Capítulo 1: Parte 4 - Luta com lobos

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Alice andava pela Avenida Amazonas em direção à Praça Raul Soares, o ponto que marcava o centro da cidade. A todo momento olhava por sobre os ombros. Já passava das sete da noite e a lua brilhava cheia no céu.

Não gostara da ideia, mas não podia dar para trás agora, tinha insistido em fazer algo, não suportava a ideia de ser um peso morto naquela situação.

Segundo Rupi, como ela passou a chamá-lo também, Caipora já deveria ter rastreado eles, mas não iria agir se sentisse o cheiro do irmão ou do Sá. Assim os dois foram antes para a Praça Raul Soares e Saci manteve uma rede de vento a cercá-los para evitar que o cheiro fosse levado até a caçadora.

Alice olhou em volta mais uma vez, procurando por um sinal dela, foi quando viu o primeiro par de olhos brilhando na esquina do Mercado Central, ela não conseguiu distinguir o vulto, mas não podia ser a Caipora, era muito alto, parecia um brutamontes qualquer. Continuou andando, estava próxima da praça.

Avistou outro par de olhos a esquerda, mais um vulto a direita.

Tinha algo errado.

Se apressou para atravessar a rua e alcançar a praça, onde pessoas corriam com suas roupas de ginastica ou conversavam em bancos.

Olhou para trás e seu sangue gelou, os vultos não eram mais vultos, as criaturas pegaram velocidade e vinham para cima dela.

O pavor tomou conta da jovem, não era possível, não podia ser.

As criaturas humanoides tinham focinhos e dentes afiados, orelhas pontudas e, naquele momento corriam sobre as quatro patas. Rosnavam, babavam.

Ouviu um barulho do outro lado da praça, mais três daquelas criaturas.

"Onde estão os deuses? Se essas criaturas existem, onde estão os deuses?"

Ela começou a chorar, não era possível.

"O San disse que existiam, então onde estão? Vou morrer assim?"

Se agachou e cobriu a cabeça.

"Vão apenas me devorar? Merda!"

A frustração que sentia era tão grande quanto o medo, a raiva a tomou, se sentia abandonada.

Onde estavam o Sá e o Rupi? As criaturas estavam a menos de cinco metros de distância.

— AAAAAAAAAHHHH — Ela tentou por todas as sensações horríveis para fora, mas sua voz não parecia a dela, era grossa, diferente.

Fogo atingiu uma das criaturas, vento empurrou duas para longe.

Um raio caiu do céu sobre uma delas e a matou na hora.

San e Rupi flanqueavam a jovem. Os dois encaravam os lobisomens.

O curupira tinha os cabelos em chamas, a camisa havia se tornado faixas de pano queimado, os olhos amarelos brilhavam e ele rosnava, os dentes ainda mais amedrontadores do que os dos adversários.

Saci... ria.

— Sério, eu não esperava por isso! Estão contratando lobisomens! Alguém da turma está ganhando um bom dinheiro.

— Sá, não se distraia. — Rupi disse, sem tirar os olhos do inimigo que tinha a frente.

— Nunca.

Alice piscou, parecia ter ficado fora de sintonia por alguns instantes. Olhou para o jovem negro e arregalou os olhos.

Ele estava envolto em um pequeno tufão, seus olhos estavam completamente negros. O sorriso era selvagem. Apesar da figura aterrorizante do Curupira, era daquele homem que os lobisomens queriam manter distância.

SAN - Detetive Folclórico (Degustação)Where stories live. Discover now