Capitulo 38

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– Pra onde ele foi?
– Pra floresta, quando tudo isso acabar eu vou mata-lo.
– Posso ajudar?
– Sim, claro. Somos uma dupla, né?
– Sim, uma dupla de escoteiros – Eu sorri enquanto uma felicidade descomunal tomava conta do meu corpo, Cassandra sorriu de volta – Tome, vou procurar mais facas.
– Isso – Ela inclinou o corpo para pegar a faca que eu segurava e eu aproveitei aquela oportunidade para crava-la de uma só vez dentro de seu olho direito, usando toda a minha força.
O corpo de Cassandra caiu para trás e ficou completamente desengonçado dentro do armário enquanto tremia, em um último impulso de vida ela tentou retirar o objeto de dentro do olho ensanguentado mas foi em vão e logo seus braços despencaram sem vida alguma.
– Somos uma dupla, né, Cassandra ? – segurei o cabo da faca e a puxei com dificuldades - prove um pouco mais – Enfiei a faca em seu peito mas ela não entrou completamente, então repeti o ato várias e várias e várias vezes. A cada nova facada eu me lembrava de toda a dor que ela havia me causado, de toda a tortura e sofrimento.

Mas não era só isso, olhar para ela naquele estado me fez chorar, eu havia tirado uma vida e não conseguia parar de golpea-la. Ela merecia morrer mas eu não merecia a culpa de tirar a vida de alguém, me parecia certo e errado ao mesmo tempo e foi aí que decidi largar a faca. Após fazer isso senti a pouca força que ainda existia no meu corpo ir embora, minha visão escureceu enquanto meu corpo caía sobre o de Cassandra.

***

– Como eu te disse uma vez - falou Ethan a Elizabeth – não devemos julgar as pessoas pelas impressões que elas nos passam... Eu devo ser pior que ela, pior que Cassandra. Eu a esfaqueei tantas vezes que nem saberia dizer ao certo quantas vezes foi. Mas eu não pensei só em mim, pensei nas outras crianças que ela podia machucar caso conseguisse fugir dali.
Ethan parou de falar ao notar que uma única flecha de Luz tocava a bochecha direita de Elizabeth. Talvez fosse a última já que o sol estava começando a se pôr. Ele não se cansava de admirar a beleza peculiar daquela linda jovem loira, por alguns momentos seus olhos se perdiam diante daqueles lábios corados e indefesos. Ele aproximou-se um pouco mais e se debruçou sobre Elizabeth para poder arrumar seu travesseiro, no fundo sabia que fazer aquilo era apenas uma desculpa muito idiota pra poder ficar mais perto de seu rosto.

– Você – disse enquanto desviava-se do seu dever e posicionada a mão sobre o rosto de Elizabeth – É tão linda – escorregou os dedos sobre a pele da bela jovem até conseguir tocar seus lábios macios. Naquele momento toda a sanidade havia fugido de seu corpo e mente, seus pensamentos estavam todos voltados para um único desejo: Beija-la. E estava decidido a fazer aquilo, levou o rosto até o de Elizabeth e o seu nariz tocou o nariz da jovem, suas bocas estavam a poucos centímetros de distância e ele podia claramente ouvir sua respiração. Mas Ethan ficou imóvel, tudo o que precisava fazer era se mover um pouco mais para que seus lábios tocassem os de Elizabeth e ele não o fez, apenas levou a cabeça um pouco mais para cima e beijou sua testa.
– Desculpe – disse enquanto se reconpunha e andava até a janela na intenção de fecha-la. Tempos depois deixou o hospital rumo ao ponto de ônibus para voltar a sua residência. Durante a viagem ficou pensando no quão errado seria se tivesse a beijado, por mais que gostasse dela ela nem ao menos sabia de sua existência e não estava em condições para consentir com aquilo.

