Capítulo 1

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— Majestade, estamos sendo seguidos por goblins.

Sindri estava com um pedaço de carne de mastodonte a caminho da boca. Com os outros anões que estavam por perto ela olhou para o batedor. Seu rosto estava suado e olhos arregalados, enquanto ele ofegava.

Depois de alguns segundos todos os guardas riram dele. Sindri deu de ombros e voltou a comer. Era normal existirem goblins por aquelas bandas. Sua avó tinha lhe dito isso enquanto o acampamento era montado. Nidavellir fazia fronteira com Svartalheim, lar daquelas criaturas odiosas. Elas habitavam a Montanha Sussurrante que dividia os dois reinos.

O batedor, que não devia ter mais que a idade de Sindri, doze verões, recuperou seu fôlego o suficiente para falar com calma. Todo o divertimento morreu. Afinal, uma centena de goblins acabava com o bom humor de qualquer um. Quando o garoto terminou o relato, o silêncio dominou a clareira.

Aquela parte da Floresta Sussurrante tinha uma quietude anormal. Com trinta anões armando acampamento e fazendo comida, mal se percebia. Afinal eles eram anões, e Sindri sabia que silêncio era algo que seu povo ignorava. Mas agora com todos quietos... Sindri engoliu em seco. Olhou para a carne de mamute. Era sua comida favorita. Mas com o leve e constante sussurro de uma língua perdida, a comida não estava mais convidativa.

Ela lambeu os dedos engordurados. Aproveitando que não estava presa aos protocolos do palácio, limpou os dedos na roupa. Sentiu uma alegria rebelde ao fazer isso. Depois franziu as sobrancelhas. Sua mãe faria com que lavasse aquela camisa. Mas ela sorriu feliz por esse pequeno ato de rebeldia. Sorriso que se foi quando sua avó levantou ao seu lado.

Se já havia silêncio ele se tornou incômodo, tenso. Sua avó encarou o batedor. Sindri teve compaixão ao ver o garoto se encolher. Sua avó tinha uma presença impactante.

— Os goblins estão vindo nessa direção, Pacu?

O garoto acenou com a cabeça.

— Estão há três horas de distância majestade. Caminham devagar. Mas sim, vem em nossa direção.

Sindri fechou a mão para evitar que notassem que estava tremendo. Cem goblins contra trinta anões. Até ela sabia que as chances eram ruins. Sua avó pareceu pensar a mesma coisa. Ela colocou a mão no queixo antes de falar para si mesma.

— Eles podem simplesmente ir para outro lugar. Mas é muito arriscado ficarmos parados aqui — ela olhou para o líder da guarda. — Helrog. Estamos há cinco horas da Passagem Tortuosa, certo?

O corpulento anão limpou a boca e se levantou.

— Sim majestade. Se formos pela estrada chegaremos em cinco horas.

Eles mal haviam comido o café da manhã. Tinham partido da Cidade de Durin no começo da manhã. Sindri ergueu os olhos para o Olho de Jade no meio dos céus. Seus raios amarelo-esverdeados entravam pelas aberturas dos emaranhados de galhos e folhas. Mesmo com a proteção da floresta o calor do Olho os castigava. O vento soprou as folhas e um raio de sol iluminou sua avó. Ela olhou para Sindri antes de falar.

— Partimos em quinze minutos. Vamos para a Passagem Tortuosa.

Todos começaram a se preparar para a partida. Sindri se levantou para selar seu Javali quando sua avó de Sindri se aproximou e lhe entregou duas adagas. A garota ergueu as sobrancelhas enquanto olhava as armas em suas mãos.

— Mas você disse que armas eram para soldados — falou com medo e excitação percorrendo seu corpo.

Sua avó estalou a língua.

— E são minha criança. Que Stodverrg nos permita que você não precise usá-las!

Olhou para Sindri por algum tempo sem que a menina entendesse o que brilhava em seus olhos. Logo ela saiu sem dizer mais nada.

Por NidavellirWhere stories live. Discover now