O fim

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Na última casa onde morei não havia quintal, nem havia o meu dono nem o dono dele. Havia a minha Mia, a Rita e as duas crias que agora já eram enormes e havia outra pessoa, o Estevão. Não sei se foi por partilhar comigo o ditongo final no nome, mas este humano não atinava com o meu nome... para ele eu fui o Sultão, Furacão, Tufão, tudo menos Vulcão! Eu não me importava, na verdade, naquela casa havia um sofá muito fofo e confortável onde dormi grandes sestas ao colo das pessoas que me enchiam de mimo.

A cada dente que me caiu e a cada crise renal que se tornaram mais e mais frequentes, todos me consolavam como sabiam. A Rita dava-me latinhas de comidas gourmet, o Estevão pegava-me ao colo no sofá, as crias fabricavam brinquedos e aconchegos e a Mia procurava resisir à tentação de aparecer atrás de uma porta para me assustar ou desafiar!

Agora já passou, já me sinto bem e já consigo escrever as minhas memórias de gato. Sei que a minha Mia ainda nem reparou que a Rita voltou para casa sem mim. Sei que a cria mais velha está a tagarelar para contrariar a vontade que tem de chorar. Sei que o mais pequeno me escreveu uma carta que eu adorei ler e que foi a cremar junto ao meu coração. Sei que o Estevão está a fazer das tripas coração para manter a pose de rochedo que segura tudo. Sei que o Carlos se fartou de chorar na casa de banho do escritório quando recebeu a notícia.

Não se preocupem, já cheguei, estou bem e o Fox recebeu-me lindamente... sabiam que vistos daqui vocês são minúsculos?

Memórias do vulcãoWhere stories live. Discover now