeça de Helrog. 

Por todo lado os anões gritavam, choravam e vomitavam. O ódio e desespero corria pela comitiva ao reconhecerem seus amigos, parentes e irmãos de armas.

Todos olharam juntos para trás quando uma risada maligna chegou aos seus ouvidos. 

As esperanças de Sindri de chegar em segurança à Passagem Tortuosa se extinguiram com a visão da criatura. Pela primeira vez ela desejou que a visão dos anões não fosse tão apurada. As orelhas eram pontudas e a pele esverdeada, característica dos globinóides. Sindri sabia que ele mal os via com aqueles olhos minúsculos. Mas o focinho de porco tinha um olfato extremamente apurado. Segundo as lendas que sua mãe lhe contava para lhe dar medo. O orco jamais descansaria até encontrar a presa. Então a destroçaria com as garras afiadas. Ou destruir com os pés em forma de casco. Era uma visão de pesadelos.

O monstro estava sobre uma colina, há cinco quilômetros de distância. Armas tremiam nas mãos dos anões. A criatura soltou um rugido gutural que gelou a comitiva de Nidavellir.

— Santas armas de Oorlog. Aquilo veio direto do reino de Ukufa — gemeu um soldado perto de Sindri.

A rainha estalou a língua. Sindri não entendia como ela conseguia permanecer calma frente àquela aberração.

— A senhora da morte nada tem a ver com aquilo — falou a rainha. — Não blasfemem! Vocês são anões de Nidavellir. São devotos de Dvergkrigere, o senhor dos anões guerreiros. Não temem os filhos de Amagoblins!

Conforme sua avó falava o desespero fugia do coração de Sindri. Ela sentiu as palavras penetrando em seu ser. Viu que o mesmo acontecia com os soldados. O medo foi substituído por pura determinação. A rainha olhou para Sindri.

— A Grande Dama Anã, Dvergeramazon, senhora das guerreiras, abençoou nossa família na primeira era. Temos o dom do encorajamento correndo em nosso sangue. Para aqueles que nos servem e para nós mesmas, quando precisarmos — olhou uma última vez para o orco e virou seu javali para seu destino — Avante! Para a Muralha Tortuosa!

— Para a Muralha Tortuosa! — bradaram os anões. — Pela rainha Liane! Pela princesa Sindri! Por Nidavellir!

Cascos mais uma vez se fizeram ouvir sobre o cascalho. O habitual silêncio do Caminho Tortuoso foi rasgado pelo brado de guerra dos anões e grunhidos dos javalis. Ao ver sua presa escapar o orco berrou de indignação. Mas o poder de seu grito não afetava mais os soldados. Eles eram filhos de Nidavellir. E não morreriam como covardes para uma criatura como aquela.

A rainha olhou para trás e sorriu. Um sorriso que não chegou aos olhos.

— Ele está vindo atrás de nós — gritou para Sindri acima do barulho. — Você terá que fazer tudo que eu mandar. Está certo?

Sindri acenou com a cabeça. Ela faria. Faria tudo para destruir aquela criatura. E vingar Helrog e os outros.

Alguns metros à frente um grupo de homens reptilianos surgiu de trás das rochas. Portavam espadas, lanças, arcos e flechas. Deviam ser uns quinze. Antes que Sindri falasse algo, a rainha gritou:

Por NidavellirWhere stories live. Discover now