Capitulo 33

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Meia hora se passou e eu já estava ficando exausto de tanto bater aquela droga de enxada no chão. Mas enfim terminamos de limpar toda aquela área e foi ai que a segunda parte do plano teve inicio.
— Gostei — disse Peter batendo palmas.
— Podemos entrar agora? — pediu Julian.
— Claro... Que não. Ainda existe muito mato por ai e adivinha, são vocês quem estão segurando as enxadas então mãos a obra.

Ele nos guiou até a entrada do orfanato e lá eu pude ver o enorme portão negro que bloqueava nossa fuga. Ao lado do portão havia um pequeno comodo com duas grandes janelas e por uma delas pude ver um homem barbudo que estava sentado, parecia ler um jornal. Era ele quem abria o portão quando alguém precisava sair ou entrar, um porteiro de acordo com o que Julian havia me dito.
— Agora comecem a limpar tudo aqui — ordenou Peter enquanto acenava para o porteiro.
Julian e eu o obedecemos mas a todo momento estávamos preparados para colocar mais uma etapa do plano em ação e logo essa oportunidade surgiu.
— Senhor, me ajude — disse Vanda parada no corredor que levava até a porta principal do orfanato. Peter virou-se para ela e se espantou ao ver que a mão da garota estava cheia de sangue.
— Que diabos é isso?
— Eu não sei... — ela começou a chorar — eu estava trabalhando e de repente senti minhas roupas intimas ficarem molhadas. Eu estou com medo, eu vou morrer?

— Mas que inferno de menina burra. Vocês dois façam logo o trabalho, eu volto já — disse ele indo em direção a Vanda e em seguida ambos desapareceram orfanato a dentro.
— Ethan — disse Julian e eu entendi bem o que ele queria que eu fizesse. Larguei rápido a enxada e deixei meu corpo cair sobre o chão. Em seguida comecei a me debater da maneira que ele havia me ensinado.
— Socorro! — gritou Julian indo em direção ao porteiro e o alarmando.
— Por que diabos esta gritando garoto? — perguntou ele levantando-se e encarando Julian através da janela.
— O garoto está morrendo, me ajude por favor — explicou ele desesperado.
— Onde está a droga do Peter?
— Ele foi ao banheiro, rápido nos ajuda.
Julian voltou correndo até mim enquanto o porteiro jogava o jornal no chão, irritado por ter que abandonar sua leitura e conforto.
— Ethan, Ethan. Você vai ficar bem, eu prometo — Julian estava atuando muito bem, melhor do que eu que mais parecia uma barata após levar uma chinelada.
— Sai da frente, idiota — ordenou o porteiro empurrando Julian — ele está se debatendo, comeu algo estragado?
— Sim — respondeu Julian atrás do homem enquanto pegava uma das enxadas.
— O que?
— Isso — de uma só vez ele golpeou o homem na cabeça e este caiu em cima de mim.

— Me tira daqui.
— Calma — Julian empurrou o corpo do homem e eu me levantei. Em seguida ele começou a vasculhar todos os bolsos do porteiro até encontrar o que queria. O chaveiro eletrônico do portão, após isso ele apertou um dos botões e ouvimos o barulho do portão abrindo-se devagar. Era a nossa deixa.
Julian começou a correr em direção ao portão enquanto segurava firme o botão e quando eu dei o meu primeiro passo o maldito porteiro segurou a minha perna e eu acabei caindo.
— Julian! — gritei enquanto meu coração disparava.
Julian parou se correr e se virou para mim, analisando toda a situação. A sua esquerda estava a saída que tanto desejava e a sua direita eu, uma criança fraca sendo segurada pela perna. Ele rapidamente fez a sua escolha e eu tive que o assistir passar pelo portão correndo, ele escolheu fugir ao invés de me ajudar.

