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Jimin observou a mudança gradativa que ocorria na arquitetura local a cada quilômetro que o ônibus percorria. Olhou a sua volta, fora ele e sua companheira sem nome, apenas uma senhora de mais idade estava no ônibus. Algumas luzes já estavam sendo acesas nas casas, umas poucas pessoas saíam as portas para verificar o clima, pegar algo na varanda ou apenas espairecer já logo cedo.

Olhou para o relógio em seu pulso e viu que não faltavam mais que alguns minutos para chegarem a praia de Portobello. Jimin observou o rosto sereno ao seu lado, a cabeça dela encostada em seu ombro, como se já tivesse costume de fazer isso. O cabelo dela tinha um cheiro meio floral, mas não tão doce. Ele havia notado que há alguns minutos ela tinha caído em um sono leve que logo mais ele iria ter que perturbar. Tinha sido ideia dela eles irem até a praia, tinha dito que a um longo tempo não via o mar de perto. E ele também já estava a um tempo sem ver o mar, na verdade, fazia tempo que ele não tinha algumas horas como aquelas que estava passando ao lado dela. Já fazia um certo tempo em que ele havia se tornado o louco do trabalho, pegando encomendas que por pouco não conseguia entregar pela falta de tempo, mas ele achava que precisava encher a cabeça, concentrar em outras coisas.

E esse foi justamente o problema. Ele focou energia e tempo demais, até o que não tinha, em outras coisas ao invés de tentar lidar com toda a reviravolta ocorrida em sua vida nos últimos oito meses. Mas mesmo se enchendo de trabalho, mesmo tentando ocupar sua cabeça a cada segundo do dia, ele não havia conseguido evitar ainda pensar sobre tudo, sobre como estava com raiva, sobre como estava magoado. E mesmo que por dentro ele estivesse uma completa confusão, deixou com que todos a sua volta pensassem que ele estava bem, que nem tinha se machucado tanto. Mas ele tinha, e como tinha. Achou que se tentasse ignorar ficaria melhor, mas a cada dia todo aquele sentimento parecia sufocá-lo, parecia sugar toda sua energia. E foi então que ele encontrou ela, sentada naquele bar, completamente perdida em pensamentos, e quando se aproximou dela, nunca imaginaria que foi justamente a ela que ele segredou e fez piada das suas angústias. Foi mais sincero com ela do que se lembrou de ter sido com qualquer outra pessoa nos últimos meses. E foi bom falar, foi bom porque ela não o olhou com aquela cara de pena, não tentou arranjar desculpas, não tentou fugir do assunto, nem mesmo tentou julgar alguém como completo culpado naquela história. Ela apenas o ouviu. Escutou o que ele tinha para falar, e Jimin não sabia nem colocar em palavras como havia ficado agradecido por isso.

O sol já estava apresentando seus primeiros raios da manhã e Jimin queria voltar algumas horas no relógio. Não queria se despedir dela, queria passar mais algumas horas, talvez alguns dias ao lado dela e descobrir mais sobre aquela desconhecida, começando pelo nome. As horas ao lado dela não foram o suficiente, na verdade, cada minuto só o instigava mais a conhece-la melhor. Ele não parava de se perguntar se ela voltaria atrás e lhe diria como se chamava antes de ir embora, pelo menos para dar uma pista a ele para quem sabe conseguir achá-la de alguma forma. Jimin não queria que ela fosse para sempre só uma lembrança de uma garota sem nome que por acaso conheceu em uma madrugada.

"Ei..."

Ele balançou de leve o corpo relaxado dela, que acordou parecendo zonza com o balanço do ônibus. Ela olhou em volta, observou a paisagem que passava rápido pela janela e passou as mãos sobre os cabelos e sobre o rosto. Ela pegou o braço de Jimin e segurou o pulso dele próximo ao seu rosto para verificar as horas.

"Não dormi nem dez minutos, mas pareceram horas."

Relaxou contra o encosto da cadeira e apoiou a cabeça fitando o rosto de Jimin. Mesmo que estivesse olhando em seus olhos, ela sentia que algo estava ocupando os pensamentos dele, a expressão em seu rosto não estava tão relaxada como antes e uma ruga de preocupação aparecia entre as sobrancelhas dele.

Sob as luzes noturnas de EdimburgoWhere stories live. Discover now