Gostava de se perder no meio dos mundanos, alguns lhe encaravam por causa de suas runas — que eles viam apenas como tatuagens —, mas a grande maioria nem ao menos prestava atenção. Era bom se sentir só mais um na multidão de vez em quando, tirar todo o peso do trabalho de suas costas.

Se arrastou até a grande igreja gótica que ficava nos arredores do centro de Seul e abriu a porta da mesma, alguns caçadores o cumprimentaram e ele seguiu para seu quarto. Tirou o frasquinho que Taehyung havia lhe entregado e lembrou do recado do feiticeiro de tomar no mesmo horário sempre.

Taehyung, o novo Alto Feiticeiro de Seul, era diferente. Jungkook ainda não sabia dizer se era um diferente bom ou ruim.

O antigo parecia um velho de sessenta anos — não na aparência, mas no jeito ranzinza de ser —, o caçador entendia que seres do submundo não eram muito amigáveis com os nephilim e entendia isso, mas aquele feiticeiro era o pior dos piores e até hoje Jungkook não entendia como ele havia se juntando com uma das vampiras mais desejadas de toda a Coreia e ido morar na Itália com ela.

O novo feiticeiro tinha um ar mais jovial e menos ódio na voz ao falar com os filhos do anjo — claro que ele havia soltado uma bela patada em Jungkook, mas o culpado havia sido o próprio nephilim que apareceu na cara de Taehyung sem nem ao menos avisar. Feiticeiros gostavam de ser avisados.

Jungkook deixou o remédio dentro de sua gaveta e pensou em beber pela manhã, já ele que tinha um horário marcado para acordar e não tem um horário para voltar para casa depois das rondas com Jimin pela cidade.

Resolveu tomar um banho para ver se a dor em seu machucado se aliviava com a água quente, já que ele imaginava que ninguém fosse o chamar para alguma ronda naquele dia. E quando saiu do banheiro enxugando os cabelos e já vestido, encontrou Jimin sentado na ponta de sua cama. Aquilo não era novidade.

— A sua perna ainda não melhorou. — Jimin piscou várias vezes vendo a coxa de seu parabatai a mostra. — Foi por isso, não é? Que você não aceitou sair ontem?

Jungkook suspirou e sentou ao lado, Jimin o conhecia bem demais. Ou talvez era apenas o instinto desconfiado do mais velho.

— Não se preocupe, hyung, eu... Fui ver o Taehyung-ssi hoje mais cedo e ele me deu uma poção para eu tomar todos os dias e disse que isso vai fechar a ferida. — O nephilim deixou a toalha em cima de seu colo. — Mas eu não acho que você esteja aqui pra falar sobre a minha perna machucada.

As orelhas de Jimin ficavam vermelhas como se ele tivesse sido pego no flagra em alguma coisa. Jimin queria contar alguma coisa.

— Então, eu 'tava falando com o Joonie e ele queria se mudar pro Instituto de Ilsan... — Jungkook abriu a boca para começar a falar, mas seu parabatai o interrompeu — Eu sei, Jungkookie, eu sei. Nós conversamos muito sobre isso e eu também não quero deixar o Instituto daqui. Entendo que ele sente falta da família dele e eu falei que ele sabia do que tinha que abdicar para se tornar um de nós. Nem a gente que nasceu aqui dentro vemos nossos pais o tempo todo, graças ao anjo por isso, inclusive.

— E vocês brigaram por causa disso? — Jungkook juntou as sobrancelhas.

— Não, — Jimin mordeu o lábio inferior — ele entendeu que eu estava certo. Ele sabia no que estava se metendo quando começou a me namorar.

— É, Park Jimin sempre está certo.

O nephilim mais velho deu risada e apoiou as costas na parede do quarto de Jungkook, cruzou as pernas e fitou o teto. Jimin estava feliz, era nítido isso.

— Ele cresceu mundano, sabe? Com aquela mentalidade de que iria casar, ter filhos e se mudar para uma cidade pequena e viver o resto dos seus dias ali e mesmo já fazendo vários anos dele aqui, aquele sentimento ainda está ali. É chato ter que adaptar seus sonhos a sua atual realidade.

— Talvez não, — Jungkook falou do nada — vai que ele fosse infeliz desse jeito? Às vezes nosso destino não é aquele que a gente quer, mas o que precisamos.

— Quando foi que você ficou tão inteligente assim? — Jimin bateu com o cotovelo na costela de Jungkook, que gargalhou com aquilo. — Enfim, a gente vai ficar aqui. Vamos tirar uns dois meses de lua de mel, mas o Instituto de Seul vai ser a nossa casa. Ah, eu mal posso esperar pra casar com aquele homem e quem sabe ter alguns filhos no futuro? Imagina só um mini Park correndo e quebrando todos os vasos. Seokjin hyung ia ficar louco!

— Park? Namjoon vai pegar seu sobrenome? — Jimin assentiu, com um sorriso.

— Até dei o anel da família Park pra ele. E... falando no meu casamento, você aceita ser meu padrinho?

— E precisa perguntar, hyung?

Jimin sorriu e abraçou seu parabatai, era bom ver alguém sendo feliz daquele jeito. Jimin tinha apenas vinte e três anos — quase vinte e quatro, já que seu aniversário é em outubro e eles estavam em agosto.

Era normal que os Caçadores de Sombras se casassem nos seus vinte e poucos anos. Antes era porque morriam muito cedo em batalhas ou por doenças sem cura e queriam aproveitar o máximo que podiam enquanto havia tempo, agora estavam num tempo de paz e sem grandes guerras; os nephilim viviam por mais anos, porém a tradição se manteve.

O casamento seria apenas em Novembro, mas os dois noivos estavam a todo vapor o planejando — Jungkook perdeu as contas de quantos ternos provou para receber a aprovação de seu parabatai que dizia que "Tem que ser perfeito, deixar você bonito, mas não mais bonito do que eu, se é que isso é possível. E tem que combinar com o meu e o do Joonie!".

Era impossível não notar a inquietude de Jimin através da runa que os ligava, tanto que Seokjin não os mandava para patrulhar com tanta frequência, até porque a mente de Jimin não iria desligar do tal casamento.

A mordida em sua coxa havia melhorado severamente, quase não dava mais para enxergar a cicatriz e Jungkook fez questão de pegar o número de Taehyung com Jimin e agradecer ao feiticeiro várias vezes pela poção. Jungkook provavelmente não deveria ter feito isso, Taehyung estava só fazendo seu trabalho, mas mesmo assim o nephilim quis.

Durante todos aqueles meses, Jungkook quis falar para seu parabatai tudo que sentia, quis falar quem ele realmente era, mas não conseguia. Era como se algo o prendesse no lugar.

E, na noite antes do dia do casamento, Jungkook se enfiou embaixo de seus cobertores meio tonto por causa da despedida de solteiro de Jimin e Namjoon — que Seokjin insistiu em fazer! — pensando que amanhã seria um outro dia e talvez tudo fosse mudar.

Timeless Souls | TAEKOOKDonde viven las historias. Descúbrelo ahora