NOLAN

Tentei me soltar novamente e em resposta o porteiro jogou seu corpo sobre minhas pernas, tirando todas as minhas chances de fugir.
— Julian! — gritei novamente mas em vão, Julian havia desaparecido completamente do meu campo de visão e o portão tornou a fechar-se. O porteiro por alguns momentos tentava dizer algo  ou gritar, mas aparentemente o golpe que levou em sua cabeça ainda o mantinha meio grogue.
Usei o resto da força que ainda me restava e aos poucos fui me desvincilhando daquele homem que rosnava enquanto tentava me conter. Soltei uma de minhas pernas e dei um chute no rosto do porteiro fazendo-o me soltar de vez. Mas tudo foi inútil pois senti uma grande mão segurar minha cabeça e a pressionar contra a terra seca do chão.
— Mas que desgraça está acontecendo aqui? — perguntou Peter em um tom muito alto.
— O outro garoto — disse o porteiro levantando-se do chão — ele fugiu.
— Fugiu como, caralho?
— Ele me acertou com a enxada e pegou o controle do portão. Os dois me enganaram para poder fazer isso.

E ali se iniciaria uma grande sequência de torturas para me fazer falar onde estava Julian. Mas não foi Peter o responsável por isso, não mesmo. Naquele mesmo dia eles ligaram para Cassandra e ao entardecer ela retornou ao orfanato trazendo consigo o ódio contido no inferno. Eu fiquei trançado no comodo escuro, o mesmo onde havia ficado junto a Julian tempos antes. Estava com medo e já temendo tudo o que me aconteceria dali em diante.
Mas nem tudo era ruim, Julian ter escapado significava que ele podia buscar ajuda para mim e para todas as crianças do orfanato, aquela esperança vaga não me deixava desabar completamente. Por algum tempo só o que eu vi foi a escuridão, até que finalmente a porta do comodo se abriu, revelando a figura de Peter e de Cassandra.

— Já pode ir, Inútil — ordenou ela a Peter que saiu de cabeça baixa sem dizer sequer uma palavra. Os olhos frios dela se encontraram com os meus e era como se uma jarra de agua gelada fosse derramada por todo o meu corpo. Seis segundos se passaram até ela decidir dizer alguma coisa.
— Eles me contaram tudo o que aconteceu aqui hoje, sobre você e seu coleguinha atacando um dos meus homens para fugir, sinceramente eu não entendo o porque de vocês quererem sair daqui. Lhes dou tudo o que precisam e é assim que me agradecem — ela suspirou  — dois dos meus homens adentraram na floresta a procura do seu amigo, é apenas questão de tempo até  que o encontrem. Fique ai até lá.
Ela fechou a porta e eu tive que ficar ali pelo resto do dia, sem água e sem comida. Deitado sobre o chão frio, encolhido em meio a escuridão com medo de todas as coisas que uma criança imagina existir no escuro. Mas o pior viria pela manhã, Peter me acordou jogando em mim um balde cheio de água com gelo. Me contorci desesperado enquanto abria os olhos assustado.

— Levante — ele agarrou meu braço e me ergueu no ar como se eu fosse um simples pedaço de carne. Em seguida me deu três socos na barriga, me fazendo ficar sem ar. Peter me soltou no chão e me encolhi devido a dor, não consegui respirar e por varias vezes minha visão falhou, me colocando por fim em uma escuridão tremenda.
Fui despertado mais uma vez por outro balde de água fria e comecei a tossir enquanto tentava me mexer numa tentativa desesperada de fugir. Mas não iria adiantar muito pois agora me encontrava sentado em uma cadeira de madeira com as duas mãos amarradas aos longos braços dela. Cassandra e Peter estavam parados na minha frente, olhei para todas as direções e não reconheci aquele lugar. Era um cúbico de paredes marrons e sem nenhuma janela, só o que havia ali era um guarda roupas velho e alguns vasos de flores quebrados.
– Já pode ir. Certifique de que encontrem aquele bastardo — disse Cassandra.
— Sim — Peter deixou o lugar as pressas.

— Sozinhos novamente — ela sorriu me encarando. Segurava uma maleta preta e eu logo saberia o que havia dentro dela.
— Me deixe ir embora...
— Me diga onde está o seu amigo.
— Eu não sei..
— Sabe — aproximou-se de mim e suavemente colocou a maleta no chão — planejavam fugir daqui então deviam ter um destino em mente. Apenas me conte e tudo ficará bem.
— Eu não sei onde ele está e mesmo se soubesse não diria nada — antes mesmo de perceber eu já havia cuspido aquelas palavras. Por alguns momentos era tomado por um sentimento de ódio que até então eu desconhecia dentro de mim. Aquele lugar estava me mudando sem que eu percebesse e talvez eu tenha realmente matado aquele homem, apesar de não me lembrar de nada.

A Garota Em ComaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora