28- A festa dos corações partidos

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A manhã de quarta-feira foi infernal. Depois de ter saído correndo da casa dos Ricci na terça-feira, pedi um Uber e voltei para casa onde chorei até dormir.

Assim que pisei o pé na cozinha, minha mãe abriu um sorrisinho na minha direção ao ver como meus olhos estavam baixos graças ao fato de não ter dormido nada.

Ela tentava convencer Analu a comer o que quer que estivesse dentro da cumbuca, brincando com a filha de um jeito que me fez erguer uma sobrancelha. Era estranho ver a minha mãe sorrindo. Ela parecia outra pessoa.

Minha irmã não parecia muito animada e virava o rosto para todos os lados, fugindo da colher. Antônio comia sem reclamar o conteúdo meio gosmento e marrom. Hum... talvez fosse mingau com chocolate. Por um segundo me lembrei de quando eu era criança e mamãe fazia aquilo para mim sempre que eu estava doente. Seria sua forma de tentar me animar?

— Você está atrasada — informou à guisa de bom dia, indicando a cadeira vazia na outra ponta da mesa como se me convidasse a me sentar.

Por um segundo eu só encarei a minha mãe.

Ela usava um vestidinho de malha e chinelos. Estranho... Eu nem lembrava quando tinha sido a última vez que tinha visto minha mãe em roupas informais, ainda mais em um dia de semana.

— Você tá feliz, não tá? — perguntei para a mulher que se parecia tanto comigo. Ridiculamente, a minha voz tremeu com a vontade de chorar. — O Dan terminou comigo.

Analu aceitou provar a comida e decidiu que gostava. Nossa mãe suspirou, satisfeita, quando a pequena começou a comer sozinha.

Minha mãe passou o indicador pela asa da xícara de café e ergueu os olhos castanho-esverdeados na minha direção. Um sorriso discreto curvou seus lábios para cima.

— Eu te disse — a minha mãe replicou com o tom suave. — Garotos como ele só ficam com garotas como você enquanto é novidade, mas logo cansam.

Meu estômago se revirou com a simplicidade que ela dizia aquilo.

— Fico triste em saber que o casalzinho durou tão pouco — continuou —, mas todos concordamos que é o melhor para você, não concordamos? — desafiou com o seu tom mais profissional, tentando me apaziguar.

Apertei os punhos com força. O melhor para mim. Até parece!

Abri um dos vários armários da cozinha e comecei jogar as coisas para todos os lados, em busca de algo que me interessasse.

— Se você pensasse no melhor para mim não teria aceitado trabalhar para os Villa-Bôas nem tentaria me empurrar para o Kaíque — respondi procurando alguma coisa pronta para comer no caminho para a escola.

— Os Villa-Bôas são nossos amigos há anos — ela respondeu como se eu fosse burra. — Se você ouvisse o Kaíque falando de você, Sofs... Ele realmente está apaixonado e arrependido. Todo mundo comete erros.

— Erros — repeti abrindo uma porta de armário com mais força que o necessário. Ela bateu contra a estrutura com um som pesado. Soltei o ar em uma expiração forte. — É assim que você chama incitação ao bullying? Erros?

Alcancei um pacote de Club Social e joguei de qualquer jeito dentro da mochila.

Se eu ficasse mais um minuto dentro de casa acabaria chorando. Ou dizendo coisas que poderia me arrepender mais tarde.

— Meu pai vai vir buscar os gêmeos em cinco minutos — informei passando por ela. — Eu preciso ir para a escola já que não tenho mais carona.

Mentira Perfeita [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now