Enquanto um burro fala, o outro baixa as orelhas

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Falou-se até o momento em iniciativa e criatividade que permitem que se aproveitem as oportunidades, maiores quando aliadas ao conhecimento. Outro aspecto importante a ser considerado é a flexibilidade, com diferentes perspectivas subjacentes. A flexibilidade pode estar ligada ao facto de permitir que se olhe para todos os lados e em todas as direções. Assim, alguém flexível consegue interagir com diferentes elementos culturais, transformando medos e incertezas em oportunidades. A flexibilidade também está ligada à questão de aceitar-se como eterno aprendiz, sem que isso seja doloroso. Ela também se vincula às questões de desenvolver trabalhos em equipe, aceitando e proporcionando um ambiente em que as diferentes potencialidades presentes nos seus integrantes sejam aproveitadas. Portanto, a flexibilidade mental, expressada na postura diante de diferentes situações, torna-se um elemento abrangente na busca e na identificação de oportunidades.
Flexibilidade, porém, não quer dizer volubilidade. Ser flexível significa ser capaz de, sem alterar seus princípios e valores básicos, enxergar e viver a realidade de outros modos. Por sua vez, ser volúvel é mudar de posição ou opinião sem apoiar-se em convicções e simplesmente deixar-se levar pelas circunstâncias imediatas. A diferença entre flexibilidade e volubilidade, em termos de postura, pode ser identificada nas reuniões a que muitos estão sujeitos. Numa hipotética reunião de um conselho administrativo de uma empresa em que, invariavelmente, sempre há consenso entre os dez participantes, pode-se deduzir que há nove pessoas sobrando. E isso se aplica também ao presidente, ao diretor, enfim, àquele que comanda a reunião, pois este deve ser flexível o suficiente para ouvir e acatar as sugestões dos presentes.
Nessa ideia também se oculta a importância do ouvir, que, na maioria da vezes, é negligenciada. O ditado que diz "enquanto um burro fala, o outro abaixa as orelhas", por vezes é seguido nas reuniões, demonstrando um nível educacional importante. Esse "abaixar as orelhas", contudo, não é suficiente, pois deve-se também processar a fala do outro. O que ocorre, entretanto, é que enquanto alguém está falando, o ouvinte não está escutando, mas sim, mentalmente, contra-argumentando. Aquele que está falando pode, praticamente, ouvir as discussões mentais do interlocutor com toda a contra-argumentação sendo elaborada. As pessoas têm o hábito de apegarem-se a ideias como se fossem filhos, dos quais não podem abrir mão. Assim, na maioria das vezes, sequer se permite que o outro termine o raciocínio, tamanha a oposição de ideias e a vontade de defender a sua. Não se permitem saber que as grandes oportunidades acontecem pela soma de pontos de vista e não pela divisão. Perdem-se, com isso, muitas oportunidades. O ideal, nesse momento, é que o interlocutor saiba se colocar no lugar do emissor da mensagem, que tenha flexibilidade o suficiente para ouvir, escutar, entender, processar e realmente avaliar o ponto de vista de quem está emitindo a opinião. Se é possível estar errado quando todos estão de acordo, também o é quando as opiniões divergem. Se é possível pensar o contrário, também é possível que a solução seja contrária àquilo que alguém imagina. Ganham-se com isso diferentes visões e muitas oportunidades.
Por isso, as oportunidades se revelam muito mais para aqueles que têm a flexibilidade para ouvir. Enquanto um burro fala, o outro abaixa as orelhas
A flexibilidade se revela como um elemento importante numa sociedade. Ninguém vive só. De uma forma ou de outra, tem-se a necessidade de interagir.
A interdependência é inerente ao formato social no qual se está inserido, estando presente na vida com bastante ênfase. E como alguém pode tornar a flexibilidade em algo comum vários ambientes? Para o corpo, é sabido que fazer exercícios todos os dias o deixará elástico e flexível. Para atingir a flexibilidade mental, o melhor exercício é estar disposto a aprender, a estudar e a desaprender, como já dito anteriormente. Destaca-se a maior longevidade daqueles flexíveis de corpo e de mente. Notadamente, a realização de exercícios físicos diários proporcionará, possivelmente, alguns anos a mais de vida, bem como uma qualidade de vida superior. A flexibilidade mental, entretanto, proporciona um exponencial aumento de vida ao permitir vê- la sob diferentes ângulos. Uma nova cultura, um novo hábito, uma nova tarefa, uma melhoria naquilo que se faz, ou seja, desaprender hábitos pouco benéficos também resulta em maior flexibilidade. Desse modo, ao desenvolver as habilidades de interagir culturalmente, saber ouvir, cooperar, aprender e desaprender, sem apegos às ideias como se fossem entes próprios, tende- se a ver muitas oportunidades. Um corpo flexível permite que a pessoa olhe para todos os lados, mas a mente flexível permite, principalmente, que se olhe mais uma vez.
Podemos até nos considerar bons ouvintes, mas o que fazemos na maior parte das vezes é ouvir seletivamente, fazendo julgamentos sobre o que está sendo dito e pensando em maneiras de terminar a conversa ou direcioná-la de modo mais prazeroso para nós. O ouvir ativo requer um esforço consciente e disciplinado para silenciar toda a conversação interna, enquanto ouvimos outro ser humano. Isso exige sacrifício, uma doação de nós mesmos para de facto entrar no mundo da outra pessoa. O ouvinte ativo tenta ver as coisas como quem fala as vê e sentir as coisas como quem fala as sente.

Uma nova oportunidadeWhere stories live. Discover now