Os pensamentos de Ethan continuaram aéreos até o momento em desembarcar, ele desceu do ônibus e seguiu em direção a sua casa. De longe Pôde avistar que as luzes estavam acesas e deduziu rápido que Julian devia ter invadido mais uma vez. Aproximou-se da porta e a abriu, revelando a figura de Julian e Kathy, ambos conversando algo sentados no sofá.
– Ethan – disse Julian animado, quase que em um tom de comemoração.
– O quê vocês dois estão fazendo aqui? E ainda por cima juntos? Vocês não estavam usando a minha casa para fazer nada não né.
– Ethan – reclamou Kathy o xingando de vários nomes apenas com o olhar.
– Eu juro que não usamos a cama, só a cozinha e... – Julian foi interrompido por um soco no ombro desferido por Kathy – Aí, calma garota calma. Agressão só na hora do sexo.
– Pelo amor de Deus – Kathy levou a mão até o rosto – por que eu ainda fico perto de vocês.
– Onde está Nebulosa? – perguntou Ethan fitando cada canto da sala.
– Deve estar por aí – respondeu Julian fazendo o mesmo e só agora Ethan notou uma caixa retangular de papelão no chão próximo ao sofá.

– O quê é isso aí? – perguntou enquanto voltava a fechar a porta.
– É por isso que estamos aqui meu caro – respondeu Julian dando leves chutes na caixa.
– O idiota aí me fez vir até aqui só pra que pudéssemos ver a grande surpresa dele - disse Kathy se levantando do sofa.
– Lembra da prótese que eu falei? Então – Julian matou a curiosidade de Ethan.
– Não brinca – Ethan sorriu de orelha a orelha enquanto encarava a caixa por mais uma vez.
– Eu disse eu disse, agora quero ver você fazer as suas piadinhas sobre deficientes – Julian se vangloriou.
– O quê estamos esperando? Vamos abrir logo – sugeriu Kathy.
– Não, está maluca? –  perguntou Ethan – Isso aí contém anos de pesquisa e tecnologia de acordo com Julian, se lembra?
–  CARAMBA, é mesmo, quase me esqueci disso.
– Pois é, já pensou se eu ou você acabassemos tocando um artefato tão poderoso assim? Meros humanos não surportariam tanta tecnologia.
– Oh seus desgraçados, já vão começar com essas piadinhas toscas? – questionou Julian – principalmente você Ethan, vou enfiar essa prótese no meio da sua bunda se continuar com essas gracinhas.
– Já pensou se essa perna abre algum tipo de portal? – Kathy ignorou as reclamações de Julian.
– Será? – Ethan fez o mesmo enquanto ambos riam – O artefato do milênio: Perna Portal.
– Vão se foder, agora o pai vai ser respeitado – Julian começou a rasgar a caixa empolgado.

Minutos depois todos os três estavam reunidos do lado de fora da casa.

— Perfeito — disse Julian cobrindo sua prótese com a barra da calça jeans — ninguém vai perceber que me falta uma perna — disse ele encostando na parede perto a porta. Ethan e Kathy estavam na calçada um pouco mais a frente.
— Vamos meu filho — falou Ethan batendo palmas.
— Vamos onde, caralho?
— Ande, queremos ver você andando — quem respondeu foi Kathy.
— Você não pretende ficar parado aí a vida toda, né? — Ethan voltou a perguntar.
— Bom, eu ainda não estou preparado para andar, preciso me adaptar antes.
— Pra se adaptar precisa andar, eu te ajudo — Ethan andou até o amigo.
— Tá maluco, fique longe de mim — reclamou Julian olhando para ambos os lados da rua — ta pensando o que? Que sou uma criança aprendendo a andar é?
— Não brinca — Ethan parou de andar enquanto um largo sorriso tomava conta do seu rosto — Você está com vergonha? — em seguida virou-se para Kathy — está vendo isso? Nosso menino está com vergonha, não é fofo? Que fofinho.

A Garota Em ComaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora