Descendentes do Inferno - Uma história Renegados do Inferno - Vol Único

A Beleza dos Espelhos

—  Por que não tenta? Aposto que temos várias histórias cheias constrangedoras para compartilhar. —  Ele sorriu.

—  É. —  Sua voz entristeceu-se. — Porém não é apenas a vergonha que me pega nesta história...

—  Tudo bem. Não vou forçar a barra. Só que quando eu vi aquele cara segurando você daquele jeito... Eu não agi por mim mesmo... Ele era seu... ham... 

—  Padrasto. —  Ela o cortou antes que ele prosseguisse.

—  Entendo... —  Ele olhou para frente e respirou fundo ainda nervoso e sem saber como prosseguir. —  Você precisa de...

—  Obrigada. — Novamente Lizzy o cortou, e só então Zak notou que ela estava mais nervosa que ele. A menina encarou Zak e ele a encarou de volta. Sua respiração começou a ficar ofegante de novo e sua expressão era de medo. — Ele... Bom... É que..

—  Lizzy você não tem que me contar nada, isso é um assunto seu e....

—  Por favor... Eu preciso desabafar com alguém sobre isso... Eu... Eu não tenho ninguém além da Macayla e hoje eu meio que fui bem grossa com ela quando ela só queria me ajudar, então... —  Ela engoliu em seco e começou a soar frio. 

  Zak estava constrangido, mas queria que Lizzy tivesse apoio para desabafar. Ele não conhecia muito bem ela, mas via o quão desajeitada e extrovertida ela era. Quando percebeu que havia sofrimento por detrás daqueles óculos, ele sentia que tinha de acalmá-la e mostrar segurança pra ela. 

  Foi então que o garoto pôs sua mão por cima da mão trêmula da menina.

—  Eu não vou fugir de você de novo. —  Disse ele com um sorriso meigo. —  Dessa vez eu prometo. —  Disse ele e ela sorriu pra ele confiante.

  Lizzy respirou fundo e pigarreou logo em seguida, encarou o horizonte e unindo suas últimas forças ela falou.

— Minha mãe era prostituta quando engravidou de mim... Óbvio que meu pai nunca foi encontrado, tudo o que ela queria era sair daquela vida e me criar. Foi quando ela resolveu voltar a morar com minha avó. Porém o dinheiro da aposentadoria sempre foi muito baixo, não dava pra sustentar minha avó eu e minha mãe... —  Lizzy engoliu em seco e sua expressão se tornou raiva no exato momento. —  Foi então que minha mãe conheceu Evan. Aquele babaca...

  Lizzy ficou quieta por uns tempos até criar coragem de terminar sua história.

—  Eu tinha 9 anos quando Evan... Quando Evan me tocou pela primeira vez. —  Imediatamente Azakiel encarou ela com a face incrédula. Ele parecia tão nervoso que estava quase descumprindo sua promessa e indo atrás do bêbado para terminar o serviço. —  Passei 7 anos escutando meu padrasto me chamar de palavras horrendas e racistas, sobre o quão feia eu era. Tentando criar circunstâncias para me tocar de novo e dizendo que homem nenhum iria me querer... Só ele... E quando eu dizia não... —  Lizzy tirou o lenço para que Zak pudesse vez os hematomas expostos de seu pescoço. —  Ele ficava muito bravo...

—  Mas e sua mãe?! Ela não fazia nada pra impedir??? —  Perguntou ele completamente irritado tentando não se tornar um brutamontes pelo ódio.

—  Ela não sabe... —  Disse Lizzy. —  Ele é tudo o que ela tem. E com ela ele é bom... Ele... Ele não maltrata ela... E sempre dá o que comer a gente então... Se eu contasse, minha mãe provavelmente teria que se prostituir de novo e eu não quero isso pra vida dela Zak. —  Lizzy começou a chorar novamente. —  Não quero...

—  Ei... Lizzy! —  Ele a abraçou sem saber como realmente lidar com a situação. Zak era a última pessoa a aconselhar uma garota, já que ele sempre foi o idiota com elas.

  O problema é que ouvir a história da boca de Lizzy o fez repensar tanto suas ações e se sentir ainda pior do que ele já se sentia. Maca estava certa em recusá-lo. Ele não sabia de nada sobre como era ser uma garota, e apenas se vangloriava por ser bonito o suficiente e conseguir quem quisesse. Mas não era assim que as coisas funcionam no mundo delas.

  Ao entender o quão podre alguns homens poderiam ser Zak finalmente caia na real dele.

— Estou aqui por você. —  Ele a afastou e secou as lágrimas do rosto de Lizzy. Decidiu que não seria como Evan. Ele era melhor, ele queria ser um cara melhor. Logo ele sorriu. Mas não da situação e sim por que pela primeira vez Zak olhou nos olhos de Lizzy.

—  O que foi? —  Ela perguntou fungando o nariz e ele soltou os cabelos de Lizzy em seguida removendo os óculos dela. 

—  Só um momento. —  Ele pediu pegando sua mochila e futucando por dentro a procura de algo. —  Achei! —  Respondeu retirando um espelho pequeno. —  Era da Alexia. Quando a mochila dela fica cheia de maquiagem ela enfia as coisas dela no meu. —  Ele sorriu e entregou o espelho a Lizzy. —  Aqui. Pra você de presente.

—  Por que está me dando isso? —  Lizzy perguntou. — Não vai me dizer que é um espelho mágico de anjos que aumenta a autoestima? — Perguntou e Zak riu daquilo.

—  Olha o espelho Lizzy. — Pediu o rapaz e Lizzy olhou. 

  Viu seus cabelos soltos e sem seu óculos. Apenas ela. Natural sem maquiagem ou apetrechos. Só ela e ela. 

— Viu? —  Perguntou e lágrimas voltaram a sair do rosto de Lizzy, ela havia entendido. —  Um babaca disse que você é feia e você vai acreditar? Não entendo muito de garotas, mas eu queria que sempre que acordasse. Pegasse esse espelho e olhasse a si mesma nele. Pra você ver, que não importa o que os outros digam... Você é linda, Lizzy. —  A menina encarou Zak naquela mesma hora.

  Lizzy sorriu em meio as lágrimas e abraçou o rapaz na mesma hora feliz por pela primeira vez na vida ter ouvido de um rapaz algo daquele tipo.

—  Obrigada Zak... —  Respondeu ela. —  De verdade.

—  Eu que agradeço por ter me feito acordar... — Disse ele se afastando de novo e um som de buzina despertou os dois.

— Os pombinhos podem namorar sobre minha vigia! Nada de namoro escondido! — Era Adam em seu carro com Rafael no banco da frente acenando com cara de tédio. —  Entra garoto. E se a mocinha quiser carona aproveita que hoje tô de bom humor. —  Respondeu Adam.

—  Mentira. —  Disse Rafael. —  Ele só retocou a maquiagem. 

  Zak sorriu e Lizzy também enxugando as lágrimas.