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03/06/2020 às 6:30

Querido diário, já faz um tempo desde que eu escrevi aqui pela última vez, mas estou de volta, aposto que sentiu saudade de ter mais dos meus sentimentos caóticos escritos em suas páginas, em uma caligrafia torta e meramente bonita.

Sabe diário, eu achei que havia ganhado um pouco de paz, mas o universo continua contribuindo para gotas de felicidade e chuvas de tormento. Minha mãe não pegou mais plantões nos últimos dias e passou a ficar bem grudada em mim, compensando o que não tínhamos quando ela estava trabalhando. Ela é tão amorosa, a todo tempo e instante, e cada vez que ela me chama de "Meu bebê" e acaricia meu rosto, eu só sei chorar, não consigo explicar o motivo do choro, e então ela apenas sorri docemente e com a voz como um veludo macia diz:

"— Estou aqui, meu filho. Eu te amo e vou sempre te amar, independente do que seja,tudo vai ficar bem, meu bebê"

Eu me sinto tão em paz com ela aqui, é tão bom. Mas ela ainda está namorando com aquele traste nojento. De início ele sumiu, sumiu por um tempo que até achei que haviam terminado, agradeci aos céus por aquilo, achei que poderia apagar da minha vida, bloquear da minha mente, colocar tão fundo dentro de mim que eu sequer iria lembrar das coisas que ocorreram.

Engano meu.

E que trágico engano. No meio de uma madrugada o infeliz, de algum modo, invadiu a nossa casa atrás da mamãe. A queria, como se tivesse posse sobre o corpo dela, que atendesse a "necessidade" dele.

Estava bêbado, podre, totalmente sujo e ainda se achou no direito de mandar em alguém, de mandar em minha mãe, só para satisfazer um capricho daquela mente torta e nojenta. Ainda lembro-me bem de como toda a confusão começou. Estava prestes a me deitar, após uma tarde inteira, até o anoitecer assistindo filmes com minha mãe, mas não consegui, já que ouvi vidro sendo quebrado no andar de baixo.

Corri escada abaixo desesperadamente, preocupado que minha mãe pudesse ter caído, e pra minha surpresa, ela estava no chão, mas não pelo motivo que pensei. Ele a agrediu e a empurrou contra nossa mesinha de centro na sala de estar. A mesa se partiu com impacto do corpo, quebrando e espalhando vidro para todo lado, inclusive na pele de Park Hanna. Estava toda cortada e pela forma que segurava a costela, estava machucada ali também.

Havia tanto sangue, mas tanto sangue saindo dela, misturado com os gemidos de dor, que a tontura me pegou de jeito, eu não sabia lidar muito bem com sangue. O infeliz parece voltar a consciência e teve noção do que havia acabado de fazer a ela.

Começou a chorar e se jogou no sofá, achando que mudaria algo repetindo várias vezes:

 "— Perdão, eu estava fora de mim, não quis te machucar."

Perdão? Chegava a ser engraçado, aquele cara não merecia o perdão de ninguém, ele era louco, doente e uma ameaça em potencial, não só a mim, mas a minha linda mamãe também.

A minha vontade foi de enterrar uma faca em seu pescoço, mas minha mãe precisava mais de mim naquele momento e um homicídio não seria nada bom para o meu currículo. Já tinha sangue o suficiente naquela sala, sangue o suficiente havia sido derramado naquela noite, eu não derramaria mais.

Não hesitei em chamar uma ambulância, essa que não demorou tanto a chegar para o meu alívio.

No fim, acabou que não era "nada grave". Os cortes não eram fundos para serem um perigo, mas cada vidro que entrou em sua pele foi difícil para tirar. E a lesão na costela havia ficado roxa e por muito pouco não havia fraturado.

Quando perguntaram a ela o que havia acontecido, vi pela primeira vez em toda minha curta vida, minha mãe mentir.

Deu risada, brincou e até jogou os cabelos para trás, enquanto dizia com a voz mais leve:

Este diário pertence à Park JiminOnde as histórias ganham vida. Descobre agora