5. Como déjà vu

Começar do início
                                    

- Pássaros não abrem e fecham portas.

- É. - falou se calando, se sentou ao meu lado, eu toquei sua mão e senti fria como uma pedra de gelo, logo tirei minha mão assustada.

- Você é frio, gelado.

- Sempre fui assim, mas não sei, deve ser coisa minha ou de família... o clima talvez.

-Mas está uma temperatura agradável. Todos são gelados?

- Não sei. Bom... - Falou mudando de assunto - Se você decidir ver o que tem lá embaixo, tome cuidado com o espelho. - Falou se levantando e indo em direção a janela.

- Que? Como sabe que lá embaixo tem um espelho? - Falei assustada.

Quando pude perceber que ele não estava mais lá. Fiquei assustada, não pensei duas vezes, a noite quando todos estiver dormindo irei lá, assim ninguém iria me atrapalhar.

◆◆◆

-Boa noite pai, mãe. - Falei pegando uma garrafa de água na geladeira.

- Boa noite. - Disse minha mãe bocejando. Já eram onze da noite, e meus pais costumam dormir cedo, hoje até que estão bem dispostos para o horário. -Filha, já vamos subir, tudo bem?

- Tudo bem, eu vou ver um filme na sala, sem problemas.

-Porque não vê em seu quarto? Vai ficar sozinha aqui em baixo...

- Da no mesmo em meu quarto, estou acostumada a ficar sozinha... pelo menos aqui embaixo tem comida. - Sorri.

- Então se vai ficar bem, ótimo. Estou indo. - Falou beijando minha testa. - Durma bem!

- Obrigada. - Sorri e já haviam subido, fui até a sala ligando em um canal, a verdade é que nada pegava aqui. Reviro os olhos vendo alguns DVDs, escolhi um filme de suspense e coloquei me jogando no sofá.

Já era meia noite, com certeza todos já haviam dormido. Deixei o filme ligado e fui ao corredor do porão, era totalmente silencioso, cheguei na porta e ela se abriu, estremecida desci devagar cada degrau com medo, com medo do que eu encontraria, com medo do espelho, porque eu deveria tomar cuidado com um espelho, ou será que ele quis dizer que talvez, ele é um espelho caro, e para que eu não o quebrasse? Continuei descendo. Estava escuro, mas tinha um clarão no canto, com certeza o mesmo daquele dia, que eu pensei ter visto uma mulher, é claro, eu "pensei" ter visto. Fui até o clarão e algumas luzes acenderam. Dei um pulo olhando para trás, depois me virei olhando para frente se assustando outra vez com minha imagem em um espelho grande que pegava todo meu corpo, mas era uma imagem triste de mim. A volta toda do espelho era banhada a ouro, com certeza é por isso que ele mandou eu tomar cuidado. Voltei a analisar minha imagem apagada e triste, parece que eu via a velha Hilary, quando pisco um olho e pude ver olheiras em meus olhos, e feridas em meus braços, olhei e vi que as feridas só estavam em minha imagem, e não em meus braços, eu só enxergava a velha Hilary, dependente química, com feridas em seus braços, olheiras profundas, cabelo mal cortado, e pulsos cortados. Quando deixei lágrimas escorrerem em meus olhos. Subi correndo as escadas fechando a porta do porão e correndo ao meu quarto se jogando na cama pensando no antigo eu, e mesmo aquela imagem horrível minha, era minha melhor época, aquela que mesmo infeliz, eu me sentia feliz. E que agora só o que restou de mim, foram pedaços repartidos do que eu era. Mexi em minhas gavetas a procura de um canivete ou uma lâmina. Mexi gaveta por gaveta e nada. Peguei meu travesseiro enfiando em meu rosto soltando um berro longo, depois se jogando em minha cama com ódio.

◆◆◆

-Bom dia Hilary! -Falou minha mãe.

Meu pai como sempre, só me olhou assentindo, com desaprovação, comendo sua rosquinha, e Matt sentado no outro canto da mesa tomando seu café em silêncio com um rosto desanimado. E mamãe servindo a todos, assim como sempre, era rotina de todos.

Espíritos MalignosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora