Capítulo 7

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Lucifer's POV

     Se não fosse pelo meu estômago roncando, exigindo comida em conta das atividades da noite anterior, eu ficaria deitado. Um sorriso se abre no meu rosto com um simples pensamento do que aconteceu. Não há ninguém como ela.

     Eu a olho pela última vez e cuidadosamente me levanto da cama. Visto as minhas roupas, que estavam espalhadas pelo quarto e vou até a cozinha na ponta dos pés, esperando fazer o mínimo de barulho possível. É hora de fazer um café da manhã. Panquecas, para ser exato.

     Ouvi dizer que são um jeito comestível de se dizer "muito obrigado" pela noite que tivemos. Perfeito para esta ocasião.

     Procuro pelos armários na esperança de encontrar uma frigideira, e depois de alguns minutos finalmente tenho o instrumento em mãos.

     Rapidamente preparo uma massa para as panquecas e despejo sobre a superfície quente da frigideira. Enquanto isso, começo a cortar morangos, bananas e outras frutas e organizá-las em um prato. Volto ao fogão em tempo de virar a panqueca.

     Depois de alguns minutos, coloco a última delas no prato. E no mesmo segundo, ouço passos atrás de mim. Antes que eu possa virar, sinto dois braços entrelaçados no meu quadril e um sorriso aparece no meu rosto.

     "Bom dia." Chloe sussurra nas minhas costas enquanto me abraçava. Me viro para trás e quando a vejo, meu queixo cai. Meu olhar vai da sua cabeça aos pés e meu corpo começa a queimar.

     "Uau." Deixo escapar. Como uma mulher pode ser tão bonita assim?

     "Eu sei, acabei de acordar, meu cabelo está uma bagunça-" Chloe murmura e calo a sua boca da maneira mais efetiva. Conectando nossos lábios. Ela solta um suspiro e me abraça. Eu poderia ficar ali o dia inteiro, mas acontece que, até o diabo precisa de comida.

     O ronco do meu estômago me traz para a realidade novamente e me lembra das panquecas.

     "Eu fiz café da manhã para nós." Digo. "Espero que não se importe comigo explorando a sua cozinha, eu pensei que você estaria com fome." Nunca senti a necessidade de perguntar alguma coisa ou medo da reação de alguém antes. Mas com ela, apenas preciso de sua aprovação. Eu estou ficando louco? É isso que humanos fazem? Perguntar uns aos outros se o que fizeram é bom? Devo admitir, me senti absurdamente bem quando ouvi sua aprovação ontem. Acho que nunca esquecerei daquilo.

     "Ótimo! É claro que não." Ela responde, e imediatamente sinto um calor aumentar no meu corpo. Ok, foco, Lucifer. Se não, esse café da manhã vai acabar em nenhum lugar.

     "Você gosta de panquecas?" Rapidamente troco de assunto.

Chloe's POV

     Esse homem, parecendo ser malvado e mulherengo. Ok, sim, ele é isso, mas também é tão pateta. Meu pateta, logo. Eu espero.
     "Sim! Eu amo panquecas!" Respondo animada. Ele parece mais relaxado agora, como se estivesse com medo da minha reação. O sorriso que Lucifer abre depois poderia provavelmente iluminar toda Nova York depois do pôr do sol. Tão despreocupado e feliz.

     "A chuva me acordou, já faz um tempo, mas aparentemente parou. Você quer comer essas lá fora?" Sua voz me tira dos pensamentos. Olho para a janela e percebo que o céu ainda está cinza, mas o vento diminuiu drasticamente e a chuva realmente parou.

     "Claro, eu tenho alguns lugares para ficar lá fora. Vamos." Pego alguns cobertores do sofá e vamos para a varanda. Mesmo que a chuva tenha parado há alguns minutos, o ar não está frio. Somos pegos de surpresa com uma brisa de verão.

     Quando estamos confortáveis no banco debaixo das cobertas e com algumas panquecas, Lucifer começa a falar:

     "Então, você gosta dessas panquecas? Eu fiz elas errado?" Ele tenta fazer soar como uma pergunta inocente, mas consigo sentir que há alguma coisa escondida. O jeito que seus olhos estão vidrados, sua mandíbula um pouco cerrada e seus punhos segurando o cobertor um tanto forte deixam pistas.

