🌻 Lisie 🌻

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Quando as teias de aranhas se juntam, elas podem amarrar um leão.

Provérbio africano

Sento-me em frente a penteadeira e aguardo Aïcha cuidar de meus cabelos

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Sento-me em frente a penteadeira e aguardo Aïcha cuidar de meus cabelos.
- Então, descobriu algo?- estou ansiosa pra saber de quais rumores meu pai se referia.

Aïcha coloca algumas madeixas rebeldes para trás.
- Parece que estão tramando contra os reinos elementais. E os herdeiros são os alvos.- ela sussurra, apesar de estarmos sozinhas no meus apontamentos.

Levo a mão até os lábios, arregalando os olhos.
- Que terrível! Quem será o malfeitor?

Aïcha me encara através do reflexo do espelho.
- É isso que o Soberano está tentando descobrir. Mas não há pistas, ainda.

- Então é por isso que estou sendo vigiada por aquele cão de guarda.

Aïcha estreita os olhos.
- Princesa, não chame assim o General Baruc, ele só está protegendo a vossa pessoa.

- Falo sim, Aïcha, que rapaz mais... mais inescapável!

Aïcha ri enquanto trança meus cabelos volumosos.

- Sim, sim! Não desgrudou da minha porta nenhum instante noite passada. Até parece que não dorme!

Aïcha faz nascer miosótis, pequenas flores azuis em torno do trançado.
- Mas para onde queres ir Princesa Lisie?

Dou de ombros.
- A lugar algum.

- Conheço-a bem, alteza. Não minta para mim.- percebo sua desconfiança.

Sorrio.
Aïcha não só é minha dama de companhia, como minha melhor amiga. Além disso, é uma fada, cabelos avermelhados, grandes olhos verdes, nariz reto e pequeno, uma boca fina e larga, com um corpo bem mais evoluídos que o meu, nem parece temos a mesma idade e das costas surge um par de asas translúcidas prateadas. Sempre alegre e cheia de energia .
- Queria encontrar-me com Gael.- confesso por fim.

- E ele deseja o mesmo?
- Não sei. Ele tem se mostrado muito interessado em mim ultimamente.

Ela coloca uma delicada tirara no topo da minha cabeça.
- Talvez, seja apenas preocupação devido ao ataque.

Admiro meu reflexo no espelho.
- Espero que não. Mas, falando sobre o ataque eu tive uma ideia.

Aïcha aproxima o seu rosto do meu.
- Que tipo de ideia Lisie?

Me levanto dirigido-me a porta.
- Você saberá, em breve.

Assim que passo pela porta deparo-me com o General Baruc todo vestindo preto da cabeça aos pés.

- Olá, General!
Sigo caminhando sem esperar uma resposta.
Baruc vem ao meu encalço.
- Aonde vai, Alteza?

-Dar um passeio no bosque.- respondo sem virar o rosto.

- E pediu autorização ao rei?

Paro e o encaro.
-Autorização? Não, não pedi. Certamente não necessito pedir autorização nenhuma.

- O rei precisa saber onde você vai.

- Ora, General! Eu não vou até os reinos gelados, é logo ali! E você vai me acompanhar, ou permitirá que um jafel me ataque?- brinco, porém Baruc não sorri.

Cavalgamos até uma colina não muito distante do castelo. O tempo está perfeito, como sempre em Selin. O aroma das flores dá uma sensação de conforto e enquanto passamos, algumas árvores já apresentam seus frutos maduros e suculentos, pássaros de todas as espécies voam aqui e ali.
Assim que desço do cavalo respiro fundo e admiro a beleza do Lago Dourado, logo abaixo.
Conta a história que há muitos anos, quando os deuses terrenos ainda viviam aqui, a rainha das fadas Áine, costumava banhar-se no lago com seu amante humano. Certa vez ele a convidou para um encontro no meio da noite e a rainha aceitou, assim que entraram no lago, seu amante perdidamente apaixonado pediu que Áine fugisse com ele, para se amarem livremente, a rainha disse que jamais abandonaria seu povo, os dois discutiram e louco de ciúme, ele a matou afogada, o corpo sem vida da rainha e sua magia se misturam com a águas claras do lago tornando-o flavescente. Apenas fadas podem se banhar no lago, se algum humano tentar morre queimado.
Apesar da sinistra história o lago é exuberante.

- Está feliz com seu novo cargo, General?- pergunto ainda admirado a vista.

- Sim, Princesa. Qual soldado não ficaria feliz em ser chefe da guarda real?- ouço se aproximar.

Viro-me para encará-lo.
-Me refiro ao seu cargo de guarda costas de uma princesa. Um soldado almeja isso?

Ele me encara por alguns segundos.

-Não sei onde quer chegar, alteza. Mas qualquer função que o rei...

-Fale a verdade, General. Estamos sozinhos aqui. Não há necessidade de mentiras.- interrompo.

- Qualquer missão que o rei me confiar eu aceitarei com satisfação.- Baruc completa.

Bufo.
-Falácia. Seus olhos dizem o contrário, além disso, percebi sua hesitação quando meu pai lhe ordenou que me vigiasse. Portanto, tenho uma solução para nosso problema.

O General pisca.
- Nosso problema?

-Sim. Afinal, não gosto nenhum pouco que fique me vigiando como uma sombra. Vou direto ao ponto: quero que me treine.

Baruc pisca novamente.
-Treinar?

Perco a paciência.
-Estou falando outra língua, General?

Ele me encara ofendido.
- De certo que não, mas o que me pede é um absurdo.

- Por quê um absurdo?

- Uma princesa lutando? A herdeira do trono, preocupada com espadas, quando se tem ao seu dispor um exército? Me perdoe, alteza, mas essa ideia é um tanto ridícula.- o general argumenta.

- Não é não. Eu desejo aprender a defender-me, e me ver livre novamente. Isso também o beneficiará, acaso queres ficar de cão de guarda pelo resto da vida, enquanto outros travam batalhas épicas no seu lugar?

General Baruc fica pensativo, e nesse momento lembro o quanto ele é jovem, um pouco mais velho que eu, de certo, mas ainda sim jovem.

--Não... Meu lugar é nas batalhas- admite por fim.

Junto as mãos esperançosa e dou meu melhor sorriso.
-Então me ajudará?

- Sim. No entanto o rei precisa ter ciência disso.

-Não! Meu pai não aprovaria. Não podemos deixar ninguém saber.

-Mas , princesa...

- Por favor, General! Se acaso ele descobrir, eu assumo toda a responsabilidade, mas não podemos contar. Por favor...- suplico convincentemente.

Ele suspira derrotado.
-Está bem! Seu treino começará amanhã, antes do nascer do sol.

Ergo as sombrancelhas.
- Tão cedo assim?

Ele balança a cabeça.
-Ou é isso ou hora nenhuma.

Agora eu que suspiro derrotada.
- Está bem.

Filha Do ImpossívelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora