XXV - Coroa de Ossos

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-Ai – vi meu rosto se retorcer em uma careta no espelho, quando a pessoa atrás de mim puxou com muita força um nó do meu cabelo com a escova – Está doendo

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-Ai – vi meu rosto se retorcer em uma careta no espelho, quando a pessoa atrás de mim puxou com muita força um nó do meu cabelo com a escova – Está doendo.

-Eu não sei como você pode reclamar tanto – a pessoa atrás de mim falou, com uma voz suave e um tom cruel que me causavam arrepios, como algo que desvanecia da minha memória, alguém que eu deveria reconhecer mais facilmente do que eu me esforçava para fazer. Tentei me virar na cadeira, mas era como se eu fosse uma estátua incapaz de me mover – Você tem tudo Bethany, e ainda se acha no direito de ser infeliz?

-Eu não estou infeliz – falei, observando meu rosto no espelho, todos aqueles traços de repente algo novo. Meus olhos escuros agora tinham sido substituídos por um par de verde brilhante e meus lábios estavam finos como nunca haviam sido – Só não sei o que fazer.

-Não sabe o que fazer sobre o que? – uma nova voz perguntou. No espelho, vi Marian entrar na sala logo atrás da garota penteando meus cabelos. Ela seguiu até mim, beijando minha testa – Seu trabalho não é pensar querida. É para isso que você tem uma mãe, afinal.

-Uma mãe? – pisquei, tentando entender o que ela queria dizer. Era algo cruel para se dizer, cruel de uma forma que Marian nunca seria apesar de sua rigidez.

-Não apenas uma mãe, eu espero– ela sorriu, sentando-se ao meu lado e passando o braço pelos meus ombros – Mas uma amiga também. Isis, eu não tenho a filha mais linda de todas, com essa cabecinha dela?

-Linda – a garota deu um passo para trás, deixando eu ver seu rosto. Isis, parecia familiar, aquela criaturinha de maçãs do rosto proeminentes, covinhas e rabo de cavalo loiro porém parecia de alguma forma errada – Eu vou deixar vocês conversarem.

-Agora me diga, o que está preocupando você? – Marian passou a mão pelo meu cabelo, enrolando um cacho vermelho escuro.

Balancei a cabeça, enquanto o cacho caia de volta no meu peito, longo e avermelhado – Eu...

-Você só tem um trabalho Bethany – Marian começou a passar a mão pelo meu cabelo uma segunda vez, até enfiar os dedos entre as mechas, puxando ele com força – Você só tem que ser bonita!

Gemi, tentando me afastar dela, enquanto ela puxava meus cabelos, falando na minha orelha – O que tem de tão difícil em sorrir e ser bonita?

-Ela não consegue – Isis entrou novamente no quarto, com uma escova de cabelo afiada nas mãos – Ela é uma mentirosa americana.

"Bonita" a voz de Marian seguiu ecoando, enquanto tudo começava a escurecer "Você só precisava ser bonita!".

"Mentirosa" Isis ria em algum lugar também "Mentirosa americana".

Arfei, suando frio enquanto acordava, sentada tentando me livrar dos fantasmas de mentira com as mãos, acendendo as luzes assustada e me sentando na penteadeira, aliviada de ver meus cabelos – os cachos loiros irregulares e embaraçados como uma nuvem em torno do meu rosto – no reflexo.

O Que o Espelho Diz - A Rainha da Beleza Livro II [NÃO REVISADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora