Capítulo 24

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Não podemos mudar o passado, o que nos resta é aceitar e superar o que já aconteceu.

— Desligue isso, Adolf! — Arion gritou com ódio.

Assistia angustiado Sharaene chorando, ela passava um tempo parada e logo em seguida gritava; chorava de uma forma desesperadora, todo o seu corpo tremia.

Ele desejava a tirar dali, tentou abrir aquela espécia de jaula diversas vezes, o que só resultou em machucados em suas mãos. Ver as lágrimas escorrerem por sua pele cor de chocolate, partia seu coração.

— Me deixe ir no lugar dela! — ele gritou, porém, de nada adiantava suas incessantes súplicas.

As pessoas os encaravam com pena, alguns se sentiam felizes em ver aquela cena, aliás, a maldade da humanidade está presente em  qualquer lugar.

Desirée estava tão angustiada que evitava olhar. Se afastou e ficou encarando o nada, os gritos e choro de Sharaene ainda chegava em seus ouvidos a entristecendo. Gostava da mulher, invejava a loucura e coragem dela, porém não conseguia acreditar que ela salvaria aquele povo idiota.

Sharaene novamente não podia escolher seus movimentos, estava sendo arrastada por um soldado. Um homem alto, forte, careca e com uma grande barba desgrenhada, seu olhar era frio e sem nenhum resquício de bondade.

Logo a frase de Adolf foi dita e ela foi arrastada para o centro do estádio. Sentia o olhar da pessoa percorrer toda a arquibancada, até encontrar o que desejava; ela criança e sua mãe.

Estava no corpo de seu pai.

Sentiu tudo que ele sentia, o medo de morrer, a tristeza por não poder estar com sua família, a saudade e principalmente a raiva; nutria muita raiva pelo governo.

Ela escutou perfeitamente ele sussurrar o "eu amo vocês".

Viu quando seu olhar foi de encontro ao homem que iria atirar nele, era o mesmo soldado que havia o levado para dentro do campo.

E então o primeiro tiro veio, esse acertou o ombro; o segundo disparo acertou a perna; o terceiro a barriga. Logo eram tantos tiros que não sabia em qual parte do corpo ele atingia, somente sentia dor, uma dor horrível; a dor da morte.

Seu corpo tombou ao chão, tudo ao seu redor não passava de um enorme borrão.

— Me perdoem. — foi a última coisa que ele sussurrou antes de morrer.

Depois da morte, ela teve controle daquele corpo, mesmo sem vida. Novamente estava gritando e chorando desesperadamente. Mexia o corpo do seu pai freneticamente tentando de alguma forma fazer parar de sangrar, mas era impossível.

Sentia seu coração doer, estava enlouquecendo, o sofrimento com aquela lembrança só aumentava.

Logo estava se iniciando tudo novamente, agora se encontrava no corpo da pessoa que mais odiava no mundo; Adolf.

Sentiu toda a maldade que existia naquele ser imundo, o nojo que ele sentia daquelas pessoas, o prazer que ele teve em ver aqueles homens morrendo e suas famílias sofrendo. Ele era um monstro, um ser desprezível.

Cada vez que tudo se reiniciava aparecia em um corpo diferente. Esteve no corpo de várias pessoas que não conhecia, em um momento esteve no corpo de sua mãe, sentiu a dor que a invadiu, a tristeza, o medo de não conseguir cuidar de uma filha sozinha. Mas o pior foi sentir o desespero dela em tentar esconder sua dor para consolar Sharaene.

Em outro momento esteve no corpo de uma criança que viu seu pai morrer, aquela foi uma das piores dores que sentiu.

Quando tudo recomeçou mais uma vez, não estava em corpo nenhum, se encontrava novamente como um telespectador que ninguém enxergava ou sentia.

SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]Where stories live. Discover now