No telhado

17 1 0
                                    

A primeira sensação foi de falta... faltava qualquer coisa. Os meus irmãos miavam alto demais, os cães no quintal lá em baixo ladravam alto demais, mas isso não era o pior. Pior era faltar qualquer coisa. Eu também miava demasiado alto.
Quando a mãe voltava virava a barriga e nós mamávamos. Já não miava, nem ouvia ladrar nem nada se passava, para além do leite morno que me aquecia da ponta das orelhas à ponta da cauda!

Um dia, um por um, deixei de ouvir os meus irmãos. A mãe tinha saído, como agora fazia cada vez mais e durante mais tempo e os meus irmãos e irmãs, que eram bem mais valentes e corajosos e fortes do que eu, começaram a andar e caíram do esconço onde estávamos abrigados há três semanas, lá para baixo, onde havia cães.
Quando a mãe voltou eu já não estava lá. O dono dos cães telefonou ao amigo e disse que ainda sobrava um, que ainda mamava, que era preto, que era macho. Que era eu.

Memórias do vulcãoWhere stories live. Discover now