Conseguia escutar os choramingos da mulher que tremia compulsivamente. Sua mão tocou o braço frio e a virou para que pudesse ter uma visão melhor, mas se assustou ao ver o rosto em carne viva. As lágrimas escorriam pelo seu rosto em desespero com a cena que presenciava.

Ela não estava morta, mas em breve estaria inconsciente. Quando acordasse provavelmente já não seria mais a mesma. Jimin notou que o vestido bege tinha respingos de sangue e um pouco mais longe, jogado no chão, tinha uma faca de corte ensanguentada. Alguém havia entrado na casa e sua mãe havia ferido ou matado quem quer que fosse.

Com muita dificuldade e com as lágrimas atrapalhando sua visão, arrastou a mulher até a cama. Não se importava com o risco que estava correndo. Sem ela sua vida não fazia sentido. Preferia ficar doente ao abandonar sua mãe e se isso fosse custar sua saúde, ele iria morrer junto dela.

No final daquele dia a epidemia havia feito mais uma vítima e agora ele não tinha mais ninguém.

A mulher virou a noite agonizando e ele apenas se perguntava quando isso iria acabar. Quando a dor iria passar. Como seria dali para a frente?

Em questão de horas já era possível ver o osso entre a carne viva de seu rosto. Ela ainda não havia acordado, mas resmungava palavras indecifráveis durante o sono turbulento e doloroso.

Jimin fazia o possível para ajudar e se manter firme. Sabia que cedo ou tarde teria que ir embora e a deixar ali sozinha. Tentava não pensar nisso, porque doía pensar que no dia seguinte não a veria mais. Não sentiria seu cheiro depois de um longo banho. Não conversaria com ela sobre como havia sido seu dia e não a ouviria cantar pela casa enquanto cozinhava algum legume que ele não gostava, mas que comeria porque ela mandava.

Ele a perdeu e por mais que fosse difícil aceitar isso, essa era a realidade. Ela não estava mais ali. Aquela que dormia naquela cama, não era mais a sua mãe. Ele não queria desistir. Não queria ir embora, mas era doloroso demais de assistir.

Saiu do quarto sem se preocupar em fechar a porta. As lágrimas desciam com intensidade porque sabia que seu tempo estava acabando. Ela poderia acordar a qualquer segundo e ele já havia se exposto tempo demais ao vírus. Se jogou no sofá velho e duro e apenas fechou os olhos por um momento.

Seu pai era comerciante e havia viajado antes mesmo da primeira pessoa adoecer na vila. Quando não voltou, imaginaram o pior. Não tinham certeza do que tinha acontecido, mas ao saber que as outras vilas não estavam em uma situação melhor que a sua, perceberam que as chances de ele estar morto eram altas. Com o tempo pararam de esperar que ele voltasse e a conformidade apareceu, porque ao menos estavam juntos.

Agora, deitado no sofá, sentia as lágrimas quentes escorrerem pelo seu rosto. Chorava pela perda de seu pai e porque aos poucos perdia sua mãe também. Chorava porque não sabia o que fazer. Chorava porque as lembranças de um tempo feliz o atormentavam.

Ouviu o barulho de algo batendo na parede e rapidamente abriu os olhos e saltou do sofá. O corpo parecia mole e fraco, mas carregava o que parecia ser um pedaço de madeira. Jimin não sabia como ela havia pego aquilo, mas sabia o que ela pretendia fazer.

Os olhos eram completamente negros e seu rosto parecia ter sido derretido e, por mais que Jimin tivesse tentado impedi-los de se aproximar, alguns vermes pareciam comer sua carne.

— Mãe — ele chamou baixinho, com os olhos inundados de lágrimas incontroláveis e assustado pelo olhar irritado que ela carregava. — Mãe, sou eu. O Jimin. Lembra? — Ela não parecia escutar e a risada histérica parecia comprovar aquilo. E em um movimento rápido, ela o atacou.

Lançou-se na direção do menino com força e velocidade. Jimin nem imaginava que ela conseguiria se mover com tanta agilidade, mas ela conseguia. Ele desviou por pouco e, sem pensar, correu para a saída dos fundos. Escutava os grunhidos e a risada assustadora. Ela não tinha tanto equilíbrio, apesar da rapidez, e às vezes batia nas paredes.

A Origem ABO - Jikook | LIVRO 2 | MY ABO UNIVERSEWhere stories live. Discover now