Não importa a circunstância em quem nos encontramos, sempre podemos lutar para tentar mudá-la.
— Talvez eu esteja olhando para o lado errado. — sussurrou para si enquanto levantava.
Sabia que aquela tentativa de explicação era absurda, porém precisava ao menos verificar.
Enquanto caminhava na direção contrária a qual se encontrava, um cheiro horrível invadiu suas narinas. Os corpos jogados pelo campo já exalavam um cheiro péssimo, mesmo em tão pouco tempo já haviam larvas e moscas. A ânsia de vômito se tornou presente, porém se negava a parar para vomitar.
Quando passou por entre as pessoas tudo parecia estar em câmera lenta. Percebeu alguns chorarem, outros proferirem inúmeros palavrões para o governo, alguns reclamando e discutindo com incontáveis dúvidas sobre o que estava acontecendo.
Mas esse não foi o pior, ela enxergou dor, desespero, medo.
Ela viu um povo ingênuo, que foi educado para amar o governo acima de tudo e aceitar todas as suas ordens – sofrer. Pela primeira vez os olhos deles estavam se abrindo para a realidade.
A realidade é uma verdade que dói; dói muito.
Mesmo em meio a tudo igualmente aterrorizante ela percebeu algo diferente que lhe chamou atenção: fagulhas de desejo por mudança começarem a surgir.
Dentre toda aquela tormenta poderia surgir uma revolução.
Mas ela, mais do que todos, sabia que não estariam vivos para realizarem tal ato.
Quando passou novamente em frente a tão estranha construção que há pouco havia sido um palco de horror, seu coração se apertou.
— Eu queria poder vingar a morte de todos vocês. — ela sussurrou com pesar enquanto encarava o chão escuro sujo de sangue.
Logo voltou a andar, eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que já agia em modo automático. Não havia processado nada que aconteceu nas últimas horas; ninguém ali havia conseguido.
Se cada um, há um tempo atrás, se imaginasse vivendo aquela situação, se idealizaria chorando, lamentando, desistindo de tudo e outras escolhas que se resumissem a sentar e chorar.
Mas a questão é que quando se viram naquela situação desesperadora, a negação foi a primeira coisa pela qual passaram.
Ignoraram as mortes, a loucura daquelas provas, fingindo que no final valeria a pena.
Logo em seguida sentiram medo, medo de ser o próximo a ter um fim não merecido.
Em terceiro a tristeza e realidade bateram na porta de todos, porém ninguém consegue sentar e chorar. Apesar dos pensamentos negativos sabem que só possuem uma escolha: lutar e tentar sobreviver o máximo que puderem.
Quando chegou próximo ao muro contrário que esteve antes, teve certeza que sua esperança sem sentido era sem lógica.
O sol realmente nascia na outra direção, seria impossível ele mudar de lado.
— Nada mais é impossível. — ela sussurrou novamente, para si mesma.
Após alguns minutos tentando criar os mais variados tipos de teoria voltou para o centro, onde uma grande discussão se estabelecia.
— O que está acontecendo? — ela perguntou ao parar ao lado de Kayron.
— Eles estão perdidos, ninguém sabe o que fazer. — ele respondeu.
— Entendo.
Kayron a encarou por um tempo até ter uma ideia, logo o seu sorriso de costume estava brilhando em sua face.
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SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]
Random"Não se apegue a nada nem a ninguém, não adianta correr nem fazer estratégias, provavelmente tudo dará errado, somente sobreviva até o sol nascer." Após mais de um século depois de o mundo ter entrado em declínio e a raça humana ser quase extinta, m...