Capítulo 1: Parte 1 - Péssimo encontro

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Ele andou de um lado para o outro em seu pequeno apartamento.

Os jornais estavam espalhados, várias notícias de acidentes em boates pelo Brasil. Em sua maioria, incêndios causados por fogos de artificio ou explosões de gás.

Ele estava atrasado, já devia ter descoberto o que estava acontecendo, mas não conseguia pensar em alguém que conseguisse fazer tudo aquilo sozinho... a não ser...

Seguiu até uma pequena escrivaninha, juntou um bolinho esverdeado na mão, uma mistura de ervas que só ele gostava muito. Jogou dentro do cachimbo e o acendeu.

Tragou algumas vezes e voltou a analisar as notícias. Dessa vez, com mais atenção as imagens. Coçou a cabeça coberta por uma touca vermelha e apertou os olhos, tinha que haver algo ali, algo que lhe desse um caminho, qualquer pista.

— Senhor Sandro? Tem um pacote para o senhor.

Piscou algumas vezes, demorando alguns momentos para entender que alguém havia batido na sua porta.

Se levantou e foi atender, girou a maçaneta e a abriu para se deparar com uma mulher baixa e roliça, os cabelos negros e cheios caindo pelos ombros. Os olhos por trás das grossas lentes dos óculos emanavam uma curiosidade genuína das senhoras fofoqueiras que apinhavam aquele prédio.

Ele sorriu e pegou o embrulho que ela estendia.

— Muito obrigado, dona Elane. Eu iria descer para olhar a correspondência em algumas horas.

— Não tem problema, eu encontrei com o carteiro quando ele estava fazendo as entregas e resolvi poupar o trabalho.

— Claro que sim. — Ele deu um sorriso amarelo, ela podia ter tentado esconder o máximo possível, mas os olhos dele reconheceram imediatamente que sua encomenda fora aberta. — Bem, dona Elane, acho melhor eu entrar e ver o que é. Muito obrigado mais uma vez.

O jovem — que a mulher teimava em chamar de senhor, apesar de ter a aparência de um rapaz negro de 18 anos — começou a fechar a porta, quando a senhora o interrompeu.

— Preciso lembrar ao senhor de que não é permitido fumar dentro do prédio.

Ele olhou para o cachimbo na mão. A fumaça sumiu e ele abriu outro sorriso para a mulher, dessa vez bem maior que o anterior.

— Sem dúvidas, isso aqui é apenas um item de colecionador. Até mais, dona Elane.

Sandro fechou a porta e encostou as costas nela, suspirando e deixando os ombros caírem.

— Puta que pariu, que mulher chata.

— O que foi que disse, senhor Sandro?

O jovem deu um pulo de susto ao sentir a batida na porta e a voz da mulher.

— Disse que a senhora é uma boa alma! Obrigado, dona Elane!

Esperou alguns segundos e a voz do outro lado respondeu:

— Ah, sim. Disponha, querido, até mais.

Dessa vez ele encostou o ouvido na porta e ouviu os passos se afastarem antes de relaxar. Acendeu o cachimbo mais uma vez e encarou o embrulho, ele não esperava nenhuma encomenda, mas o cartão dizia "Foi tudo que pude fazer.". Ele suspirou, nem podia imaginar o que o remetente estava passando.

Abriu o pacote e franziu o cenho, havia uma espécie de cubo mágico ali dentro. Primeiro ficou confuso, depois a imagem da dona Elane tentando montá-lo chegou a sua mente e ele segurou a risada que se formou em sua garganta.

Uma coisa interessante sobre cubos mágicos é que podem parecer muito complicados e quase impossíveis de se resolver, mas a verdade é que você apenas precisa entender como resolvê-lo. São apenas uma série de movimentos padronizados e, se você repetir da forma correta, acha o caminho.

SAN - Detetive Folclórico (Degustação)Where stories live. Discover now