capítulo 1

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Era um vilarejo distante e remoto  daquele reino perdido, toda a civilização fugia para a grande capital de Meirin. Porque todos sabiam que longe dos vilarejos e das florestas a possibilidade de vida era melhor para todos.

Mas a minha família não pensava assim e ao meu olhar, cada vez mais todos iam para a capital, mais a gente ia para dentro das florestas, onde poucas pessoas que não tinham condições para se manter na capital sobrevivia.

- É uma floresta mágica Anya, por isso não podemos sair, nós pertencemos aqui junto das fadas, ninfas e elfos. Nós devemos nossas vidas à eles.- dizia minha mãe quando eu era pequena e perguntava a razão da gente não ir junto do nosso povo para a capital. E ela sempre dizia a mesma coisa.- Você é especial, um dia você irá descobrir o quão mágico é o seu coração, e nesse dia Anya, você nunca irá querer sair do nosso grande lar.

Eu nunca entendi bem o que ela queria dizer com aquilo. Meus avós, antes de irem para a capital me diziam que a "mamãe pensava demais, que vivia no mundo da lua, e que sempre fora assim, e eu so devia ignorar suas besteiras." Eu me sentia ofendida quando eles falavam aquelas crueldades, mamãe dizia que eles eram assim porque eram velhos demais para entender a magia da floresta e que as criaturas mágicas não gostavam de velhos babões e ignorantes, e que essa era a razão por eles serem tão chatos e sem cor.

Mas um dia eu parei de acreditar em tudo o que minha mãe dizia, a floresta, as fadas e as ninfas não poderiam existir, não quando elas deixaram aquilo acontecer a uma alma tão devota quanto a da minha mãe era.

Eu tinha somente 9 anos quando perdi minha mãe para uma grave doença que ninguém ao menos sabia o nome. Desde aquele dia minha vida mudou drasticamente, meu pai que era um homem amoroso e gentil, virou o pior monstro que eu ja conheci e convivi.

Tudo aconteceu tão rápido, ele foi cada vez mais se a pegando as bebidas e as drogas, cada dia que passava minha realidade ia se modificando. Eu temia a chegada da noite quando ele entrava em casa, quebrando tudo que via pela frente.

Até que chegou a minha vez de ser quebrada.

Uma noite ele chegou mais drogado do que o costume, mal se aguentava em pé. Eu lembro que ele chamava meu nome de forma errada e desleixada.

- Any-a, cadê minha p-pincesa.- meu pai dizia e ria ao mesmo tempo tropeçando nos móveis que tinham ao redor. Quando eu não respondi ele gritou de forma mais ameaçadora.- ANYA, onde você está su-ua bastardinha.

Eu ja era grande o suficiente, não era mais inocente como anos atrás, eu sabia o que iria acontecer comigo se eu fosse até ele, mas eu não podia arriscar, não podia deixar ele mais irritado, porque so iria sobrar mais pra mim.

As vezes - logo após meu pai me espancar, como de costume - eu penso olhando as estrelas pela janela do meu quarto. O que teria acontecido se eu não tivesse ido até ele? E se eu tivesse me escondida no meu quarto até ele ter ficado sóbrio novamente? E se eu tivesse lutado e não ter ficado lá, apanhando até tudo ficar escuro? Eram tantos "e se", mas ficar pensando neles não iriam me fazer voltar no tempo, não iria sarar aqueles roxos que estavam na minha pele, ou aquelas cicatrizes horrendas que se espalhavam pelo meu corpo.

Eu só podia ficar lá, ouvindo o ronco pesado do meu agressor no quarto ao lado, as cigarras cantando la fora e torcer para que um dia, alguém tenha dó da minha pobre alma e me salve daquela prisão que eu estava a mercê.

Someone In The Dark Where stories live. Discover now