     "Estão incríveis, Lucifer. Não se preocupe com isso. Agora, o que está te incomodando? Seja honesto, pois eu consigo ver que há alguma coisa errada." Digo. Ele fica quieto por um momento, procurando uma resposta.

     "Não tenho certeza."

     "Certeza sobre o que? Se as panquecas estavam no ponto certo?" Pergunto, confusa.

     "Sim, isso também, mas-" Lucifer responde com um sorriso. "Mais sobre nós, sobre você." Ele admite. "O que nós significamos? Você quer isso? Que nós sejamos algo significativo?"

     Oh Lucifer, parecendo tão confiante e ainda, inseguro. Tenho certeza de que apenas algumas pessoas sabem desse seu lado inocente. Esse que claramente não sabe de certas coisas sobre a vida. Fico feliz em dizer que faço parte desse grupo. Quero ensiná-lo do que se trata. Realmente, tudo o que a vida tem a oferecer. Não apenas as festas, mas as coisas reais. As conversas sérias, os medos, as lágrimas, e mais importante: as risadas e a felicidade.

    "O que isso significou para você?" Pergunto e ele suspira, talvez porque não saiba a resposta para isso ou não quer me dizer. Olhando para seu rosto, sua expressão parece uma combinação das duas hipóteses.

     "Eu não sei... eu... disse que te amava ontem, e-" Oh não, ele não se arrepende do que aconteceu, certo? "... eu realmente te amo. É só... eu não sei, como? Eu já tive relações com muitas pessoas antes, é óbvio, mas nunca amei ninguém antes." Ele pensa mais um pouco. E mais uma vez, sou pega de surpresa. Preciso de um tempo para processar o que está acontecendo.

     Eu sabia que Lucifer era do tipo com quem se fica por apenas uma noite. Nunca amou, nunca foi amado, e ainda se abre para mim. Meu coração se aquece em saber que ele realmente admite ao invés de se esconder, fazendo piadinhas.

     Quero confortá-lo, dizer que tudo ficará bem, que nós conseguiremos resolver isso juntos. Antes que eu possa começar, ele me interrompe:

     "Sabe, a minha vida nunca teve um propósito. Quando fui expulso do Céu, tive que governar o Inferno. Mas não foi a minha escolha, obviamente. Então, milênios se passaram, eu deixei o meu reinado para trás e subi para a Terra, sem nenhum objetivo. Apenas as festas. Bem, acho que se pode dizer que essa parte foi bem sucedida. Nunca procurei por nada sério aqui, você sabe, mesmo respeitando cada um dos meus amantes, sempre era uma única noite e uma manhã. Mas recentemente conclui que eu queria ser...alguém bom com a sua chegada na minha vida. Queria te ajudar, te proteger, depois de um tempo. E a pequena cria também, é claro. Eu nunca gostei de crianças, mas devo dizer, tenho um pouco de respeito pela sua." Escuto-o com atenção e não consigo evitar a revirar os olhos com a história maluca do Céu e Inferno.

     Mas fico feliz em saber que Lucifer evoluiu e realmente aceitou isso. Ele fala tudo lentamente, como se não soubesse explicar todas essas coisas. E também sei que, secretamente, lá no fundo, ele faria de tudo para proteger a Trix. Mesmo que nunca admitisse.

     "Eu nunca falei com uma criança. E ainda assim, sinto todas essas coisas estranhas pela sua sugadora de dinheiro. A doutora Linda me ajuda bastante, mas também me deixa espaço para entender tudo sozinho. E sou grato por isso, aliás, sou grandinho suficiente para fazer as minhas próprias decisões." Lucifer faz uma pausa para morder um pedaço da panqueca em sua mão. "Mas eu nunca experienciei isso. Nós. Uma relação." Ele suspira e deixa a sua cabeça se encostar no apoio do banco. Fechando seus olhos por um momento, Lucifer respira fundo. 

Como Valer a PenaWhere stories live. Discover now