🌻 Lisie 🌻

110 10 3
                                    

Gloriosum levantou vôo com Tefari em suas costas exultante, os dois parecem um só no alto, ele voa em círculos soltando baforadas alaranjadas.
Todos olham admirados a guerreira negra que fez o impossível: vencer um torneio elemental montada no mais feroz dos dragões.
Tefari não conhece o limite, ou, se conhece, o ignora.

Reparo Bomani em algum lugar, ele sorri abobado balançando a cabeça, como se já soubesse o final dessa história muito antes.

Lembro também da minha façanha mais cedo.
Confesso que senti medo quando enfrentei meu primeiro oponente. Já que não tenho habilidade pra lutar, fiz a única coisa mais sensata que passou pela minha cabeça: desviar dos ataques.

Me saí muito bem. Dei até alguns golpes desastrados, o dragão que eu estava montada é de fato rápido e isso ajudou bastante para manter-me viva e entregar o recado a Tefari.

Já nos meus aposentos,  tomo um rápido banho e troco de roupa. Quando me olho no espelho quase grito.

Meu cabelo não está mais lá.

Tudo bem, exagerei.

Me observo, meu cabelo, outrora passando da cintura agora não passa dos ombros.
Viro meu rosto de um lado para outro receosa, por fim, passo a mão nos fios.
Tão pouco. Tão leve.
Sorrio.
Eu estou linda.

— O QUÊ ACONTECEU COM  SEUS CABELOS??!?
Minha mãe esbraveja da porta seguida por Aïcha.

Como não tive tempo de construir uma bela mentira fico muda.

— Lisie, eu perguntei o que aconteceu com seu cabelo.— uma veia de sua testa parece saltar de raiva.

— Eu...ele... O que aconteceu...? Bem, eu... Decidir cortar... porque, porque... Piolhos!

— Hã...!— a rainha inclina a cabeça tentando compreender.

— Isso! Piolhos, desde que cheguei aqui minha cabeça começou a coçar e quando fui ver, era piolho.

— Que nojo!— Aïcha cochicha.— mas você não me comentou na...

— Comentei,sim!— interrompo— É que você é um tanto desatenta.

Mamãe aproxima-se de mim e toca nos meus cabelos.
— Como vai ser agora? Você com esse cabelo...

— Não muda nada mãe, eu continuo a mesma pessoa.

— Mas, filha, não é natural que uma princesa tenha cabelos tão curtos.— a rainha balança a cabeça em sinal de reprovação— Está  aparentando um garoto qualquer.

— Deixe disso, mãe!— bufo impaciente— continuo princesa, agora uma princesa de cabelos curtos e em breve uma rainha de cabelos curtos.

Pego Aïcha pelo braço e sigo em direção a porta.
— Aonde vão?— minha mãe guincha.

— Passear.

Seguimos até Max, Gael e Ivo, que se encontram na praça principal onde as festividades continuam

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Seguimos até Max, Gael e Ivo, que se encontram na praça principal onde as festividades continuam.

Os três me encaram por um instante quando apareço.

— Nossa, você parece  minha irmã.— Max é o primeiro a falar.

— Gostaram?— pergunto rindo.

— Bem, é diferente do que costumamos ver...— meu irmão comenta.

— E é por isso que ficou bom.— Ivo termina.

Gael continua calado, com um sorrisinho no canto da boca.

— Você ficou espetacular.— ele elogia, por fim.

Meu coração dá uma cambalhota.

— Não acredito que vocês vão aprovar essa loucura! Só eu que estou enxergando aqui, que isso é bizarro?— Aïcha esperneia.

— SIM!— nós quatro respondemos em uníssono.

Enquanto visitamos as barracas de comidas e bugigangas Gael aproxima-se de mim.

— Ainda não consigo acreditar que você me rejeitou.— ele resmunga do meu lado enquanto olho alguns tecidos em vários tons de vermelho .

— Não o rejeitei. Apenas decidi ficar e ajudar meu povo.

Gael estala a língua.
— Isso é um jeito diferente de dizer que me rejeitou.— de repente ele segura minha mão— isso realmente te faria feliz? Você vai ficar satisfeita ?

Encaro Gael, seus olhos azuis estão mais escuros hoje, alguns fios do seu cabelo caem na sua testa, seu meio sorriso me irrita, parece que ele não se importa com o que vai acontecer daqui pra frente, pois sempre vai estar um passo a frente de todos.

O que realmente me deixaria satisfeita seria seu beijo, poder sentir seu cheiro num abraço, ouvir sua voz bem pertinho do meu ouvido. Isso me deixaria feliz.

Mas não completamente feliz.

Não posso deixar meu povo, isso seria traição. Ser herdeira de um trono implica em ter que abrir mão de algumas vontades. Além disso, se eu fugir, minha consciência vai me acusar o resto da vida.

— Ajudar meu povo me satisfaz — digo uma meia verdade.

Gael ergue uma sombrancelha.

— Não vejo a verdade em seus olhos.

— Meus olhos sempre vão te enganar.— retruco— não acredite neles.

Filha Do ImpossívelWhere stories live. Discover now