Passei minha mão pelo espelho e reparei como eu precisava de férias. Olhos azuis cansados me fitaram do outro lado. Soltei meu cabelo e vi eles caírem em uma cascata castanha até quase tocarem a minha bunda, mas mesmo eu parecendo uma merda eles ainda estavam brilhantes e saudáveis. Em circunstâncias normais eu me consideraria um pedaço de pecado, mas não agora.

As coisas pareciam não fazer muito mais sentido. O que vai ser de mim agora? Sem emprego, sem propósito e completamente exausta das coisas que um dia jurei serem a minha vida. Eu me sentia perdia e deslocada, principalmente sem um cartão de visitas e um celular comercial. Era como se uma parte de mim estivesse faltando.

Mas foi o melhor. Ou eu largava tudo ou a pressão me deixaria insana.

Suspirei e fechei os olhos, afastando a minha cabeça de assuntos sem importância agora. Eu estou saindo de férias com meu namorado, minha melhor amiga e o namorado dela para a cidade que eu não piso à quase vinte anos.

Escovei meus dentes, ajeitei meu cabelo com a escova, corrigi minhas olheiras com corretivo e base e puxei meus cílios com máscara. Isso é o máximo que eu posso fazer para uma viajem de quase cinco horas e um calor quase insuportável.

Saí do banheiro para o quarto vazio e puxei a roupa que tinha escolhido ontem; short jeans, blusa branca e sandálias plataforma. Eu tinha que estar perfeita na maior parte do tempo e os momentos que me permitiam me vestir informalmente eram uma bênção.

Me vesti rapidamente e deixei o quarto, puxando minha mala junto comigo. Nós ficaríamos por uma semana, mas a minha mala carregava quase metade do meu closet. Jack estava sentado na bancada da cozinha lendo o jornal. Mesmo que eu não estivesse em casa durante grande parte do tempo eu fiz questão de que tudo fosse moderno e bonito. Minha mobília era predominantemente preta e o apartamento bastante iluminado com janelas do chão-ao-teto. Mas por mais que fosse o meu lugar não se parecia em nada com a casa de uma mulher.

Jack percebeu a minha presença e largou o jornal, girando na banqueta e sorrindo para mim. Eu o conheci em uma das poucas noites em que eu conseguia estar em casa. Sua foto apareceu para mim enquanto eu vasculhava um site de relacionando sem nenhum motivo aparente e nós começamos a conversar. Desde o primeiro momento ele foi carinhoso e cordial e isso acabou por me conquistar.

Nosso relacionamento era tranquilo e equilibrado, eu com minha personalidade forte e autoritária e ele pacífico e compreensivo. Nossas diferenças foram atrativas e nos uniram, mas por mais perfeito que isso fosse ainda faltava a paixão que eu tanto sonhava. Nossa diferença de idade não era tão grande, mas Jack já se considerava velho demais para se aventurar e quem acabava saindo prejudicada era eu.

Enquanto ele era adepto de uma noite romântica com mais beijos e palavras bonitas eu era uma bomba de energia sexual desesperada para ser detonada. Meu caminho era me masturbar e idealizar um homem que Jack nunca seria, mas eu me sentia segura e protegida ao lado dele.

- Tudo pronto, querida? - eu assenti com um sorriso, entregando minha mala para ele.

- Pode ir descendo, só vou pegar minha bolsa e uma garrafa de água.

Jack assentiu e saiu puxando minha mala que facilmente me caberia dentro. Era sempre a mesma coisa; excesso de bagagens com mais roupas que o necessário e trinta pares de sapatos.

Pisar na área de embarque do aeroporto já foi suficiente para o pavor fechar suas garras ao redor do meu pescoço. Eu tinha uma claustrofobia desgraçada e se já não bastasse ainda herdei os pavores da minha mãe e a mania de perseguição.

Ninety Days Where stories live. Discover now