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Ele estava lá, deitado. Como se nada tivesse acontecido. Dormindo em meio a aparelhos.

...

Abigail me consolou depois do ocorrido todo. Ele saiu chutando latas de lixo e foi atropelado por um carro em alta velocidade e apagou. Quebrou o braço, a clavícula, teve cortes pelo corpo inteiro. A família dele já o visitou e agora, eu estava de frente para ele. Eu senti culpa. De verdade. Não tem coisa pior do que sentir culpa de algo terrível que você poderia ter evitado se estivesse no lugar certo na hora certa.  Mas no fim, o mundo não é um romance onde tudo dá certo mo final.

Eu, Camila e Abigail pegamos a estrada principal, ela resolve fazer uma parada num posto de gasolina perto dali. Chegando lá, a chuva começa a aparecer novamente. O clima fica frio e as luzes começam a acender. Abigail desce do carro e vai até a loja de conveniências. Camila vira-se do banco do motorista.

-Rachel, está tudo bem de verdade? -A Camila perguntava sempre dessa forma, porque eu sempre respondia que sim, mesmo que estivesse em lágrimas.

-Eu não sei. Eu não consigo sequer descrever o que eu tenho aqui na minha cabeça.

-Você sabe que não teve culpa de nada disso, certo?

-Não. A culpa foi toda minha. Eu quem quis ficar com o Jason mesmos já tendo criado algo com o Simon.

-Ele nunca tinha se declarado pra você, nunca tinha te prdido em namoro! Como você acha que a culpa é sua? Você não tinha como advinhar.
Ela estava certa, mas na minha cabeça, aquilo não fazia o menor sentido. Eu sabia que existia algo entre eu e o Simon, e joguei fora.

-Eu não quero voltar para o Colégio. -disse.

-Oh Rachel. -Ela se aproximava.

-Eu não quero voltar pra lá. Eu não quero lembrar que aquilo aconteceu. Eu não quero lembrar que fui abandonada pelos meus pais. Eu não quero lembrar que eu estraguei tudo com alguém que realmente me amava. Eu não quero voltar para aquele lugar. Eu não quero lembrar que as pessoas vão ficar olhando para mim. Eu não quero. -As lágrimas rolavam.

No meio da chuva, abigail entrou no carro. Ela me deu uma camisa xadrez bem grande e trouxe salgadinhos, refrigerantes e outras besteiras para comermos.
Ela viu que eu estava chorando e me abraçou. Passava a mão em meus cabelos e me aconchegava.

-Vai ficar tudo bem Rachel. Você vai sair dessa de novo. Só você pode conseguir mudar isso.

Aquilo realmente me tocou.

Fomos de carro com o vidro fechado até a casa da Abigail. A mãe dela nos acolheu e fomos para o quarto dela.
Eu vesti a camisa dela e fiquei de calcinha. Peguei um cobertor.
Ela tinha uma cama de casal e nós três íamos dormir juntas aquela noite.
Elas me abraçavam e frequentemente perguntavam se eu estava bem. Cuidaram de mim, me fizeram sentir que sou especial. E isso é muito bom. É tão bom quando você tem pessoas que sempre estão aqui, do seu lado. Te apoiando, te ajudando. Te mostranto que amor não se resume à uma frase. E sim em ações. Eu confesso que me senti melhor. Eu confesso que eu estava muito melhor. E que queria ficar abraçada com elas para sempre.

No outro dia. Voltamos para o Colégio. Peguei a roupa do dia anterior e voltaríamos pela tarde.
Nesse meio tempo, eu fiquei nos meus fones de ouvido. Escutava idontwannabeyouanymore. Por algum motivo, eu me sentia confortável. E eu, mesmo não querendo voltar pra lá. Sabia que lá era o único lugar que eu tinha. E se eu quisesse algo melhor. Só eu poderia fazer a minha diferença.
Todos nós podemos mudar, mas somos nós quem devemos deixar isso acontecer. Se queremos que algo mude. Temos que fazê-lo. Se precisamos mudar. Mudamos! Só eu posso mudar a mim mesma. Só você pode mudar. E eu estava decidida a querer melhorar. Seja para o que estivesse vindo agora.
Eu não me sentia pronta, mas é isso que é a vida.

O Garoto da BibliotecaWhere stories live. Discover now