Parte 3

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Passou-se mais de um mês assim, conversa vai, conversa vem, e aparentemente, a ferida estava cicatrizada. Faltando uma semana para a viagem, ele me perguntou se eu queria ir para Toruń. Dei um google e vi que era a cidade natal do Nicolau Copérnico, apenas o cara que desenvolveu a teoria do sistema solar. Na cidade havia várias homenagens para ele. E eu, apaixonada por astronomia desde criança, já estava pulando por dentro. 

"E aí! Torun vai rolar mesmo?"
"Queres? Bora, compro hoje se quiseres."

"Me animei."

"Bora então! Ah, já encontrei colchão para ti!"

"Oba!! Mas olha, só tenho 50 euros para levar, viu? Me diga se dá hahaha"

"Já tá com os autocarros todos comprados?"

"Sim, tudo."

"Então acho que dá."

"Olha, vou confiar. Aqui é low-cost raiz haha"

"Aqui também hahaha. Vai ser um pouco complicadito, vamos ter que poupar em comida. Mas eu topo porque tenho que poupar também."

"Aventuras financeiras, aqui vamos nós!"

Aproveitei para fazer uma pergunta e garantir que eu não estaria fazendo papel de boba.

"Olha, me tira uma dúvida. Você disse que nada mudou. De verdade, né?"

"Claro haha Espera, em qual sentido?"

"Nisso aqui, nossa amizade."

"Ah, sim, sim. Se tivesse mudado achas que eu ia à Varsóvia? Haha Tá tudo igual, não te preocupes!"

"Bom ponto hahaha tudo bem."

Nosso ponto de encontro seria em Varsóvia, ele morava em Łódź, uma cidade universitária a duas horas de distância. Voltei a ficar ansiosa, com medo do frio, mas ansiosa. 

Já era sábado, 24 de novembro, a minha única mala (se é que posso chamar uma mochila 40x20x25cm de mala) estava pronta. Vesti a calça térmica, seguida de uma calça jeans, uma blusa térmica, outra blusa de manga comprida, uma camiseta e, por cima, o casaco que a Bia havia me emprestado, porque tive medo do meu não aguentar o frio. Precisei vestir o máximo de roupas possíveis, porque como disse ali em cima, estava levando apenas uma pequena mochila que se adequa aos padrões de mala de mão da companhia aérea para não precisar pagar para despachar. Saí de casa nervosa, a começar pelo metrô, nunca tinha andado sozinha, sempre optava pelo ônibus. E não tinha costume porque na minha cidade natal não tem metrô. Cheguei no aeroporto, sã e salva, já havia feito o check-in online (nunca deixe pra fazer no balcão, algumas companhias aéreas, principalmente as de baixo custo, cobram uma taxa absurda por isso), então entrei na sala de embarque. Miguel constantemente me mandava mensagem, perguntava se estava tudo bem e para eu avisar quando chegasse. Estava entrando no avião, e ele me desejou boa viagem.

[Way Back When - Kodaline]

Dormi a viagem toda, tenho o dom de dormir em qualquer lugar a qualquer hora. O fuso horário da Polônia é +1, comparado com o de Portugal, o avião pousou às 18h50. Ao descer, senti 0ºc pela primeira vez na vida, e que sensação engraçada. Durante o trajeto da pista de voo até entrar no aeroporto, meu nariz congelou instantaneamente e começou a escorrer, eu ri comigo mesma, era como se essa nova sensação fizesse cócegas. Logo que entrei no aeroporto, avisei ao Miguel e fui procurar a parada de ônibus. Pensei que demoraria para achar, mas o aeroporto era tão pequeno que só precisei atravessar um corredor e já estava na frente dele. Um pouco a frente, vi um ônibus parado e algumas pessoas entrando. Cheguei mais perto para ver o seu trajeto, Modlin - Palácio da Cultura, era o meu. Mas estava tão adiantado...

high hopesWhere stories live. Discover now